“Qual é a sua estrada? […] Há sempre uma estrada em qualquer lugar, para qualquer pessoa, em qualquer circunstância. Como, onde, por quê?”. Dessa forma, o escritor da Geração Beat, Jack Kerouac, exaltou as características de sua experiência na estrada em sua obra ‘On the Road’. Tratando da mesma temática, no dia 19 de junho, a Artrupe Produções Artísticas lança seu mais novo curta-metragem, ‘Aquela Estrada’, de Rafael Ramos. O road movie conta a história de Omar, que sai em uma viagem pela estrada com pessoas desconhecidas, em busca de respostas e um novo ânimo para a vida.


O início

Inicialmente intitulado ‘E Se Essa Estrada Não Levar a Lugar Nenhum’, o curta teve os primeiros rascunhos realizados em 2013. Na época, Rafael Ramos fazia um curso de roteiro em São Paulo e já alimentava a ideia de escrever sobre a aventura de sair por uma estrada afora. Segundo ele, a temática teve origem das próprias memórias com os pais. “Fizemos várias viagens de carro quando era mais novo. Muitas dessas idas e vindas foram viagens escutando e conhecendo todo tipo de música, desde os Beatles a Bob Dylan, vivenciando outras realidades”, declarou.

Até ser tirado do papel e posto em produção em 2015, Rafael Ramos foi desenvolvendo a narrativa cinematográfica, “criando dilemas, conflitos, tornando o trabalho mais robusto”, afirmou. Porém, no hiato entre a construção do roteiro e a produção de ‘Aquela Estrada’, o diretor produziu outros dois curtas-metragens – “A Segunda Balada” “A Menina do Guarda-Chuva”.

Danilo Reis em cena de Aquela Estrada

Busca pelo sensorial

A fim de recuperar a ideia, o diretor retomou ao ponto de sua inspiração: a estrada. “Isso foi fundamental para o processo criativo, de repensar na estrada e a ligação que ela exerce no indivíduo e a cidade”, contou. O roteiro passou a ser construído “sem uma trama, sem ‘historinha’, pensando muito em sensações. Queria que fosse uma explosão de sensações”, afirmou.

Para encorpar a ideia de sensações, o realizador audiovisual Zeudi Souza foi convidado para realizar a preparação com os atores, já que o filme envolveria um grupo de amigos na estrada. “A preparação foi essencial para a construção dos personagens, colocar o ator de corpo e alma no universo atmosférico do filme e mostrar como essa atmosfera vai reverberar em seu corpo”, contou. Para Rafael, todo o processo do filme exigiu grande capacidade de improvisação.

Dessa forma, o roteiro foi sendo formulado simultaneamente à preparação dos atores. “O processo foi intenso. Foram meses de preparação até que os atores encontrassem o ritmo de seus personagens”, afirmou Zeudi. “A improvisação utilizada na preparação funciona como processos de imersão, aproximação e experimentação; o ator de cinema deve conhecer seu corpo em todas as instâncias, e o método faz com que o ator experimente esse corpo, a voz e a presença”, complementa.

O sensorial também foi trabalhado na concepção imagética de “Aquela Estrada”. Juntamente com o diretor de fotografia do filme, César Nogueira, Rafael Ramos estabeleceu um exercício de conexão. O fotógrafo recebeu a tarefa de ler uma obra de Pedro Juan Gutiérrez e Pablo Neruda, respectivamente, e tirar fotos que se encaixassem e expandissem trechos dos textos, carregando nas imagens as sensações provocadas pela literatura. Segundo César Nogueira, o exercício “contribuiu para aprofundamento no clima do filme, que pedia muitas cenas ao sabor do momento”, afirmou o integrante da Artrupe Produções Artísticas, salientando ainda que foi preciso “adaptar-se e abraçar situações”.

Jéssica Amorim em cena de Aquela Estrada

Inspiração e pós-produção

Um dos fatores que impulsionou o diretor a trabalhar as sensações em “Aquela Estrada” está presente no filme “O Céu de Suely”. “Queria imprimir um retrato semelhante ao feito pelo Karim Aïnouz de transpor pra tela o universo do interior do Nordeste. Toda a endemia, singularidade do ‘caboco’ que vai para a estrada, o choque do urbano com o interior, a riqueza de costumes e contrastes visuais que permeiam o Amazonas”, afirma Rafael.

Considerando a construção do filme como “um processo anarquista”, Rafael Ramos analisa que tanto o elenco quanto a equipe técnica se envolveram profundamente no filme. Para o diretor, isso levou a uma construção e contornos diferentes dos propostos quando ainda atendia pelo título de “E Se Essa Estrada Não Leva a Lugar Nenhum”.

A liberdade oferecida aos atores para improvisar diálogos e situações “resultou em um tempo prolongado de filmagem no set, que precisou ser enxugado na montagem”, contou o diretor, que “fazia um corte, dava um tempo no material, depois retornava pra assistir. Até chegar ao corte que agradasse”, revelou.

Depois das gravações, o filme passou quase um ano pra ser montado devido ao envolvimento em outros projetos e, também, pelo fato de que o diretor nunca ficava satisfeito com o corte, optando por assumir a montagem do filme. “Mas essas pausas foram fundamentais para o entendimento do filme”, afirmou.


O diretor

Tendo dirigido três curtas-metragens, Rafael Ramos acredita que a prática e a repetição trazem o amadurecimento técnico e artístico. Atualmente, ele está morando em São Paulo, onde estuda direção de cinema.

“A estrada é longa e eu tento me encontrar, entender qual é o meu cinema e, ao mesmo tempo, amadurecer como artista”, disse.

SERVIÇO

O QUÊ: Lançamento de ‘Aquela Estrada’

QUANDO: 19 de junho (domingo)

ONDE: Teatro da Instalação, Rua Frei José dos Inocentes – Centro

HORÁRIO: 18h30

ENTRADA GRATUITA