Dentre tantas controvérsias envolvendo a Netflix e suas produções, finalmente, é possível afirmar: este nome se tornou indispensável quando o assunto é a indústria cinematográfica. Fugindo da tradicional forma de assistir longas-metragens e seriados, o serviço de streaming mais popular do mundo atualmente mantém uma trajetória em constante ascensão dentre acertos e erros e, neste sentido, a produção de obras originais é um dos fatores mais importantes para o seu sucesso e garantia de público.

Com a ameaça de concorrentes na busca por um desempenho semelhante ao seu, a Netflix continua aumentando significativamente o número de atrações originais e com longa permanência no catálogo. Para receber este selo do streaming, o filme não precisa ser produzido pela Netflix, muitos são apenas distribuídos pela empresa, o suficiente para garantir sua presença no acervo e os créditos para o serviço. Assim, diversos seriados e filmes que estreiam em emissoras internacionais são comprados pelo streaming que passa a possuir os direitos da obra e a exibição.

Em uma categoria tão emergente e importante para a empresa é possível apontar produções louváveis e outras que poderiam ser retiradas do catálogo sem nenhuma objeção. Tendo isto em mente, segue a lista com os dez melhores e piores originais Netflix:

Melhores

10 – Ícaro (2017)

Começar a lista com um documentário é mais do que apropriado já que este gênero é constantemente agraciado com boas produções da Netflix. “Ícaro” não é diferente, ao mostrar os detalhes do escândalo envolvendo o sistema de doping na Rússia nas Olimpíadas de Inverno de 2014, o filme recebeu notoriedade ganhando até mesmo o Oscar de Melhor Documentário em 2018. Mesmo lançado no Festival de Sundance em Janeiro de 2017, o longa foi distribuído pela Netflix meses depois ao chegar no streaming. A urgência do tema e a forma como foi tratado na produção definitivamente foram os principais ajudantes de seu sucesso, o que em nada diminui a qualidade em seguimentos como roteiro e montagem.


9 – Black Mirror: Bandersnatch (2018)

Mesmo não sendo a maior fã desta produção, é necessário colocá-lo na lista tanto pelos méritos de seu roteiro quanto por sua importância para a Netflix. Mais uma vez, o streaming conseguiu apresentar uma inovação própria para seu serviço, criando uma atração que não pode ser passada em uma sala de cinema comercial, mas apenas em um serviço como o seu. Apesar deste formato não ser uma enorme novidade para o mundo dos vídeo games (existem diversos jogos de múltiplas escolhas como o filme), no cenário cinematográfico, a iniciativa continua sendo bem vista e digna de uma posição por aqui.

8 – Laerte-se (2017)

Mais um documentário na lista e o único filme nacional também, “Laerte-se” mostra um retrato intimista da tão conhecida cartunista Laerte. No filme, sua carreira e vida pessoal tornam-se partes de sua construção como pessoa e do resultado que Lygia Barbosa e Eliane Brum pacientemente apresentam ao espectador. As constantes visitas à casa de Laerte e a introdução de obras suas na montagem não apenas apresentam a personagem para o espectador como também incitam questões sobre sexualidade, preconceitos e aceitação.

7 – A Balada de Buster Scruggs (2018)

No constante exercício de atrair diretores renomados em Hollywood para o streaming, a Netflix conseguiu essa interessante antologia dos irmãos Ethan e Joel Coen. A escolha pela narrativa formada por diversos curtas metragens é definitivamente um risco, que a dupla de diretores assume e consegue lidar com êxito, a harmonia temática entre as histórias que compõem o longa é o grande fator positivo, o qual consegue manter o espectador atento até o último minuto. Os esforços da produção seguem sendo lembrados na temporada de premiações, incluindo as três indicações ao Oscar de 2019, que inclui Melhor Roteiro Adaptado.


6 – Eu Não Sou Um Homem Fácil (2018)

Mesmo longe de atingir a perfeição, essa comédia romântica francesa é uma ótima escolha no catálogo de originais do streaming. Com uma históroa simples, o longa consegue apresentar situações de grande relevância atualmente e questionamentos igualmente necessários. Apesar da trama em si e a relação entre os personagens principais ser cercada por clichês, a forma leve e até mesmo didática de lidar com o feminismo é o grande ponto positivo da produção, uma iniciativa que continua no recente documentário também da Netflix “Feministas: O Que Elas Estavam Pensando?”.

What Happened, Miss Simone?, de Liz Garbus, pelo Netflix5 – What Happend Miss Simone? (2015)

Com o objetivo de apresentar a vida conturbada da cantora Nina Simone, o documentário da diretora Liz Garbus consegue ir além disto. A produção apresenta uma imagem tão conhecida como a de Simone sob diferentes óticas, mostrando a importância de sua carreira e também muito sobre a sua vida pessoal – um dos principais feitos do filme, mostrar Nina Simone como uma pessoa real. O trabalho de edição do longa também é minucioso, entre entrevistas com pessoas próximas e vídeos da cantora de diferentes ocasiões uma história é contada para seu público. O filme também foi um dos primeiros do streaming a ganhar notoriedade pelas premiações com o total de 20 indicações em diferentes prêmios.


