Certa vez me disseram que bons roteiros em uma direção ruim formam filmes medianos, mas, um roteiro ruim e uma direção sem identidade resulta em uma trama rasa e apática. Infelizmente, “White Boy Rick” (2018), de Yann Demange, cai nesse erro.

O longa – estrelado pelo veterano Matthew McConaughey na pele do pai de família e vendedor de armas Richard Wershe – conta a história de seu filho, Richard Wershe Junior ou ‘Rick’ (Richie Merritt), que nos anos 1980, em Detroit, aos 14 anos, se torna o informante mais jovem do FBI infiltrado nas gangues locais. O adolescente vê sua vida mudar quando decide se tornar um grande traficante.

As primeiras cenas de “White Boy Rick” vêm muito bem construídas, apresentando os personagens com suas personalidades fortes em uma família completamente disfuncional. Quando a irmã de Rick, Dawn (Bel Powley) aparece em cena, por exemplo, notamos uma menina perdida e viciada em drogas, culpando o pai pelo abandono da mãe. Percebe-se o interesse de Yann Demange em tratar não somente do meio em que se vive, mas, das feridas do passado que aquela família carrega. Com bons planos fechados e uma série de cortes, casado a uma fotografia sombria, o espectador é lançado para uma zona da cidade tomada pelo tráfico e pela violência, ao acompanhar os passos de Rick e suas escolhas ruins.

A ausência de trilha sonora e o tom melodramático da narrativa ajudam o espectador a criar empatia pelo pai e filho, em meio as relações problemáticas e necessidades pessoais. Mas, o roteiro não faz muito mais do que isso: diálogos mal construídos, analogias forçando alívios cômicos e o velho clichê de negros como integrantes de gangues levam “White Boy Rick” para o lugar-comum. Durante a trama, um policial faz referência à “Scarface”, que não poderia ser mais errada, visto que seu protagonista não tem a mesma entrega e força que o adorado e odiado Tony Montana, vivido pelo ídolo Al Pacino. 

NEM MATTHEY MCCONAUGHEY SALVA

É preciso dizer o diretor se esforça para criar uma estrutura dramática para os seus personagens, mas não chega a executar grandes cenas por conta da montagem apressada, prejudicando completamente a construção das mise-en-scène e o impacto dela sob o espectador.  Yann Demange utiliza de artifícios já conhecidos do gênero em uma narrativa linear como a entrada de Rick na gangue, suas escolhas e ascensão no mundo do crime, sem, em nenhum momento, imprimir alguma identidade em seus planos.

A atuação apática de Richie Merritt na pele do protagonista é o fator crucial para tornar “White Boy Rick” um filme esquecível. Chega a ser triste ver como o ator não se esforça para dar vida ao seu personagem, simplesmente aceitando os fatos. É apenas no terceiro ato um pouco mais emoção aparece, mas, aí, já é tarde demais. Quem brilha mesmo é Matthew McConaughey, entregando as melhores cenas do longa na pele de um pai otimista e de pouquíssimo valor moral, que tenta de todas as maneiras manter sua família unida.  Matthew só não faz mais pelo tempo excessivo que a história gasta com Rick. Já  Dawn, infelizmente, acaba sendo tratada como personagem secundária, mesmo conseguindo fazer o que o irmão não faz: ter emoções e ser muito mais interessante, quando olhamos para o seu arco dramático.

Atrevo-me a dizer que “White Boy Rick” nas mãos de diretores como David Fincher ou Denis Villeneuve, resultaria em um grande drama, ao contar a história de um garoto de 17 anos condenado à prisão perpétua, sendo o primeiro jovem preso por mais de 30 anos em decorrência de um crime não violento.