Resultado de um projeto do curso de Tecnologia em Produção Audiovisual da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), “Amém” é um interessante exercício minimalista, construindo um crescendo trágico com apenas dois personagens, um carro e a força dos diálogos. Dirigida por Bernardo Ale Abinader, de Os Monstros (2015), a produção consegue extrair, se não um filme memorável, ao menos um belo saldo do trabalho com os atores – de longe a maior deficiência enfrentada pelo cinema local.

Diego Leonardo e Emerson Nascimento vivem dois pastores que se vêem parados numa estrada após um defeito no carro em que andavam. A situação pode ou não ter sido premeditada por André (Leonardo), mas este a usa para colocar Renato (Nascimento) contra a parede, numa série de confrontamentos que a princípio parecem ser sobre uma suspeita envolvendo Renato e a esposa de André (Caroline Nunes), mas que na verdade tem a ver com algo mais profundo entre os dois.

Primeiro, é preciso elogiar a decisão de basear um filme em diálogos, um gesto ousado dentro do cinema amazonense, tão prejudicado pela carência de atuações “para cinema”, sem a ênfase exagerada e a impostação típicas do teatro. Embora ainda não tenha superado esse problema – certas falas soam artificiais, e a própria enunciação dos atores dá escorregadas no registro teatral –, Abinader dá um passo na direção certa, escrevendo diálogos coloquiais e preservando esse tom na transposição para a tela. O realizador também consegue fazer bom uso da curta duração, concentrando a carga dramática em desdobramentos sutis, ainda que previsíveis.

Apesar disso, Amém soa estridente, determinado a atacar certas mentalidades. Sua tentativa de desconstrução de pastores evangélicos – um alvo não muito difícil –, com um aceno para as ideias de “meritocracia” à brasileira (da qual os pastores seriam o exemplo) e da violência como solução para a criminalidade (“por mim, matava tudo”) são mais importantes no filme do que a criação de personagens e conflitos com verdadeira complexidade. Quando conseguir unir bons personagens e arcos dramáticos a seu talento para a mise-em-scène – algo que já chamava a atenção em Os Monstros –, Abinader vai se destacar na produção amazonense atual.