ATENÇÃO: Está no título, mas vale lembrar: o texto a seguir contém spoilers sobre “Batman vs Superman: A Origem da Justiça”. Leia por sua conta e risco 😉

Depois de tanto marketing pesado e muita expectativa (para o bem ou para o mal), Batman vs Superman: A Origem da Justiça finalmente chegou às salas de cinema esta semana, marcando o primeiro passo mais largo da DC Comics em estabelecer seu universo cinematográfico, seguindo a concorrente Marvel. A recepção do filme foi, no mínimo, dividida: enquanto os números da bilheteria foram mais do que positivos, o longa tem amargado críticas negativas em massa – no Rotten Tomatoes, por exemplo, o longa de Zack Snyder conta apenas com 29% de aprovação no momento.

Aqui no Cine Set, o nosso crítico Danilo Aerosa também já fez sua análise sem spoilers do filme, mas hoje resolvemos explorar mais alguns detalhes da trama e decisões do longa, para quem aproveitou o feriadão e já conferiu o filme ou para quem simplesmente não se importa. Portanto, aqui vão algumas das coisas que gostamos e detestamos em Batman vs Superman, e o que isso significa para o futuro da DC nos cinemas – tudo com spoilers!

O que amamos


Como roubar a cena toda para si, com Mulher-Maravilha

Esse parece ser o único quesito unânime de Batman vs Superman. Não é à toa que os aplausos no cinema são recorrentes quando a Mulher-Maravilha enfim entra em cena na grande luta do final (ainda que o trailer tenha estragado a surpresa): driblando o pouco tempo de tela e um roteiro que não se preocupa em encaixá-la organicamente na história, a personagem é um sopro refrescante em meio a tanta testosterona. Gal Gadot, inicialmente criticada pelos fãs por ter sido escolhida para o papel, defende bem a heroína, como uma guerreira badass que, com um simples sorriso no meio da luta, já transmite muito mais que os personagens-título e deixa o gostinho de “quero mais” para seu filme solo.


Batman da pancadaria, Bruce Wayne detetive

Manipulações de Lex Luthor à parte, o novo Batman do universo DC traz alguns elementos novos e bem construídos. Inspirado principalmente na seminal HQ O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, o herói surge aqui numa versão mais violenta e desacreditada da humanidade, que chega a atingir extremos de paranoia e psicopatia, com uma atuação surpreendentemente eficiente de Ben Affleck. Além disso, o lado “Sherlock Holmes” do personagem também ganha espaço, quase fazendo valer seu título de maior detetive do mundo nos quadrinhos – isso se, claro, ele não caísse mesmo assim nas artimanhas de Lex. Ainda assim, o filme acaba sendo mais do Batman do que do Superman – e a abertura noir, trazendo uma outra perspectiva da batalha final de O Homem de Aço, é eficiente ao menos para estabelecer o herói, mesmo que ninguém aguente mais ver Thomas e Martha Wayne sendo assassinados.


Lex Luthor, trapaças e conspirações

Ok, o Lex Luthor de Jesse Eisenberg é perigosamente próximo de uma caricatura bizarra da personalidade do vilão, mas Eisenberg decide ir em frente com essa persona mesmo assim, como se ainda estivesse preso em um roteiro cheio de diálogos rápidos de Aaron Sorkin. Estranhezas à parte, uma vez que aceitamos esse “novo Lex”, o filme ao menos acerta em pintá-lo como um “gênio do mal” que trabalha nos bastidores, com artimanhas voltadas a transformar o Superman em vilão aos olhos da sociedade – a explosão no Senado é um momento particularmente bom, por exemplo. Os desdobramentos podem nem sempre ser satisfatórios ou inteiramente lógicos em retrospecto – por que se dar ao trabalho de colocar os heróis para brigar se o Apocalipse vai ser jogado no mundo convenientemente? –, mas as ideias para o personagem, adicionando um tom de conspiração e de noir ao filme, são no mínimo interessantes.

O que odiamos

Wallpaper de Batman vs Superman

Roteiro confuso, soluções fáceis

O grande problema de Batman vs Superman é ser um filme inchado que, mesmo com longas duas horas e meia, ainda assim consegue soar apressado, apostando em desenvolvimentos rasos. Há muitas responsabilidades em jogo: ser uma sequência para o infame O Homem de Aço, introduzir o novo Batman e a Mulher-Maravilha, estabelecer os princípios do universo cinematográfico da DC… e nenhum desses objetivos é bem alcançado. O esperado confronto entre os heróis, por exemplo, é uma luta de cerca de dez minutos recheada de CGI que é interrompida pelo pior recurso possível: uma confusão com o fato de que Bruce Wayne e Clark Kent têm mães com o mesmo nome. Fica a sensação imediata de que nada aconteceria se dois garotos mimados tivessem simplesmente conversado.

