Novembro é um mês tradicional de novidades no audiovisual amazonense: é mês de Amazonas Film Festival. O evento segue na indefinição de uma data de realização nesse ano de disputa eleitoral, mas antigos e novos realizadores locais não perdem tempo e tocam suas produções de olho no público e nos festivais. Conferindo algumas dessas novidades, o Cine Set conversou com Bernardo Abinader, que em breve trará ao público o seu curta-metragem de estreia, chamado “Os Monstros”.

Cine Set: Sobre o que é o seu filme “Os Monstros”?

Bernardo Abinader: Conta a história de um ex-casal que se reencontra e eles começam a conversar e relembrar algumas coisas que aconteceram quando estavam juntos. Eles se lembram de algumas coisas não muito legais, o que é mostrado em flashbacks de quando ainda estavam no relacionamento, e há uma tensão entre eles. É basicamente isso, uma história simples; porém, a gente quis colocar um peso nela, nas falas, nos acontecimentos. Todas as falas dos personagens têm um peso, uma relação com o ressentimento deles, alguma lembrança, alguma dor.

CS: E quem são os atores envolvidos na produção?

BA: O Victor Kaleb, da Artupe, e a Carolinne Nunes, atriz de teatro carioca que aqui fez o clipe “Fitas Livres”, da Malbec. Quem ia participar era a Aninha [Ana Oliveira], mas ela não pôde participar, infelizmente, e isso atrasou muito a produção do filme, na verdade. A gente teve que ir atrás de outra atriz, fazer mais ensaios etc. Era para o filme estar pronto no meio do ano.

CS: E a equipe de produção, quem está no projeto?

BA: O Marcus Cordeiro fez a fotografia e a edição. A Valentina Oliveira é nossa produtora, com o Diego Oliveira responsável pelo som. Temos também o André Barbosa, com maquiagem e figurino, o que foi muito importante para o filme.

CS: Você pode falar um pouco mais de onde surgiu esse roteiro?

BA: Eu sempre quis fazer um filme, era um sonho desde sempre. Eu comecei a pensar em curtas, em ideias, e o primeiro roteiro que eu fiz se passava num bar. Tinha vários personagens conversando em várias mesas e havia ligações entre as mesas. O problema é que não dava para fazer, ficou muito longo e não tinha como mostrar bem os personagens direito, e eu gosto muito de mostrar os personagens. O que me faz gostar muito de um filme geralmente é um personagem bacana, e é uma coisa que eu não vejo muito por aqui, nos curtas de Manaus. Mesmo no filme no Sérgio Andrade [“A Floresta de Jonathas”], o foco não é personagem. Eu acho que essa preferência tem a ver com o fato de eu ser de Letras, de estudar literatura, então eu gosto de me aprofundar em personagem, e eu quis fazer isso. Naquela primeira ideia que eu tive, não dava, então eu tirei algumas coisas que eu fiz praquele roteiro e comecei a pensar em como fazer um filme barato. A ideia para esse filme veio também de querer fazer algo barato, possível, com o mínimo de locações e o mínimo de personagens, então são duas personagens e uma locação, que foi o apartamento do Victor, e os flashbacks foram no meu apartamento. Nos flashbacks, aparecem outros personagens de participação rápida, com a Rosana Villar e a Jessy Garcia.

Cena de Os Monstros, de Bernardo Abinader

CS: E as filmagens, rolaram quando?

BA: Foi em setembro, durante três noites, no feriado, e no final de outubro fizemos a parte dos flashbacks.

CS: Você citou a sua formação em Letras, mas você tem alguma formação específica em cinema ou audiovisual?

BA: Não, eu não sou da área, mas quero ter uma formação específica e tentar o vestibular da UEA [do curso Tecnologia em Produção Audiovisual]. Eu queria muito ter feito cursos, mas nunca dava; sempre era num horário de aula, do trabalho, sempre tinha alguma complicação. Mesmo assim, tenho o desejo de me especializar melhor tecnicamente.

CS: E com o final da fase de produção, como você viu esse desafio de fazer o seu primeiro filme?

BA: Foi muito difícil, um aprendizado. Foi um verdadeiro curso intensivo, no qual o Marcus [Cordeiro] me ajudou muito. Eu acho importante dizer que tudo foi uma colaboração. O roteiro, inclusive, eu fiz e a Valentina e o Marcus colaboraram, a gente mudou algumas coisas. A ideia estava ali, mas mudamos muita coisa para ficar menos literário, que é uma coisa que eles comentaram. Um erro clássico, ainda mais para quem é de Letras. Na direção foi a mesma coisa; eu fui o diretor, mas tive muita ajuda deles em vários momentos. Ao mesmo tempo, eu também entrei um pouco nas funções deles: dei ideia de ângulos de câmera com o Marcus, fui atrás de conseguir muita coisa da produção com a Valentina, fui na Casa do Cinema pegar os equipamentos de iluminação…

CS: Sobre esses aspectos técnicos, como foi a questão de conseguir todos os equipamentos?

BA: Iluminação foi com a Casa do Cinema. As câmeras já eram da Valentina e do Marcus. O aparelho do som foi emprestado pelo Rafael Ramos [diretor de “A Segunda Balada”]. Para fazer o cenário, o André Couto, da Goodtimes, nos ajudou e ficou muito legal. Várias pessoas ajudaram, mesmo a Ana Oliveira, que vai participar indiretamente do filme. Como, ainda é segredo, só quando o filme estrear.

Cena de Os Monstros, de Bernardo Abinader

CS: E quando poderemos conferir o filme?

BA: A gente quer muito participar do Amazonas Film Festival, se ele acontecer esse ano, né? Se não acontecer, a gente deve estrear no final do ano ou, no máximo, em janeiro de 2015. Eu quero muito fazer uma exibição de estreia. Eu espero que esse mês de novembro seja o suficiente para finalizar a pós-produção, porque queremos fazer um trabalho legal de divulgação. Chamamos o Allan Gomes para a divulgação, um cara que tem muita experiência. Estou me cercando de pessoas muito legais, que são muito talentosas, têm experiência e querem fazer acontecer. Ainda não paguei ninguém até agora, são todos muito bem dispostos a fazer! É uma coisa muito bacana.

CS: E além de AFF, vocês querem traçar uma carreira de festivais para “Os monstros”?

BA: Queremos sim, com certeza. Independente se der ou não para colocar o filme no Amazonas Film Festival, vamos tentar outros festivais. Quais, ainda não vimos. Temos que terminar primeiro o filme, e quando isso acontecer, vamos procurar o máximo possível de festivais para participar.

CS: E tem alguma coisa que você gostaria de dizer para deixar nossos leitores com “água na boca” para ver o seu filme?

BA: Deixa eu pensar (risos)… O que eu tentei fazer foi um drama psicológico, o que não é fácil de fazer porque exige muito dos atores. Exige sutilezas, o que é difícil para quem vem do teatro, que é o caso do Victor e da Carolinne, que não possuem experiência atuando para audiovisual. Foi um trabalho exigente, eles tiveram que trabalhar com coisas que seriam difíceis para qualquer ator. Os personagens falam muita coisa que não é o que eles querem mesmo falar nesse filme. Queremos entregar ao público o drama psicológico dessas pessoas, um filme tenso.