Cinco anos depois de assustar o público com “Boa Noite, Mamãe”, Severin Fiala e Veronika Franz retornam com seu novo terror, “The Lodge”. A co-produção entre o Reino Unido e os EUA, que estreou em Sundance este ano e foi exibido em sessões de meia-noite no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary deste ano, é a primeira dos cineastas austríacos em inglês. Embora o novo filme não seja exatamente um fracasso, o choque que a dupla austríaca provou ser capaz de dar definitivamente se perdeu na tradução.

Carregando um segredo obscuro (como qualquer história de terror exige), Grace (Riley Keough) é o novo amor do jornalista divorciado Richard (Richard Armitage), cujos filhos – Aidan (Jaeden Martell) e Mia (Lia McHugh) – não conseguem suportá-la. A situação piora quando sua mãe Laura (Alicia Silverstone), ao saber que seu ex-marido planeja se casar novamente, decide tirar a própria vida.

Com as celebrações do final de ano se aproximando, Richard decide reunir Grace e as crianças em uma cabana remota para que eles consigam se aproximar. Quando ele precisa voltar para a cidade por conta do trabalho, os três são deixados sozinhos e começam a se entenderem um com o outro – até que o aquecimento é cortado, a comida desaparece e coisas estranhas começam a acontecer ao redor da casa.

O roteiro, escrito pela dupla de diretores em parceria com Sergio Casci, não desenvolve a maioria dos personagens para além de arquétipos. Por causa disso, interpretando a protagonista, Keough é encarregada de fazer o trabalho pesado, conseguindo transmitir um colapso mental que ocorre lentamente com uma linguagem corporal muito restrita – trazendo à mente a atuação estelar de Florence Pugh em “Midsommar“, de Ari Aster. 

ROTEIRO NÃO ACOMPANHA ATMOSFERA DE SUSPENSE 

Fiala e Franz sabem como fazer espaços fechados se tornarem ameaçadores – as cenas no corredor e nos quartos da cabana transbordam tensão. Uma vez que os conflitos começam a colocar Grace e as crianças em lados opostos, o espectador fica com uma sensação desconfortável de que, por mais estranhos que os arredores do local pareçam, a verdadeira ameaça parece estar dentro dela. 

O público familiarizado com o trabalho dos diretores notarão imediatamente os ponto que conectam este filme a “Boa Noite, Mamãe” – outro filme sobre uma figura materna presa com crianças em uma casa remota com crianças, onde dúvidas sobre identidade preenchem o ambiente com pavor. De fato, ambas as produções se espelham em um sentido, com a anterior contada pela perspectiva das crianças e a segunda focada na adulta. 

Infelizmente, embora tenham apresentado um dos finais mais marcantes da década em seu longa anterior, aqui o desenvolvimento é tão glacial que o roteiro não entregar um desfecho a altura. Quando um evento chocante ocorre por volta dos 80 minutos de projeção, o público tem dificuldade de se importar com a ação na tela. Apesar de algumas atuações sólidas e um belo senso de atmosfera, “The Lodge” vê seus criadores explorando seus temas habituais com resultados menores.

*O jornalista viajou para o Festival de Karlovy Vary como parte da equipe do GoCritic!, programa de fomento de jovens críticos do site Cineuropa.