4 – Okja (2017)

Um dos filmes com pegada mais popular que deu muito certo no streaming. A presença do elenco com inúmeras estrelas e o diretor Joon-ho Bong formou uma ótima combinação em um longa agradável para a toda a família e com boas reflexões em seu decorrer. Foi um dos primeiros filmes nos quais a Netflix começou a investir em narrativas mais populares e a direcionar dinheiro para o setor de animação. Além de indicações a algumas premiações, “Okja” também obteve uma aceitação muito grande em meio ao público.

Beasts of No Nation: a hora e a vez do Netflix3 – Beasts of No Nation (2015)

Eternamente lembrado como uma das maiores faltas do Oscar com a Netflix, “Beasts of No Nation” é uma parada obrigatória nesta lista. Com produção, direção, roteiro e fotografia de Cary Joji Fukunaga, o longa tem como proposta mostrar os acontecimentos da guerra através do olhar de uma criança. A sua ausência na indicação do filme e de Idris Elba como ator coadjuvante no Oscar de 2016 ainda é um dos assuntos mais comentados sobre o, até porque desde então esta relação entre streaming e premiação passou por vários capítulos. O filme também foi o primeiro longa da Netflix a ser lançado em salas de cinemas americanos, um esforço para ser considerado pela academia, o que não ocorreu. Mesmo com toda essa história como plano de fundo, o filme continua no catálogo com toda sua relevância.

2 – A 13ª Emenda (2016)

Não apenas mais um documentário como também o último dessas listas (prometo), este é mais um exemplo de produção em que a Netflix não tem medo de tocar certas feridas. A abordagem sobre a criminalização negra em presídios americanos como uma espécie de perpetuação da escravidão dirigida por Ava DuVernay foi essencial para o streaming ser visto como um potencial para o cinema. Os relatos e montagem presentes na produção conseguiram evidenciar sua qualidade na visão da crítica especializada e do público, em um período que debates sobre racismo e preconceito nos Estados Unidos vieram à tona com a campanha de Donald Trump à presidência do país. Esses fatores somaram indicações ao Oscar, Emmy e BAFTA, consagrando o filme como um dos mais relevantes do streaming.

1 – Roma (2018)

Não somente é o melhor filme no catálogo do streaming até então como também o mais importante para a Netflix. Apesar de todo hype e de ser a produção mais comentada nesta temporada de premiações, “Roma” não ocupa este lugar por acaso, seu conceito e qualidade advindos do diretor Alfonso Cuarón são observados em diversos momentos e aspectos do longa, o que com certeza requer uma segunda ou terceira conferida no filme. Além disso, sua presença no streaming também foi essencial para dar a dimensão necessária a produção, isto não somente sobre a divulgação enorme para as premiações, como também pela acessibilidade presente no serviço sobre um filme destinado a um nicho específico e que hoje pode ser conferido por qualquer um de seus milhares de assinantes.


Piores

É claro que nem todas decisões resultam em acertos, para isto, é preciso errar algumas vezes (talvez até mais do que o esperado) e neste aspecto a Netflix com certeza também foi um destaque. Dentre roteiros nada originais, elencos grandiosos desperdiçados e um total descaso com seus espectadores, muita coisa ruim também continua pelo catálogo do streaming:

10. Aniquilação (2018)

Polêmico e uma grande contradição dentro da crítica especializada, particularmente, acredito que este longa de Alex Garland poderia ter obtido um resultado muito melhor com o elenco que possuía (Natalie Portman, Tessa Thompson, Oscar Isaac e outros). O filme também cai na insistência de uma estética incrível sem um conteúdo forte e denso, o que em nada ajuda sua narrativa. Há quem discorde, mas é preciso colocar “Aniquilação” nesta lista.


9. O príncipe do Natal: O Casamento Real (2018)

Praticamente chutar cachorro morto, mas para não dizer que foi esquecido fica aqui a trama chata e repetitiva que tantas vezes é reciclada. Na mesma vibe tem a recente versão de “A Princesa e a Plebeia” que não listei para dar oportunidades a outros grandes desastres nomes. Mas, voltando a este nono lugar, o filme não mostra nada de novo de seu público, exagera ao repetir situações românticas clichês e é realmente difícil de ser assistido. O famoso caso que o trailer já entrega todas as principais cenas e basicamente todo desfecho da história, só assiste quem realmente tem muita vontade e perseverança.

