‘Besteirol’ é um termo pejorativo usado no Brasil para definir um novo tipo de comédia, surgido com a liberalização dos costumes na década de 1970. Trata-se de um humor tresloucado ao extremo, com situações absurdas, tramas que só existem como trampolim para novas gags, e pouco – ou nenhum – respeito pelo politicamente correto. Uma espécie de versão over da comédia nonsense que existe desde os tempos de Chaplin e Keaton.

Ao contrário do que a maioria dos comediantes atuais pensa, porém, é um dos tipos de humor mais difíceis de se fazer – a noção de “absurdo” no cinema é cada vez mais relativa, e, claro, não basta empilhar um monte de cenas de pastelão e recitar alguns diálogos desbocados para fazer um besteirol decente.

Não, é preciso que os diálogos e as situações, de algum modo, sejam frescos e originais (viu como é difícil?), que as cenas de pastelão não pareçam mais do mesmo, e que o filme, de fato, surpreenda e faça rir muito. Quando dá certo, o que é raro, é sensacional. Ainda bem que, mesmo com o politicamente correto à espreita, ainda há espaço para novidades no gênero, como mostra o nosso 2º lugar. Confira agora nossa seleção:

5. Apertem os Cintos… o Piloto Sumiu! (1980)

O filme que iniciou a grande fase do besteirol nos Estados Unidos. Talvez canse um pouco pela sucessão ininterrupta de piadas, mas é um trabalho que se mantém engraçado mesmo passadas três décadas. Traz uma ponta do ícone do gênero: Leslie Nielsen, o homem à frente da séries Corra que a Polícia Vem Aí!.

4. Porky’s – A Casa do Amor e do Riso (1982)

Muito antes de American Pie e de suas dezenas de cópias, já tínhamos um clássico do humor adolescente descerebrado e sacana: Porky’s. Com personagens inesquecíveis, entre eles o nerd Edward “Pee Wee” Morris (Dan Monahan), zoado sem piedade do começo ao fim do filme (nada de bullying aqui) e diversas cenas memoráveis, a obra é um saudoso lembrete do tempo em que o politicamente correto ainda não havia deitado sua tediosa sombra sobre a comédia americana.

3. Debi e Lóide – Dois Idiotas em Apuros (1994)

Os mais recentes mestres do besteirol são dois irmãos americanos, Peter e Bobby Farrelly, que aliam talento e sensibilidade nas câmeras a um impecável timing cômico nos roteiros. Com outro clássico no currículo (Quem Vai Ficar com Mary?, de 1998), a dupla, porém, chegou ao auge no meio dos anos 1990, com um daqueles filmes onde tudo dá certo: gags, trama, direção, caracterização, montagem, elenco… principalmente, o elenco.

Com um Jim Carrey novinho, despontando para o estrelato, e o veterano Jeff Daniels, Debi e Lóide pega e fogo, e nos dá, de cara, algumas das melhores cenas cômicas da década de 1990. Não deixe o título nacional enganar você – isto é comédia (e cinema) de primeira qualidade.

2. Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América (2006)

Numa época em que o besteirol foi reduzido ao pior da comédia (veja o nosso Pior Filme mais abaixo), a provável melhor comédia da década calhou de ser um… besteirol.

Sim, é isso mesmo que você leu. É junto com o melhor do gênero que merece ser colocado Borat, do comediante inglês Sacha Baron Cohen. A premissa já é brilhante: o segundo melhor repórter do miserável país do Cazaquistão (Baron Cohen), Borat Sagdiyev, decide empreender uma viagem aos Estados Unidos para conhecer os costumes do país, fazendo no caminho um documentário – e trazendo a esperança de, quem sabe, convencer Pamela Anderson a ser sua esposa virgem.

Aliando um roteiro inteligente a cenas que abrem novos limites para o ultraje – a briga no hotel entre o protagonista e seu produtor Azamat (Ken Davitian), ambos nus, que o diga –, Borat prova que o gênero ainda pode render grandes filmes, desde que, claro, esteja em mãos talentosas.

1. A Vida de Brian (1979)

Aqui chegamos ao grupo que talvez seja a maior lenda do besteirol: o britânico Monty Python. Com uma carreira voltada exclusivamente à sátira de outros gêneros, do filme de arte ao filme de época, o grupo vivenciou o auge na década de 1970, quando criou clássicos eternos como Em Busca do Cálice Sagrado (1974) e este filme.

A Vida de Brian já começa demolidor para qualquer pessoa certinha e careta: a trama fala sobre Brian, o menino que teve o azar de nascer na manjedoura ao lado de Jesus, e ser confundido com o verdadeiro Messias – com direito a discípulos e a crucificação no final.

São muitas cenas brilhantes para citar aqui, mas duas em particular – a primeira manhã de Brian após perder a virgindade e o musical da crucificação (com o inacreditável refrão “Always look on the bright side of life”, ou “Sempre veja o lado bom da vida”) – merecem estar em qualquer antologia de melhores cenas cômicas da história. Imperdível.

Outros obras importantes do besteirol (e seus títulos maravilhosos):

Corra que a Polícia Vem Aí! (1988)

O Panaca (1989)

Top Gang – Ases Muito Loucos (1991)

Austin Powers – Um Agente Nada Discreto (1997)

American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível (1999)

Quem Vai Ficar com Mary? (1998)

Todo Mundo em Pânico (2000)

Não é mais um Besteirol Americano (2001)

Menção honrosa: o precursor O Professor Aloprado (1963), do verdadeiro pai do besteirol, o grande Jerry Lewis.

O pior:

Deu a Louca em Hollywood (2007)

Uma série que começou bem na década passada, Todo Mundo em Pânico, mostrou o quanto podia ser divertido fazer paródias dos clichês de Hollywood, em meio ao revival do besteirol deflagrado pelo primeiro filme da série American Pie.

Bom, deu certo uma vez.

O problema é que Hollywood, sempre atenta ao sucesso, criou uma verdadeira indústria de filmes besteirol sobre outros filmes, quando a graça ou as ideias originais mal conseguiram sustentar um deles. E dá-lhe mais Todo Mundo Pânico, Uma Comédia Nada Romântica, Espartalhões, Os Vampiros que se Mordam e, mais recentemente, Inatividade Paranormal. Qualquer um desses poderia ser eleito o pior desta lista, mas decidi colocar aquele que me parece o mais medonho de todos, além de ter um título que praticamente explica os demais: Deu a Louca em Hollywood. É. Evite.