Da mesma forma, as sequências de sonhos dos personagens são desnecessárias e não acrescentam nada à trama. O pesadelo distópico de Bruce, por exemplo, só serve para abrir espaço para uma aparição surpresa do Flash, mas de maneira tão confusa que o easter egg quase se perde. Estratégia tão preguiçosa quanto é a apresentação dos outros membros da Liga da Justiça: Diana Prince/Mulher-Maravilha recebe um e-mail com os arquivos de Lex roubados por Bruce, e entre eles vimos uma foto da guerreira amazona de cem anos atrás e vídeos de segurança expondo Flash, Ciborgue e Aquaman. Parece merchandising de novelas da Globo, e Lex Luthor se deu até ao trabalho de já criar uma identidade visual para cada um dos heróis no Illustrator. Um tempo vago nos seus planos malignos, certamente – e um tempinho que Chris Terrio e David S. Goyer podiam ter usado para aparar as arestas desnecessárias de sua história e polir seu roteiro.


Superman e a morte de Clark Kent

Para um filme que se propunha a ser a continuação da nova incursão do Homem de Aço nas telonas, agora na pele de Henry Cavill, Batman vs Superman deixa muito a desejar. Mais uma vez, a produção parece não entender o personagem que tem nas mãos, e repete basicamente o mesmo conflito do filme anterior, numa redundância aborrecida: a dicotomia homem-deus de Superman e o medo e esperança que ele inspira. Por isso, a decisão de matar o herói no final, numa clara referência à clássica HQ de Dan Jurgens, parece menos ousada do que deveria, por dois fatores: um, torna Clark Kent oficialmente morto, excluindo assim de vez o lado humano já subutilizado do personagem; e dois, perde em bagagem emocional simplesmente pelo fato de que sabemos que não é uma morte definitiva. Afinal, ainda temos mais filmes pela frente, como a terra se mexendo em cima do caixão antes dos créditos finais rolarem faz questão de nos lembrar.


A ação

Montagem confusa, muita poeira, tanta escuridão que é quase impossível enxergar, CGI, CGI e mais CGI. Tirando os movimentos da Mulher-Maravilha e sua habilidade com espada, laço, escudo e qualquer outra coisa em mãos, nem vale a pena tanto discutir esse ponto – ele fala por si mesmo.


Zack Snyder

Watchmen, Sucker Punch, O Homem de Aço… a cada filme que passa, Zack Snyder se mostra ainda mais incapaz de compreender os personagens da DC – vide a decisão de fazer o Superman matar o General Zod no filme anterior –, e cada vez mais obcecado por emprestar ao universo fílmico da editora um tom claramente mais sério e épico que o da sua concorrente, mas que sofre em se estabelecer por ter um alicerce mal construído. O que a Warner está esperando para detê-lo, eu ainda não sei.

O que esperar: o futuro da Liga da Justiça nos cinemas

Entre sucessos e fracassos, uma coisa é fato: a Warner/DC não vai deixar de tentar correr atrás do prejuízo. O universo cinematográfico da produtora já começou atrasado em relação ao da Marvel, e claramente se ressente por não ter uma mente condutora por trás dos filmes como um todo. Nesse ponto, se, por um lado, o controle criativo da Marvel limita decisões artísticas de diretores (vide o caso de Edgar Wright e Homem-Formiga), por outro, garante consistência ao conjunto e um olhar mais adiante, o que ainda não se viu nos filmes da DC.

Mesmo com todos os seus problemas, Batman vs Superman: A Origem da Justiça dá partida para os filmes que virão a seguir: o próximo deles, Esquadrão Suicida, já chega em agosto deste ano, e Mulher-Maravilha estreia em 2017, sob a direção de Patty Jenkins (Monster). Entre os outros lançamentos previstos, estão Liga da Justiça – Parte 1 (novembro de 2017) e Parte 2 (junho de 2019), The Flash (março de 2018), Aquaman (julho de 2018), Shazam! (abril de 2019), Ciborgue (abril de 2020) e Green Lantern Corps (junho de 2020).

O caminho aqui é claramente o inverso: se a Marvel apostou em desenvolver seus filmes-solo primeiro, a Warner/DC apresentará antes a Liga da Justiça ao mundo para só então desenvolver as histórias individuais. Entre tantos easter eggs deixados pelo filme, alguns já indicam os rumos que o universo fílmico deve seguir: o principal deles é a suposta aparição de Darkseid, o provável “demônio” a quem Lex Luthor se refere no fim do longa. Darkseid inclusive inspirou a criação de Thanos, o vilão para quem a Marvel já prepara terreno desde o primeiro Os Vingadores – ou seja, é peixe grande para uma batalha de proporções épicas. Se o resultado pode sofrer dos mesmos problemas de Batman vs Superman, talvez ainda seja cedo para afirmar. Por enquanto, Zack Snyder está no comando dos dois filmes da Liga da Justiça. Resta saber de que forma a repercussão de Batman vs Superman vai impactar na franquia como um todo, o que provavelmente veremos nos próximos meses, ou próximos volumes dessa já enorme saga. No momento, o gif a seguir resume a situação:

DC after reading the bad Batman v Superman reviews redux