Existe um certo fascínio recorrente do público em saber o que se passa na vida íntima de seus astros, e, na grande metalinguagem de que é feita a indústria cinematográfica, isso sempre gera material para cinebiografias sobre essas estrelas – Marilyn Monroe que o diga.

Desta vez, no setor de divas da Era de Ouro de Hollywood, é Gloria Grahame, conhecida por obras como A Felicidade Não Se Compra (1946) e Oklahoma! (1955), quem ganha um filme para chamar de seu, com Estrelas de Cinema Nunca Morrem. Um filme seu em termos, na verdade: a história aqui é contada a partir do ponto de vista do também ator Peter Turner, um britânico mais jovem com quem Grahame viveu um romance em seus últimos anos de vida e na casa de quem se hospedou quando foi acometida pelo câncer que a matou, o que rendeu o livro de mesmo nome escrito por Turner.

Estrelas de Cinema Nunca Morrem começa em 1981, nos últimos dias de vida de Gloria, que, após passar mal prestes a se apresentar em um teatro em Lancaster, na Inglaterra, pede a Peter para ficar na casa de sua família em Liverpool. Esse é o fio condutor para que o ator não só sofra pela amada, mas também reaviva as memórias do tempo que passaram juntos, num romance malfadado que começou por volta de 1979.

Esse relacionamento é a deixa para Annette Benning e Jamie Bell brilharem nos papeis principais e transcenderem até mesmo o roteiro primário que têm em mãos: desde o primeiro momento em que se encontram, seguido de um convite dela para que dancem ao som de Os Embalos de Sábado à Noite, o casal é pura química. Ver o par de atores dividir a tela juntos é um show à parte, maior que o próprio longa. Embora o filme acabe oferecendo mais material para Bell se destacar – e ele o faz numa atuação cheia de sutilezas –, Benning aproveita também para fazer de Gloria uma espécie de autorreferência a si mesma e a tantas outras atrizes relegadas a segundo plano na indústria com o passar da idade. A voz fina que inspira fragilidade contrasta com a vaidade e o vigor que se refletem toda vez que Gloria se encontra em cena ou relativamente confortável na companhia de Peter.

Porém, se, por um lado, a homenagem a Gloria Grahame é sensível o suficiente para gerar empatia no espectador, por outro, o filme passa de seu segundo ato em diante escorregando em problemas comuns de cinebiografias, como uma reverência em excesso pela biografada, que o impede de encostar em temas mais delicados de sua vida pessoal, como o casamento com um enteado ou as intervenções estéticas pelas quais passou, ou mesmo de sua carreira, que, embora estivesse em declínio, pouco se vê na tela. Como personagem, Gloria acaba sem algo que a diferencie, uma vez que o roteiro prefere explorar apenas aquela velha camada da atriz em decadência que sofre de um ego enorme demais para a idade e para a indústria em que se encontra.

Isso não melhora com a revelação da doença de Gloria: pelo contrário, Estrelas de Cinema Nunca Morrem, em seu afã de mostrar o sofrimento tanto da atriz quanto de Peter, ao ter que lidar com o retorno da atriz em más condições da saúde, investe nos tons daquele já batido romance genérico de doença terminal, no maior estilo Um Amor para Recordar. Somente Jamie Bell e Annette Benning tentando se sobressair a isso salva o longa – e não ajuda que a direção de Paul McGuigan (sim, Victor Frankenstein) invista em algumas escolhas estéticas que, se eram para soar românticas, acabam beirando uma artificialidade perigosa nas memórias de Peter, como o céu excessivamente perfeito de Los Angeles ou algumas das transições quase teatrais entre passado e presente.

O resultado é um tanto agridoce no fim das contas, pelo que Estrelas de Cinema Nunca Morrem poderia ser, mas não é. O lado bom é que ver Jamie Bell e Annette Benning contracenando é uma daquelas coisas que, como espectador, nós precisávamos, embora ainda não soubéssemos disso.