O Olhar de Cinema se tornou uma das grandes referências dos festivais de cinema no Brasil chegando à edição de número 11 neste decisivo ano de 2022.

De volta ao presencial, depois de dois anos de distanciamento, o Olhar de Cinema ocorreu pela primeira vez em formato híbrido também atento à demanda de cinéfilos e críticos do Brasil inteiro.

Para conversar sobre esta experiência desafiadora, o diretor artístico e cofundador do Olhar de Cinema, Antônio Gonçalves Jr revelou bastidores do festival, a geração de empregos e o processo de seleção dos filmes neste bate-papo com o Cine Set. 

Cine Set – Como foi a criação do Olhar de Cinema?  

Antônio Gonçalves Jr. – Curitiba enfrentou um término de três eventos ligados a cinema entre 2009 e 2010. Como temos uma produtora de filmes, circulávamos mundo afora e ficávamos impressionados como Curitiba, uma cidade de 2 milhões de habitantes, rica para os padrões brasileiros e com um PIBs alto do Brasil, não tinha um festival de cinema.  

Foi justo nesta época que as primeiras ideias para o Olhar de Cinema começaram a ser debatidas, mas, a edição inicial só aconteceu mesmo em 2012. A proposta era fazer uma pequena mostra, trazendo filmes que estavam em eventos pelo Brasil e mundo afora para Curitiba com base nos eventos que participávamos.   

Logo no primeiro ano, entretanto, já foi um volume grande de produções enviadas, pois, havia um espaço claro de crescimento pela ausência de outros festivais. Desde então, buscamos nos aprimorar cada vez mais. É importante para o Olhar de Cinema que seja visto como um espaço respeitoso e agradável para o público, imprensa e, especialmente, realizadores, motivando-os a lançarem suas produções aqui. Trabalhamos de forma contínua para que seja um local para o cinema fruir repletas de trocas. Tudo isso dentro das características de Curitiba, afinal, as pessoas vão muito aos cinemas durante o inverno.  

Quanto ao período do ano, acabou sendo estratégico fazer em junho, pois, no circuito dos festivais brasileiros, o primeiro semestre fica apenas com Mostra de Tiradentes, É Tudo Verdade e o Olhar de Cinema. O resto acontece um atrás do outro a partir do segundo semestre. Apesar de todo o crescimento, o evento ainda mantém muito da essência da primeira edição.  

Cine Set – Quantas pessoas estão envolvidas na realização do Olhar de Cinema?  

Antônio Gonçalves Jr. – Somente na equipe mais fixa do festival são quase 60 pessoas e temos ainda outros 60 voluntários. Logo, de equipe direta, são 120 profissionais e indiretamente mais de 1000 pessoas.   

Foto: Marcelo Deguchi / Olhar de Cinema IG

Cine Set – Sobre os filmes selecionados: o Olhar de Cinema tem algum tipo de padrão seja de estética ou linguagem? 

Antônio Gonçalves Jr. – Nossa principal busca é por filmes que fujam do lugar comum que tanto estamos acostumados a ver nas salas de cinema. No circuito comercial, você praticamente não vê diferença entre as opções ali disponíveis. Logo, temos o intuito de trazer obras capazes de oferecer novas formas de trabalhar o cinema, de propostas de cinematografias, linguagens, temas, países, visões diferentes.   

Se não é um festival que ofereça isso, dificilmente, achará outro lugar onde encontrará obras do tipo durante o ano. O nome, inclusive, parte desta proposta de trazer estes olhares e permitir os encontros.   

Cine Set – A edição deste ano intercala o evento físico com as exibições online. Isso será mantido para os futuros Olhar de Cinema ou será a última vez? 

Antônio Gonçalves Jr. – Fazer 100% online é muito triste, mas, ao mesmo tempo, traz coisas legais. Há muita gente que não pode vir em junho para Curitiba e tem esta oportunidade do meio digital. Neste ano, estamos ainda mais no virtual, pois, vimos que o público existe de todo o Brasil.  

Estamos sempre tentando aprimorar e, em 2022, é a primeira vez que fazemos no formato híbrido nestas dimensões. As oficinas, os seminários e 53 filmes, quase metade da programação, estão online. Para o Olhar de Cinema, é um caminho que veio para ficar. Aprendemos o físico durante oito anos, o online por dois e, agora, chegou a vez de conhecer o híbrido. 

Entrevista publicado na cobertura do Festival Olhar de Cinema 2022.