Santos Dumont é quase uma figura mítica no Brasil. Lembro de quando era criança e ouvia, com cara de deslumbre, a história de um brasileiro que foi pioneiro em um dos meios de transportes mais comuns e complexos do mundo. Quase sempre ficava naquele “e logo um brasileiro? Mas como?”, e depois compreendia sua importância. O nome de Santos Dumont sempre foi referência para aqueles que gostavam de apontar para os “grandes feitos” dos brasileiros no mundo. E ainda assim, é estranho notar que até hoje, uma figura tão histórica não tenha recebido nenhum tipo de tratamento pelo cinema ou por séries.

Neste sentido, a minissérie da HBO preenche uma das lacunas sobre esta figura tão conhecida do Brasil. No entanto, seria melhor se a dramatização da vida do aviador tivesse recebido melhores tratamentos. É interessante o recorte e tentativa de “atualizar” a trama de época com temas sobre machismo ou imigração, porém, nada ajudam no fraco enredo e muito menos na bagunça que se torna a montagem da obra.

A série começa com o pequeno Santos Dumont (Guilherme Garcia) na fazenda de seu pai ainda no Brasil. Explorando um pouco a mente do jovem inventor, já nesses primeiros minutos são apresentados os problemas que serão presentes até o final da obra. O principal é o péssimo ritmo para acompanhar a trajetória de Dumont. Sendo uma figura tão importante do país, a série consegue transformar sua vida em algo totalmente monótono e sem aspirações, totalmente o oposto da figura que busca representar.

Conhecido por ser uma pessoa reclusa e tímida, a série parece não compreender como trazer estas características para a construção das cenas e transforma Santos Dumont em uma pessoa difícil de gerar qualquer empatia. Boa parte deste problema reside em João Pedro Zappa (“Gabriel e a Montanha”), ator que vive o personagem na fase adulta, que entra em um modo de “over actor” para entregar as expressões de desapontamento ou de timidez. Em cenas como quando recebe notícias da morte do pai, onde abaixa a cabeça e amassa a carta, é totalmente movida de um exagero que não encaixa com o estilo mais pé no chão da obra.

Isso termina por gerar um enorme problema que é a condução dos episódios. Os três primeiros são problemáticos em sua montagem, indo do presente ao passado sem qualquer necessidade para comentar de onde surgem as características atuais de Dumont. Fora isso, o roteiro não tem a menor intenção de criar algum momento de maior emoção. Os voos de testes que poderiam falhar ou a vida pessoal do aviador são meros detalhes, aparecendo porque estão na biografia, mas não são “dramatizados” para que façam uma diferença na narrativa. É uma trama simplesmente estérea de qualquer envolvimento dos personagens entre si e com o próprio projeto.

LEVE RECUPERAÇÃO NA RETA FINAL

A situação começa a mudar a partir do quarto episódio, que apesar de não ser incrível, é bom o suficiente em criar uma relação entre Dumont e o espectador ao trabalhar as angústias do retratado e em querer ser sempre o principal nome da aviação. Tudo o que os episódios anteriores necessitavam são resolvidos neste capítulo através dessa conexão. Até a atuação de Zappa melhora assim como a montagem, deixando de ser um remendo de recortes e utilizando melhor o tempo para definir cada personagem. Os flashbacks deixam de ser apenas ilustrativos da infância de Dumont para realmente servirem à discussão central.

Daqui em diante se mantém essa qualidade, mas de forma reduzida. O sexto e último episódio melhora bastante a discussão sobre Dumont e sua relação com sua própria “culpa” quanto ao uso da aviação. Ele sempre viu seus esforços no campo da aviação como uma ferramenta para promover a paz, porém, lhe afeta ver suas criações sendo usadas para a guerra. Neste episódio, para encarnar Santos Dumont já velho, é trocado o ator e Gilberto Gawronski consegue desenvolver melhor os dramas mais pessoais de Dumont e sua luta contra a Esclerose Múltipla que o afetava.

Ao final, a minissérie consegue se reorganizar e sair do problemático início, mas ainda assim não entrega um material ainda instigante. Interessada mais em recontar a história do aviador do que repensar sua vida com apoio de elementos próprios do audiovisual, a trama cai nas falhas clássicas de biografias para o cinema, por exemplo. Ecos dos problemas que transformam um filme como “Elis” em um drama fraco são ouvidos aqui. Talvez se deixasse as biografias um pouco de lado e entrasse realmente nos dramas que perseguiam Santos Dumont, que apesar de complicado em sua abordagem, são percebidos em um momento ou outro da trama, a produção da HBO poderia ter resultados mais positivos.

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