A semana começou com uma notícia preocupante para o setor do audiovisual amazonense: o fim das atividades do escritório regional da Região Norte da Linha de Produção Conteúdos Destinados às TVs Públicas (Prodav). O espaço ficava localizado na sede da TV Cultura Amazonas, localizada na Avenida Barcelos, no Centro de Manaus, e era gerido, desde 2014, pela dupla Carlos Barbosa e Clemilson Farias.

Os escritórios regionais presentes em Manaus, São Paulo, Recife, Porto Alegre e Brasília eram responsáveis pelo acompanhamento e distribuição do conteúdo das Linhas de Produção destinados às TVs Públicas 2013/2014 e 2015. A Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) informou aos produtores que o contato das Unidades Técnicas, agora, passa a ser feito por email.

Leia a entrevista com Carlos Barbosa e Clemilson Farias sobre o trabalho do escritório regional de Manaus

Na primeira edição do Prodav, oito projetos do Amazonas foram aprovados, entre eles, os programas “Amazônia Postal”, de Gustavo Soranz, “Blog da Mari”, de Liliane Maia”, “Meu Pequeno Mundo”, de Welder Alves, e “Plantão da Imaginação”, de Christiane Garcia. Todos estão em exibição na TV Ufam, emissora autorizada para exibir as produções do Prodav. Já a segunda edição da linha teve seis propostas do Estado autorizadas.

Preocupação da classe artística do Amazonas com descontinuidade

O fim do escritório regional faz voltar o fantasma de uma descontinuidade no processo de regionalização do audiovisual. Este é o temor de importantes nomes do cinema local ouvidos pelo Cine Set. Confira abaixo:

Sérgio Andrade (diretor de “A Floresta de Jonathas” e “Antes o Tempo Não Acabava”): “Os Prodavs e todos os fomentos para tornar a TV Pública um celeiro livre da produção nacional são parte de um dos processos mais inteligentes e inclusivos do audiovisual brasileiro. A política de regionalização dos editais e chamadas do audiovisual tirou a Região Norte de um descompasso com os centros produtores das regiões mais tradicionais do segmento. Espero que as cotas dos editais continue e que este governo nefasto suma no horizonte, como uma nuvem negra que se esvai”.

Eleição Concultura 2015 - Paulo Cezar Freire

Paulo Cezar Freire (atual representante do audiovisual no Conselho Municipal de Cultura de Manaus):  “O Programa Brasil de Todas as Telas, especificamente o edital Prodav 08/Região Norte, são políticas públicas de inserção, de oportunidade para realizadores que nunca produziram com o olhar para o mercado audiovisual. Estes realizadores, em sua maioria, produziam para festivais e mostras sem o compromisso de obter uma janela de exibição nacional. O fechamento da Unidade Técnica e de seus escritórios regionais é um grande risco, um retrocesso, nas políticas de inclusão. A permanência dos escritórios regionais, como o de Manaus, que representa a região Norte do País, é uma segurança para produtoras e realizadores que precisam de assessoria específica para soluções de problemas apenas encontrados aqui na região. Além do que, falando de política pública e editais de fomento, a presença dos escritórios é fundamental pois, vivenciando a realidade dos produtores de cada região é possível gerar dados para o aprimoramento destes editais. Exemplo: realizar um produto audiovisual em Minas Gerais, na mesma linha de edital, é diferente de realizar no Amazonas. Prazos, valores, mão de obra, devem ser observados de formas diferentes para cada região”.

Elen Linth (diretora da série da primeira edição do Prodav, “Territórios”, e “Transviar” da segunda edição do Prodav):Uma decisão sem consulta, sem diálogo com os produtores locais, sem transição, compromete não apenas uma linha que alavancou as produções regionais, mas a própria continuidade de uma produção com qualidade, com investimento à profissionalização local, com resposta à demandas específicas e capacidade de entrega. Uma lástima, um desmonte, um retorno a centralização da produção audiovisual”.

Diego Bauer (diretor da série da segunda edição do Prodav, “O Boto”): É muito claro o papel bem negativo desta mudança não apenas para essa linha específica, mas, também sobre como o audiovisual brasileiro é pensado de uma maneira mais macro. Porque é absolutamente fundamental editais especiais para regiões especiais. Esta oportunidade do Prodav permitiu a muitos profissionais a ter, finalmente, uma chance de um trabalho de maior relevo e alcance. Com certeza, as presenças do Carlos e do Clemilson contribuíram muito para que todos soubessem mais sobre o funcionamento do edital, além de serem profissionais criativos e inteligentes. É uma grande perda.

Outro lado

A EBC e a Agência Nacional do Cinema (Ancine) divulgaram nota explicando o motivo do fechamento dos escritórios. Confira abaixo:

A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) informa que o Acordo de Cooperação com a Agência Nacional de Cinema (Ancine) para o acompanhamento e distribuição do conteúdo das linhas de produção destinados às TVs Públicas está mantido.

A parceria entre a EBC e a ANCINE permanece sem prejuízos à continuidade dos projetos nas linhas do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual (PRODAV) para TVs Públicas de 2013/2014 e 2015.

No início de julho, a EBC rompeu o contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp), que era a encarregada por manter as unidades técnicas em Brasília, Rio de Janeiro, Recife, Manaus e Porto Alegre.

Com isso, a EBC está reformulando as unidades técnicas que eram responsáveis pelo acompanhamento e distribuição desse conteúdo destinado às TVs Públicas.

As unidades técnicas ficarão agora centralizadas no Rio de Janeiro e em Brasília, que darão suporte às demais regiões do País, e sob a responsabilidade direta da equipe da EBC.