Disney e Pixar se uniram nesta quinta-feira (6) para o anúncio do quarto filme de “Toy Story”. Segundo comunicado das empresas, o lançamento da continuação deve acontecer em junho de 2017 com a direção de John Lasseter, chefão da Pixar responsável pelos dois primeiros filmes da série. Desde já, a decisão se mostra uma das mais equivocadas feitas no cinema deste ano.

Voltemos ao Oscar de 2011. Naquele ano, a Academia escolheu uma das melhores listas dos últimos tempos. David Fincher e Christopher Nolan traziam, respectivamente, os excelentes “A Rede Social” e “A Origem”. Darren Aronofsky conseguiu arrancar a melhor atuação da carreira de Natalie Portman em “Cisne Negro”, enquanto Joel e Ethan Coen fizeram mais uma excelente produção com o remake de “Bravura Indômita”. Mesmo os filmes menos interessantes como “Minhas Mães e Meu Pai”, “127 Horas” e “Inverno da Alma” são acima da média. Já o ganhador “O Discurso do Rei” se sustentava no trio de atores (Colin Firth, Geoffrey Rush e Helena Bonham Carter) para se destacar.

O melhor de todos dos indicados, entretanto, vinha da animação. “Toy Story 3” se tornou uma unanimidade de público e crítica desde o lançamento nos EUA. Quem assistia sabia se tratar de uma obra capaz de emocionar crianças e adultos pelo fechamento de um ciclo iniciado em 1995. Andy cresceu e precisava seguir em frente mesmo que aquilo significasse abrir mãos dos queridos Woody e Buzz. Ficaria a doce nostalgia tanto para aquele garoto quanto para nós, espectadores que aprendemos a amar os brinquedos mais adoráveis criados no cinema. Como não poderia deixar de ser, o filme faturou mais de US$ 1 bilhão nas bilheterias ao redor do mundo inteiro.

A decisão anunciada por Disney e Pixar coloca todo o cuidadoso trabalho do terceiro filme na lata do lixo e trai muitos daqueles espectadores que saíram emocionados das salas de cinema por acreditarem ter visto o fim da história. Claro que as duas empresas pensam nos milhões a serem ganhos nas bilheterias e produtos licenciados ao redor do mundo, porém, certas marcas precisam ser preservadas pelo respeito adquirido ao longo dos anos. “Toy Story” é (ou era) uma delas.

Por melhor que possa vir a ser, “Toy Story 4” abre precedente para uma banalização completa da série com o risco de ser tornar uma obra caça-níquel para todo momento de crise da Disney e Pixar. Entre tantos casos no cinema americano atual (“Atividade Paranormal”, “Duro de Matar”, “Jogos Mortais”, “Velozes e Furiosos”) nenhuma registrou o perigo exato disso como “Piratas do Caribe”.

O primeiro filme surpreendeu Hollywood com uma história dinâmica e um personagem fantástico criado sob medida por Johnny Depp. A bilheteria milionária e a força pop de Jack Sparrow levou a própria Disney a investir em mais três longas da série. Resultado: muitos efeitos especiais, pouca história, dinheiro em caixa (apesar do faturamento das continuações terem decaído com o passar do tempo) e desgaste perante o público. A Disney precisou descansar a imagem de “Piratas do Caribe” para voltar a arriscar no quinto filme previsto para ser lançado em 2017, exatos seis anos depois de “Navegando em Águas Perigosas”.

Se Disney e Pixar queriam aproveitar para faturar uns trocados a mais com Woody&Cia, por que não continuar investindo nas séries de televisão com os personagens ou em aventuras paralelas solo no cinema? Buzz em uma viagem intergalática ou a caubói Jesse em uma aventura de faroeste? Enfim, soluções criativas seriam mais interessantes do que um “Toy Story 4”.

O anúncio ainda serve para escancarar a crise criativa enfrentada pela Pixar desde 2011. Se no fim dos anos 90 e durante toda a primeira década deste século, o estúdio mostrou ser um celeiro de imaginação fértil em Hollywood. Era uma alegria esperar o lançamento do novo filme do grupo como “Procurando Nemo”, “Wall-E”, “UP” e “Ratattouile”. O último grande momento dessa fase foi justamente “Toy Story 3”. De lá para cá, o orgulho de não fazer continuações foi jogado para baixo do tapete com os fracos “Carros 2” e “Universidade Monstros”. “Valente”, única produção com história original, ficaria bem abaixo de qualquer filme da época de ouro. Pelo menos, 2015 reserva uma expectativa de suspiro criativo com a chegada de “Divertida Mente” e “O Bom Dinossauro”. “Procurando Dory”, “Carros 3”, “Os Incríveis 2” e, agora, “Toy Story 4”, entretanto, mostram que a Pixar ainda segue na aposta de continuações.

Verdade seja dita que a infinidade de continuações vista no cinema americano não é exclusiva da Pixar. Com a concorrência do Netflix, da televisão americana em grande momento, da pirataria e dos preços caros dos ingressos, os grandes estúdios de Hollywood apelam para superproduções cada vez mais caras e com figuras conhecidas do público. Não é coincidência tantos filmes de HQ’s surgirem todos os anos ou até a ressurreição de séries como “Star Wars”, “Independence Day” e “Jurassic Park”.

Será preciso muita criatividade de toda a equipe envolvida em “Toy Story 4” para não afundar uma das melhores séries já criadas para o cinema. O dinheiro estará garantindo, mas, e a qualidade: onde fica?