Manaus é palco da primeira série documental em português da Netflix. Intitulada ‘Bandidos na TV’, a produção estreia no próximo dia 31 de maio e vai contar a história do ex-deputado estadual mais bem votado da história do Amazonas e também apresentador de TV, Wallace Souza. Realizada ao longo de 18 meses, o projeto está cercado de especulações e expectativa do público amazonense em acompanhar os fatos narrados, pela primeira vez, por uma produtora britânica.

O premiado produtor e diretor da série, Daniel Bogado (“Trump: An American Dream” e “Unreported World”) e a diretora Suemay Oram (“Drugs Map of Britain”) conversaram com exclusividade com o Cine Set e revelaram o que os telespectadores podem esperar de ‘Bandidos na TV’.

Cine Set – Quando e como surgiu o interesse em produzir um documentário sobre Wallace Souza?

Daniel Bogado – Fiquei interessado na história no momento em que vi o caso Wallace ser tema de uma reportagem no ‘Fantástico’. Quando se produz documentários, você pensa de uma forma visual e o Wallace Souza era uma pessoa acusada de matar por audiência. Mas, na época, não conseguiria produzir sobre ele e pensei que alguém faria. Os anos foram passando, vi que ninguém produziu e a história não saía da minha cabeça, então, de Londres, comecei a fazer pesquisas e algumas ligações. No começo de 2017, decidi que viria para Manaus em busca de mais detalhes. Quando comecei a ouvir as pessoas da Justiça, da Força Tarefa, percebi que a história era muito grande e que precisaria fazer uma série, pois, tinham muitas surpresas. Tudo era um mistério.

Suemay Oram – O caminho que a série levaria dependia de muitos fatores: quem aceitaria ser entrevistado, que imagens de arquivo encontraríamos, o que as pessoas revelariam. Ou seja, era uma caixinha de surpresas. Por isso, a série foi meticulosamente construída à medida em que conhecíamos os entrevistados e desvendávamos suas histórias. Cada personagem acrescentava algo novo à narrativa e a montagem evoluía constantemente. Mas essa é a graça: não há apenas uma história linear para contar.

Cine Set – Durante as gravações, qual foi a experiência mais marcante?

Daniel – Acho que não esperávamos o clima de medo que as pessoas tinham quanto à história. Mesmo após 10 anos, muitos achavam que contar sua versão, estar de alguma forma veiculado aquele assunto, falar sobre ele no documentário era algo perigoso. As pessoas não queriam falar conosco. Teve entrevistado que desistia de falar em cima da hora; era algo misterioso. Foram necessárias muitas reuniões com algumas das pessoas chave da história para convencê-las de que o trabalho que estávamos fazendo era sério e imparcial. O que posso garantir é: a maioria das peças-chaves da história aparecerem na série e vocês poderão ouvir o que elas têm a dizer. Então, para mim, alguns dos momentos mais marcantes foram quando pessoas importantes concordaram em fazer entrevista, e quando estávamos no caminho havia uma sensação de antecipação e mistério sobre o que descobriríamos.

Suemay – Os momentos que mais me marcaram, pessoalmente, foram as entrevistas. Elas eram intensas e algumas muito tocantes. Tinha hora em que eu me sentia completamente envolvida, como se estivesse lá revivendo com o entrevistado as emoções dos momentos mais impactantes daquela história. Foi visceral.

Cine Set – Qual o principal objetivo da série e o que os espectadores podem esperar?

Suemay – O nosso maior objetivo sempre foi contar uma história incrível e cativante, dando voz aos vários lados dessa intriga. Também esperamos chegar mais perto da verdade. Gostaríamos de ver as pessoas assistindo, compartilhando, falando sobre a série. Queremos que abra um debate e prove que séries documentais sobre histórias brasileiras podem emplacar. O caso Wallace é de uma complexidade enorme e todos têm opiniões fortes sobre ele, independentemente de qual lado estejam. A polarização dos pontos de vista é parte do que torna o caso tão cativante, e a minha própria opinião vivia mudando ao longo da criação da série. Sempre ficava a pergunta: ‘quem está de fato falando a verdade?’ E isso, na minha opinião, é bem inquietante.

Daniel – O objetivo principal é contar a história de Wallace Souza de uma forma imparcial, justa, interessante e emocionante. A dificuldade era que tantas coisas aconteceram! Nós tínhamos muito material, então precisávamos decidir qual era o enfoque e editar o material de uma forma que mostrava a incrível experiência que Manaus passou naquele tempo. Durante as gravações, descobrimos coisas surpreendentes, então mesmo para aquelas pessoas que acham que conhecem tudo sobre a história, eles vão ter surpresas.

Cine Set: Após anos envolvido na produção e direção, qual sua opinião sobre Wallace Souza?

Daniel – Eu penso que, para as pessoas, essa resposta é algo muito pessoal. A série vai apresentar os fatos, contar a história, analisar a evidência, mas ela não impõe o que você tem que pensar, você pode tirar sua própria conclusão.

Suemay – Não vou dar spoilers! Acho que você precisará assistir à série para descobrir.

*Sobre a tão esperada briga entre Gil da Esfirra e Galerito, Daniel e Suemay evitaram dar spoilers, mas, afirmaram que a série é cheia de surpresas e que tudo pode acontecer.