8. Bird Box (2018)

Fez barulho? Sim, porém faltou subterfúgios para manter-se no auge. A atração definitivamente foi assistida por muitos assinantes da Netflix o que não significa que seja boa e sim, que tenha recebido um ótimo investimento do setor de marketing. É muito bom ver a Sandra Bullock embarcando em um projeto popular mais denso e sério como seu desempenho em “Gravidade”, porém o filme não vai muito além disso e cria uma narrativa que não se sustenta, com um final tão amplo que se tornou motivo de piada nas redes sociais.

7. Polar (2019)

É aquela coisa: se Hollywood pode criar vários filmes de ação desnecessários então por que não fazer o mesmo? Este caso, entretanto, até tenta ensaiar um drama e um cenário político mais consistente, falhando nesses dois aspectos para a infelicidade do espectador. Porém, acredito que mesmo com muitas falhas, o filme seja justamente destinado a um público específico que busca tramas com enredos semelhantes. É sempre bom lembrar que a Netflix busca quantidade também para seu catálogo próprio.

6. Crônicas de Natal (2018)

A Netflix tentou, mas infelizmente ainda não foi dessa vez. O segundo filme que a empresa fez pensando na data comemorativa do Natal e no público que poderia ser atraído a assisti-lo durante os feriados de final de ano também não conseguiu o desempenho esperado assim como o anterior presente na nona posição desta lista. Mesmo com o veterano em obras infanto-juvenis, Chris Columbus na produção do longa, a história fica restrita ao roteiro básico e a uma fórmula já vista em filmes do próprio Columbus. Salvo o desempenho de Kurt Russell e algumas piadas que conseguem divertir o público.


5. A Babá (2017)

Não apenas um filme ruim como também uma produção que passou despercebida por muitos no streaming. Com muitas tendências ao gênero de terror, o longa apresenta a clássica história do garoto apaixonado por sua babá  e descobre que ela não é exatamente quem ele pensa. A partir disto, sequências dignas da franquia “Todo Mundo em Pânico” decoram o filme variando entre o terror e a comédia, mas em nenhum momento a história consegue ser realmente engraçado ou assustador, criando um verdadeiro climão que deixa até o espectador com vergonha da produção.

4. Legítimo Rei (2018)

O mais difícil em nomear os piores nomes desta lista é com certeza ver obras com potencial desperdiçado em meio a outras que não tinham como ser defendidas. “Legítimo Rei” definitivamente faz parte do primeiro caso, além de Chris Pine, o filme também possui um design de produção interessante, que se esforça para ambientar sua história, um esforço que o roteiro esquece e realiza as piores decisões possíveis, desperdiçando o aproveitamento de personagens e tramas em potencial.

3. Bright (2017)

Podem falar que é implicância, mas desde a primeira vez que assisti esse filme eu odiei. Uma palavra forte inclusive – odiar – mas são tantos elementos ruins e uma ambição tão grande em apenas uma produção que é difícil entender a sua concepção. Para começar o filme é uma bagunça total: apresenta um mundo que mistura o fantasioso com o real, mas em que nenhum momento cria coragem de estabelecer sua identidade própria, pegando nomes conhecidos por assimilação e criando histórias novas e confusas para seres mágicos utilizados pelo cinema há mais anos que eu possa lembrar. O pior de tudo isto é a certeza de sua continuação.

2. Barraca do Beijo (2018)

Chega a ser inacreditável pensar como o mesmo streaming responsável pelos 10 filmes listados como melhores originais é o mesmo que perpetua uma narrativa como a de “Barraca do Beijo”. O filme possui uma história clichê. Ok. Mas isso não é tudo, ele possui um clichê utilizado no início dos anos 2000, e de lá até então muita coisa mudou, principalmente muitos conceitos acerca de relacionamentos e o papel da mulher. Desde o princípio, o filme não possui interesse nenhum em valorizar sua protagonista, pelo contrário, ele cria as piores situações para justificar a aproximação dela com o “mocinho”, e a maioria destes momentos é marcado pela escolha de outros personagens sobre ela. Assim, o filme é totalmente equivocado, possui um roteiro péssimo e uma superficial construção de personagens. Em comparação aos regulares “Sierra Burgess é uma Loser” e “Para Todos Garotos Que Já Amei” (que dividem o mesmo público-alvo), “Barraca do Beijo” é o que menos possui fatores aproveitáveis além de apresentar um tremendo mal gosto.


1.Death Note (2017)

Ok, entendo, a intenção foi boa. Como uma antiga espectadora de Death Note enquanto anime – um bom anime, diga-se de passagem – o filme tinha tudo para ser um sucesso entre o público jovem, porém tudo que não poderia ser feito, está no filme. O whitewashing no elenco, a história modificada e o foco em aspectos superficiais tornaram o projeto um dos piores na história do streaming, com enorme taxa de rejeição tanto pela crítica quanto pelo seu público. Precisa falar mais alguma coisa?