A Marvel Studios vai lançar o filme dos Vingandores ano que vem. Os preparativos para ele são produções que contam a história dos heróis vindos das histórias em quadrinhos criadas por Stan Lee. O primeiro foi Homem de Ferro, de 2008. Agora, mais um tijolo é posto nesse muro, com Thor. Tijolo esse, aliás, cheio de falhas e furos, apesar de alguns poucos momentos inspirados.

Thor (Chris Hamsworth) é filho do soberano de Asgard, Odin (Anthony Hopkins) e irmão de Loki (Tom Hiddleston). O reino deles tem um acordo de paz com os gigantes do frio planeta Jotunheim. Thor, o futuro sucessor do trono de Asgard, resolve invadir o mundo gelado, com bravos e leais amigos mais o irmão, para satisfazer o seu orgulho. Sua atitude vaidosa causa um incidente diplomático e, por causa disso, é exilado sem nenhum poder no mundo dos humanos pelo pai, que depois entra em coma. Enquanto isso, Loki tenta virar o soberano de Asgard e, com muito mais vontade, busca a aprovação do pai e a vitória perante o irmão. Na Terra, Thor encontrará Jane (Natalie Portman) e sua equipe, que vão ajudá-lo a voltar ao seu mundo e reconquistar o trono. De quebra, o herói vai aprender valores como humildade e gratidão.
Os momentos cômicos se destacam em Thor. Trechos como Jane atropelando o protagonista, ou como o deste se embebando com o doutor Erik (Stellan Skarsgard), sem esquecer as tiradas da estagiária Darcy (Kat Dannings), mostram o timing cômico do diretor, Kenneth Branagh. Outro acerto dele foi colocar Asgard, fruto da visão de mundo dos vikings, como um planeta distante em vez de um mundo paralelo. Assim, abriu-se a possibilidade de vê-lo como um ambiente multiétnico. Isso não contribui em nada para o desenvolvimento da história, mas não deixa de ser interessante ver lendas nórdicas personificadas em negros e asiáticos. Em Thor vemos, pela primeira vez nos filmes, a força da S.H.I.E.L.D., organização que coordena os Vingadores. Inclusive há uma aparição de Nick Fury (Samuel L. Jackson) depois dos créditos, assim como acontece em Homem-de-Ferro. Já Natalie Portman desempenha o seu papel com a competência absurda de sempre. Mostraria ainda mais por que mereceu ganhar o Oscar deste ano se Jane fosse uma personagem, e não um tipo.
A pesquisadora é uma workaholic, solteirona e desastrada que encontra o amor em Thor. Bridget Jones é menos epidérmico que isso, diga-se de passagem. Mas os problemas não param por aí. A primeira parte, que mostra por que Thor foi banido de Asgard, é maçante, com direito a um sem-número de nomes estranhos que confundem o espectador em vez de situá-lo, o propósito original. Por causa disso, os belos planos-gerais em computação gráfica do mundo, que destacam a imponência do lugar, não sustentam esse primeiro quarto do filme. Segundo a mitologia nórdica, Odin é um deus altivo e irascivo, enquanto Loki se destaca pelo mal-caráter. Foi um acerto abordar o todo-poderoso de Asgard como um homem sábio e autocontrolado. Por outro lado, Loki foi transformado em um sujeito inseguro, rancoroso e cheio de mimimis. O seu gosto por pegadinhas é dito, mas não é mostrado. Depois de vilões complexos como o Coringa de Heath Ledger, fica um pouco difícil encarar um que no fundo só quer a aprovação do pai. Também é difícil engolir a atuação de Hamsworth. O sujeito, uma variação da espécie de brucuts como Dolph Lundgren e Steven Seagal que surpreendentemente consegue sorrir, não consegue passar a emoção necessária em momentos que deveriam nos emocionar, como a redenção cristã (e rasteira) do personagem ou quando não consegue recuperar os seus poderes. Esta frustração dele evidencia um dos inúmeros furos de roteiro de Thor: um sujeito que foi imobilizado com uma simples injeção consegue se infiltrar numa base de pesquisas protegida por supersoldados que usam metralhadoras… Bem, pior que isso, só mesmo a sua rendição e a sua soltura, orquestrada por Jane e feita por Erik.
O filme dos Vingadores é ansiosamente esperado. Thor é cheio de falhas, mas, se não o levarmos tão a sério, se o encararmos como parte de um todo maior, e se nunca nos esquecermos da presença linda e magnética de Natalie Portman, podemos até passar panos-quentes e ver duas horas de nossas vidas passar rapidamente. É preocupante, porém, ver que os filmes de cada vingador estão, em média, muito irregulares. Será decepcionante ver um filme tão aguardado se tornar uma produção óbvia e capaz de empolgar só os fãs dos quadrinhos.
Que venha Capitão América.
NOTA: 6,5