Sabe aqueles filmes cuja premissa você julga ser capaz de adivinhar só de olhar o cartaz, mas na hora H te surpreendem? “Um Amor em Cada Esquina” não é um deles. É uma comédia com Owen Wilson, então você aposta que vai ter charme canastrão para dar e vender. Correto. Tem diversos personagens no cartaz enfileirados, então você presume que a vida de todos eles vai se cruzar. Correto também.

Se parece que estou falando mais das expectativas do que do filme em si, é porque o novo longa de Peter Bogdanovich passa toda sua longa uma hora e meia de projeção desmanchando o mínimo que se espera dele: coerência.

Você ficaria espantado com o nível de ingenuidade do roteiro e, mesmo considerando que tudo é feito para evocar o estilo das comédias americanas dos anos 40, o clima nostálgico não compensa a trama, que parece ter saído diretamente de Woody Allen em um de seus dias menos inspirados dos anos 2000 (e essa foi a década em que ele fez “Melinda e Melinda”, então pense).

É difícil não pensar em Allen durante toda a empreitada: Wilson basicamente reprisa seu personagem em “Meia-Noite em Paris” e as interações dele com a personagem de Imogen Poots tem um quê de “Poderosa Afrodite”, para não falar nas cenas que servem como carta de amor à Nova York.

A gente entende que Bogdanovich, um diretor de destaque do movimento “New Hollywood” e que fez escola em filmes como “Lua de Papel”, quer homenagear clássicos da Era de Ouro do cinema americano, mas não cola. Todo mundo envolvido parece ter feito o trabalho na amizade (“Um Amor” conta com pontas invejáveis) e tentado evitar o fato de que o roteiro simplesmente não funciona.

Para não me delongar nas várias problemáticas, foquemos nesta: por que raios TODOS os personagens principais dão um jeito de se encontrar nos mesmo lugares? Nem nossas novelas chegam a tanto.

Sério, as coincidências são tamanhas que o filme poderia se chamar “Vários Amores nas Mesmas Esquinas”. Sendo assim, confira agora alguns desses lugares incríveis (para simplificar, me referirei aos personagens usando os nomes de seus respectivos intérpretes):

O Hotel Barclays

Owen Wilson e Rhys Ifans estão hospedados nele. Imogen Poots e George Morfogen viram “habitués”. Todo mundo se visita. A vida é uma festa.

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O consultório de Jennifer Aniston

Ela namora Will Forte e é terapeuta de Imogen e Austin Pendleton.

Uma igreja que convenientemente dá um jeito de reunir Imogen, Will, Austin e George.

O Nick’s.

Aparentemente o único restaurante italiano em Manhattan inteira, pois todos os protagonistas decidem comer lá na mesma noite.

O teatro.

Como o filme tem como pano de fundo a produção de uma peça, é normal que todos os personagens se reúnam aqui… incluindo uma cena em que simplesmente TODO O ELENCO se encontra nele para ficar jogando #verdadessecretas um na cara do outro. O filme ganha pontos com uma fotografia charmosa na medida e um elenco que até tenta convencer, mas sucumbe à leviandade de sua proposta.