Na minha infância, como qualquer outra, os filmes de terror eram assustadores. Lembro-me de ter assistido alguns como Sexta-Feira 13 – Parte IV, Aliens – O Resgate, Um Lobisomem Americano em Londres e A Maldição de Samantha (sim, aquele famigerado e ruim filme do finado Wes Craven). Todos eles me levaram a noites mal dormidas imaginando que algo se espreitava no escuro do meu quarto.

Esta situação mudou aos 10 anos, quando meu irmão mais velho me fez enfrentar os meus maiores medos, obrigando-me a assistir diversos filmes de terror que ele alugava nas videolocadoras nos finais de semana (sexta-feira e sábado eram os dias ideais para curti-los) ou então ligar a TV no final da noite de domingo para conferir a finada Sessão das Dez do SBT. Este medo inicial em relação aos filmes de terror transformou-se em fascínio, principalmente quando me dei conta que estes filmes ajudavam a externalizar os meus medos e ansiedades.

De certa forma, o medo do desconhecido presente na minha mente (ainda em processo de formação) encontrava nos filmes de terror a válvula de escape ideal para liberação destas inquietações no mundo real. Não é à toa que um bom filme de terror é aquele que apresenta na sua essência, os anseios, temores e inseguranças do imaginário social, o que talvez explique o grande sucesso destes filmes a nível comercial como também na cultura popular.

Com o passar dos anos, este fascínio virou romance e dele originou-se uma relação amorosa fiel que já dura 25 anos. Do horror mais clássico àquele mais trash, todos eles são vistos com carinho. Entre um filme de Truffaut, Hitchcock, Scorsese, Buñuel, assisto (ou revejo) um filme de terror para relaxar. A programação do Cine Set que começa hoje e vai até o dia 31 de outubro não tem a pretensão de ser a bíblia do cinema de horror ou uma análise complexa sobre este querido gênero, mas é feita com bastante carinho pelos integrantes deste site.

Tentamos reunir alguns filmes mais obscuros e desconhecidos do grande público, fugindo do óbvio (e vale ressaltar que este óbvio não é ruim, pelo contrário já agregou sua contribuição com diversos filmes clássicos) e permitindo que nossos leitores aprofundem seus conhecimentos nesta jornada pelo desconhecido. Vou pedir que além da diversão, vocês possam se assustar. Afinal os grandes monstros do cinema precisam da adrenalina do medo para sobreviveram por muitas décadas e séculos. Um ótimo mês das bruxas no Cine SET.

Danilo Areosa


Minha experiência com o terror começou ainda criança, na TV, claro: vendo filmes como Sexta-Feira 13: Parte 3 (1982), Poltergeist: O Fenômeno (1982) e A Hora do Pesadelo (1984) nas sessões tarde da noite da Globo ou do SBT. Lembro-me de, em alguns desses filmes, ter tido a companhia da minha mãe, que queria vê-los, mas não sozinha – em minha opinião, uma ótima orientação materna! Às vezes os víamos em família, todos juntos – foi assim a primeira vez que assisti a O Exorcista (1973), já na era do VHS.

Esses filmes despertaram o interesse não só pelas coisas assustadoras da noite, mas acredito que também iniciaram meu gosto pelo cinema. Porque realmente acredito que o amor pelo cinema é algo a ser nutrido e começa de forma gradual pelos filmes mais básicos, o cinema de gênero. Realmente acredito no poder do cinema de ação, de ficção-científica, dos westerns, dos suspenses e do terror e no valor deles como porta de entrada para o maravilhoso mundo do cinema e da arte. É possível gostar de cinema pegando de cara um Bergman ou um Kurosawa? Bem, pode até ser, mas acho mais difícil. É mais fácil começar com um Indiana Jones, com um faroeste querido dos seus pais, com uma criatura de outro mundo ou com Jason e Freddy, e a partir deles avançar para obras mais sofisticadas e densas. Foi assim que aconteceu comigo, e hoje eu tenho apreço por TODOS os tipos de filmes, em todos os gêneros. Porque a pior coisa que se pode fazer ao se assistir a filmes é limitar a si mesmo.

Tudo isso para dizer que eu ainda amo esses filmes. Valorizo muito aquela sensação maluca de ser absorvido por uma história repleta de coisas impossíveis de acontecer na vida real. Como um assassino maluco imortal e mascarado, outro que te mata nos sonhos com uma garra de metal, ou com uma casa onde uma criança pode se perder e nunca mais ser encontrada pelos pais. Essa programação do Cine Set, especial para o mês de Outubro, vai se encerrar no dia 31 (Dia das Bruxas), e nela buscaremos fugir do óbvio e chamar a atenção dos nossos leitores para filmes e sensações malucas que eles talvez não conheçam. Vai ser uma grande viagem, feita para celebrar os psicopatas, monstros, zumbis, vampiros, fantasmas e outras criaturas que, no fim das contas, nos ajudam a lidar com outros medos bem mais reais e importantes. Espero que se divirtam.

Ivanildo Pereira