O drama colombiano “A Ferrugem” tem como personagem principal Jorge (Daniel Ortiz), um jovem que mora no interior do país e conduz a pequena fazenda da família. Ele é atordoado por visões do pai falecido e também sobre as incertezas sobre ficar ou partir. 

A obra dirigida por Juan Sebastian Mesa foca nas relações de trabalho dessa América Latina interiorana, cada vez mais ameaçada pelo crescimento das grandes metrópoles e reféns do crescimento capitalista que pouco a tem em voga.  

Dentro desse cenário, jovens buscam cada vez mais uma ruptura com o campo, abraçando a vida na cidade como a única opção possível ou até mesmo a opção correta a seguir. 

Jorge é um dos únicos de seu grupo de amigos que decide continuar na pequena comunidade após o término da escola. Esteticamente “A Ferrugem” busca construir um ambiente quase onírico, aproveitando a bela paisagem rural que tem a disposição, junto a planos mais estáticos e que buscam imergir o espectador.  

Esse intuito serve tanto para conversar com os sonhos e visões do protagonista com o espírito do pai, quanto para em si funcionar como uma fuga de uma realidade dura e, ao mesmo tempo, colocar aquele espaço como digno de um sentimento de pertencimento. 

No entanto, essa decisão acaba por esvaziar as motivações e inquietações de seu protagonista. Um jovem em conflito, mas sempre rodeado de uma paisagem belíssima, a ponto de quase transformar o natural (a floresta, o céu) típico dessa área interiorana em algo artificial. 

“A Ferrugem” não convence tanto em sua abordagem mais direta, em seus comentários sobre o trabalho e o fluxo migratório, quanto também deixa de lado as inquietações de seu protagonista e esvazia sua composição imagética. Por fim, há um desejo de abarcar muitas coisas que acaba tornando todas superficiais.

Texto publicado na cobertura do Festival Olhar de Cinema 2022.