Exercícios de gênero inundam os cinemas regularmente. Se o found footage foi sucesso no início do século, hoje em dia, o iHorror brinca com os temores das redes sociais e da hiperconectividade. “Buscando…” é o novo exemplar e, diferente de “Amizade Desfeita”, mostra-se um suspense bem construído e eficiente.

Ambientado todo literalmente através da tela de computador, “Buscando…” começa quando David Kim (John Cho) acorda pela manhã e se dá conta que a filha não voltou para a casa. Ao buscar ajuda do irmão e da polícia, ele vai vasculhando os perfis de internet da filha e descobre que talvez a jovem tivesse uma outra vida e escondesse muitos segredos.

Uma narrativa que poderia soar monótona e sem muita criatividade ou até mesmo mais justificada em um curta-metragem, aqui se faz exatamente o oposto. O diretor Aneesh Chaganty prova saber utilizar muito bem uma área de trabalho para contar a história do desespero de um pai em busca do paradeiro da filha.

Desde o início com um corte rápido através da tela, ele estabelece a evolução tecnológica e da família ao fazer paralelo com as configurações do Windows e o surgimento das redes sociais. Um criativo e importante mecanismo que já ajuda a estabelecer uma ligação com quem estiver assistindo. É interessante como Aneesh Chaganty utiliza os elementos ali para mostrar o estado de espírito do protagonista.

Seja o protetor de tela para dizer que ele está provavelmente dormindo ou os múltiplos ícones espalhados desordenadamente para mostrar que a vida de David está uma bagunça. Apesar da cópia que eu assisti tenha sido legendada, a tradução dos textos na tela do computador para o português foi bem-vinda e ajuda no momento de nos localizarmos na trama.

O grande trunfo do filme é o roteiro utilizar todas as ferramentas online disponíveis para contar a história: redes sociais, sites de busca, portais de notícias. Sempre em telas divididas reforçando a variedade de plataformas, o que beneficia a narrativa de “Buscando…’

Outro ponto positivo fica por conta do paralelo criado contra a máscara criada pelas redes sociais. Sejam os perfis fakes, os aproveitadores que abraçam a desgraça alheia para um momento de fama ou de “likes”,  a “blindagem” que a internet proporciona para os comentários, haters e propagações de informações falsas e absurdas.

Mas o que fica claro é que se a história fosse contada da maneira tradicional, poderia perder um pouco da força, mesmo com um plot-twist interessante (acreditem, existem pistas na tela).  O filme de maneira geral se passa em contexto plausível aos dias de hoje e o debate promovido é proporcionalmente válido.