O primeiro filme de Bernardo Ale Abinader, “Os Monstros”, é um trabalho que exige a empatia do público. Em seus quase 20 minutos de duração, o curta prende o espectador ao passo que explora, com um rico mise-en-scène, a angústia do reencontro de um ex-casal.

Angústia, a propósito, é a sensação que sai da tela já nos primeiros segundos de filme, com o choro desesperado de Clara (Carolinne Nunes). Em “Os Monstros”, acompanhamos quando ela revê Guilherme (Victor Kaleb), um ex-namorado que agora está em outro relacionamento. O reencontro, dentro do apartamento que ele divide com a nova namorada, é pontuado por tensão, nostalgia, melancolia e confronto.

Como falei acima, é o mise-en-scène que salta aos olhos de quem assiste ao curta. Abinader cria um ambiente teatral ao mesmo tempo em que acentua a distância entre os dois personagens dentro de um espaço pequeno. O desenvolvimento dos personagens é enriquecido pelos rápidos flashbacks que ajudam a construir a história sem que o roteiro precise apelar para diálogos expositivos.

O design de produção também é digno de nota, com a abundância de fotos do novo amor de Guilherme, favorecido pelos planos-detalhe, exagerados, porém bem-vindos, já que, novamente, dão ao espectador os recursos necessários para criar laços espontâneos com a protagonista. Finalmente, não deixa de ser irônica a presença de um item de decoração com os dizeres ‘tudo o que você precisa é amor/amor é tudo o que você precisa’, da canção dos Beatles, lição essa que ainda parece grego para o personagem masculino.

Em sua estreia, pode-se dizer que Bernardo Abinader (que também assina o roteiro) mostrou maturidade artística ao brincar com as simplicidades e as nuances da insegurança – alheia – que transforma o amor nas dolorosas lágrimas derramadas por Clara.

• LEIA TAMBÉM: Entrevista: Bernardo Abinader