Quando se é um adolescente no cinema americano, você parece estar limitado a algumas opções: ou você é a estrela de uma comédia bobinha, geralmente de cunho sexual (desde Porky’s – A Casa do Amor e do Riso a American Pie) ou é vítima de um psicopata em um filme de terror (vide A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13 ou Premonição). São poucas as vezes em que vemos alguém retratar a adolescência de forma mais ousada – casos mais recentes incluem As Vantagens de Ser Invisível, Boyhood, a sátira de Meninas Malvadas ou a sensibilidade dos bons filmes de Gus Van Sant.

Talvez por isso, mesmo depois de mais de 30 anos, o nome de John Hughes ainda é considerado a principal referência quando se fala em filmes adolescentes. Nem mesmo a vibe de anos 80 foi capaz de diminuir o culto do público a filmes como Gatinhas & Gatões, A Garota de Rosa-Shocking e Curtindo a Vida Adoidado. O talento de Hughes para traduzir a essência do jovem norte-americano oitentista deu voz a um público que enfim pôde se identificar nas telonas do cinema. Entre tantos títulos em sua filmografia, Clube dos Cinco talvez seja aquele que mais represente esse status de “clássico de uma geração”. Por isso, resolvemos listar aqui 5 motivos que fazem do filme um clássico fundamental sobre a adolescência.

1. O roteiro

Sem garotos espionando garotas no chuveiro, sem baile de formatura, sem aulas regadas a fofocas, sem líderes de torcida durante um jogo qualquer, sem apostas para o popular ficar com a nerd. Toda a ação de Clube dos Cinco se dá no espaço de apenas um sábado, em que cinco adolescentes estão confinados numa escola praticamente vazia durante a detenção. O que poderia ser um filme entediante se beneficia do roteiro de John Hughes (e também dos improvisos do elenco) para se tornar uma enxurrada de bons diálogos, que desencadeiam vários conflitos entre os personagens. Entre várias discussões, família, deslocamento, aceitação e solidão são alguns dos temas abordados, de forma natural, sem ter que recorrer a nenhum grande artifício.

2. Os personagens

O grande trunfo de Clube dos Cinco, aliás, é assumir seus personagens como estereótipos conhecidos – o atleta, a patricinha, o nerd, a desajustada e o marginal – para, contrariando as expectativas, desconstrui-los e humanizá-los. Como o próprio Andrew (Emilio Estevez) afirma a certa altura do filme, “Nós todos somos bizarros. Só que alguns são melhores em esconder”. A dinâmica entre os personagens os leva a gradualmente se revelar uns aos outros, expondo as contradições de ser adolescente e, às vezes, a necessidade de ter que escolher um “rótulo” para si e conseguir sobreviver no “sistema de castas” do ensino médio.

3. John Hughes e os detalhes

A trilha sonora pontual, a citação de David Bowie, os planos-detalhe da abertura e as tomadas abertas que revelam a pequenez dos personagens na imensidão da escola. A direção de John Hughes é certeira, prestando atenção aos detalhes e conferindo também uma estrutura peculiar ao filme. Não há grandes surpresas e revelações em Clube dos Cinco, mas sim momentos que explodem de energia e interlúdios surpreendentemente melancólicos, todos concatenados com primor por seu diretor.

4. Judd Nelson e o “Brat Pack”

Ok, Judd Nelson se dispõe a realmente roubar a cena na pele do marginal rebelde cheio de sarcasmo John Bender – e, apesar de suas doses de sexismo me incomodarem hoje em dia, não há dúvidas de que as melhores tiradas são dele. Isso não significa que o restante do elenco fica atrás: o chamado “Brat Pack”, apelido dado ao grupo de atores que frequentemente protagonizava filmes adolescentes, dá as nuances certas aos seus personagens, cada um a seu modo. Molly Ringwald, queridinha de John Hughes, atribui complexidade à filhinha de papai; Anthony Michael Hall é um nerd melancólico e deslocado; Ally Sheedy consegue passar boa parte do filme caracterizando-se apenas com olhares e gestos peculiares, sem nenhuma palavra. Por encarar de forma tão honesta seus papeis, o grupo se tornaria ícone do cinema adolescente norte-americano.

5. A atemporalidade

Quem nunca se identificou com todo esse drama de viver o ensino médio? Não foi à toa que a Sessão da Tarde reprisou tantas vezes “as aventuras dessa galerinha aprontando altas confusões”. Trinta anos se passaram, mas os arquétipos que vimos em cena ainda existem a seu modo – a adolescência continua sendo fonte de muita confusão para quem passa por ela, com a diferença de que agora populares têm mais seguidores também em redes sociais e o bullying virtual tem tanta força quanto. A verdade é que, apesar do figurino e da ambientação dos anos 80, Clube dos Cinco continua atual para quem assiste hoje – afinal, mais do que um retrato da geração da “década perdida”, é um estudo de personagens bem familiares a qualquer um.