E se não fosse necessário um rótulo para definir um casal de amigos? Essa construção e desconstrução de rótulos marca a amizade de Mari (Caroline Abras) e Caio (André Antunes) no filme “Alguma Coisa Assim”, que estreia no dia 26 de julho nos cinemas. O Cine Set acompanhou a coletiva de imprensa com os diretores e o elenco direto de São Paulo.

Ao primeiro momento, a ideia se parece clichê: amigos que se encontram de anos em anos e descobrem mais sobre si mesmo. Nas mãos dos diretores Esmir Filho e Mariana Bastos, porém, a ideia sai do local comum e retrata a fluidez das decisões da vida de uma forma íntima e impactante na tela.

Quem assiste se identifica nos personagens que brincam com as incertezas diante do amadurecimento, colocando para a gente questões como se é necessário ter uma definição para tudo ou se podemos apenas deixar as coisas acontecerem.

A própria relação dos amigos torna-se cada vez mais curiosa durante o filme. “Ela [Mari] tem esse sentimento diferente por ele e vice-versa. Os dois tão fluidos ali, mas a coisa não fica clara, não tem um nome, então, é difícil ter um espelho social. É difícil sacar o que vale e o que não vale”, explicou Esmir, salientando que o filme não pretende afirmar ou ditar o correto, apenas compartilhar os questionamentos. É essa constante transformação de ‘’alguma coisa assim’ que dá nome ao filme.

O nascimento do longa

“Alguma Coisa Assim” é a continuação do curta homônimo lançado e premiado em Cannes no ano de 2006. Agora, a narrativa continua a trama mostrando novos encontros dos amigos em 2013 e 2016.

Inicialmente, a ideia era produzir um novo curta para a continuação, que inclusive chegou a ser gravado em 2013, mas, a história se tornou tão rica que acabou virando um longa. Os diretores e os atores contam que a própria amizade deles refletiu na construção da história, já que, além das idades próximas dos personagens, o longa acaba discutindo sobre questionamentos e amadurecimento dos envolvidos.

“Sete anos depois do primeiro filme, a gente se encontrou numa mesa de bar e nos perguntamos: o que aconteceria se esses dois personagens se encontrassem de novo? Já pararam para pensar que a Rua Augusta não é mais a mesma? Cadê aqueles neons? O que está acontecendo com essa cidade, esses prédios?”, conta Esmir relembrando o cenário da narrativa do curta de 2006.

Agora, onze anos depois, “Alguma Coisa Assim” se passa em São Paulo e Berlim. Com um intimismo sempre presente, a trajetória de Mari e Caio também é refletida em outros componentes em tela como as duas cidades e a trilha sonora. Os elementos nos contam, de forma sensorial, a construção e desconstrução interna que Caio e Mari estão vivendo. Esta sonoridade, inclusive, costura o filme para que as transições entre os acontecimentos ocorram de forma consistente.

E apesar se ser baseada em sons eletrônicos e barulhos de obras, a trilha traz um toque sutil e intimista ao longa. A gente construiu etapas da obra que a gente só mostra ela por inteira no fim, mas, a todo momento, tem uma britadeira. O tempo indo e vindo, coisas sendo construídas, desconstruídas, fragmentadas”, exemplicou Esmir.

“É tipo uma fenda no tempo”

A relação entre Caio e Mari não precisa de definição. O roteiro, aliás, não faz questão de nos explicar isso, o que não impede a rápida identificação com os dois. Muito disso graças à química e as atuações de André Antunes e Caroline Abras.

Falando em Caroline, o primeiro trabalho da carreira dela aconteceu justamente no curta de 2006. A atriz, que na última quinta-feira (19) recebeu indicação no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2018 pelo filme ‘Gabriel e a Montanha’, conta que voltar ao papel é gratificante.

“Quando eu penso que parecia uma brincadeira a gente começar no cinema juntos, meio brincando de atuar, brincando de colocar alguns temas. E, de repente, isso acarreta em carreira, profissionalismo, onde as nossas ideias são assistidas, questionadas. É muito gratificante e muito legal. Isso fortalece ainda mais a mim como artista e a minha vontade de me expressar artisticamente”, contou.

Para voltar a pele de Mari nas telas, Caroline explica que realizou muitas autoanálises com os temas do filme durante o processo de produção, principalmente, por esbarrarem em escolhas pessoais da atriz. Mesmo com o equilíbrio dos dois atores em cena, questões feministas ganham protagonismo na trama e Caroline não deixa a desejar: a atuação dela em um dos momentos mais memoráveis do longa é um dos pontos altos de “Alguma Coisa Assim”.

Aborto, novas possibilidades de relacionamentos e configurações familiares fora do padrão tradicional são alguns dos temas questionados em “Alguma Coisa Assim”. De acordo com a diretora Mariana Bastos, a ideia era que a discussão não fosse panfletária, além de possibilitar ampliar a discussão ao trazer como estes mesmos assuntos são debatidos fora no Brasil e no exterior, no caso, a Alemanha.

“A gente sabia que grande parte da trama de “Alguma Coisa Assim” se passaria no nosso país, porém, nos interessamos sobre como funciona o tema do aborto em um lugar como a Alemanha. Isso sem levantar bandeira ou ser panfletário, mas, levando ao público uma reflexão sobre se a mulher tivesse escolha em qualquer situação”, finalizou a diretora.

O filme “Alguma Coisa Assim”, de Esmir Filho e Mariana Bastos, estreia dia 26 de julho nos cinemas.

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fotos: Sinny Assessoria