Sim é definitivo: Gerard Butler está certificado na mesma escola de Nicolas Cage no curso de “Como escolher projetos ruins para trabalhar”. Na real, será que o ator escocês está precisando do cheque pelo mesmo motivo que o Sr.Cage?

Porque não é possível, “Fúria em Alto Mar” talvez seja o pior filme protagonizado pelo ator. O anterior que, inclusive, tive o desprazer de assistir esse ano foi “Covil de Ladrões”, produção que tenta beber na fonte de Michael Mann e, no fim das contas, acaba na casa de outro Michael, no caso, o Bay. Além disso, há outras bombas como “Tempestade: Planeta em Fúria”, “Deuses do Egito” e “Invasão a Londres”.

Enfim, “Fúria em Alto Mar” é mais um filme daqueles genéricos e irritantes. A começar pela sinopse: quando dois submarinos desaparecem sem qualquer explicação aparente – sendo um americano e outro russo – o governo dos Estados Unidos envia um novo submarino para investigar. Chegando ao local, eles se dão conta de que a situação é pior do que imaginavam.

Sim, mais uma vez os americanos como polícia e salvadores do mundo, e o pior, na velha temática de ridicularizar um país “rival”, no caso a Rússia (que criativo!). Gerard Butler interpreta o Comandante Glass, em sua primeira grande missão e com uma tripulação jovem e desconfiada. Chega até ser interessante mostrar o interior de um submarino em companhia do personagem em um momento ao passear pelos corredores até a sala de comando. A produção, pelo menos, é caprichada no que diz respeito ao design da embarcação.

O roteiro, infelizmente, nos apresenta o comandante antes. Em uma cena que serve pra estabelecer que ele é um homem de princípios, o sujeito desiste de flechar um cervo ao constatar que o pobre animal tem uma família. Com uma interpretação contida e sem os rompantes enérgicos tão naturais do ator, aqui, ele encarna alguém meticuloso e que não perde a paciência até com o mais insubordinado da tripulação. O macho alfa de coração grande.

O restante do elenco vai no mesmo caminho:  o “oscarizado” Gary Oldman no piloto automático, dando chiliques a todo momento, enquanto Common faz o que pode com o personagem que lhe deram. Junto deles, testemunhamos Linda Cardeline ser desperdiçada e colocada para apresentar soluções fáceis para problemas e situações que o roteiro vai apresentando como digitar a senha de um acesso restrito. Sua personagem poderia ser cortada e não faria a menor falta no fim das contas, bastava Fisk (Common) pedir a senha de alguém e pronto. Por fim, ainda temos um grupo de soldados em uma missão suicida, que precisam ajudar os russos a não entrarem em um conflito que pode dar início a Terceira Guerra Mundial.

Sem dúvida, o pior do filme é a construção da trama. São três núcleos: submarino, Pentágono e soldados que ficam se alternando sem conseguir chamar a atenção do pobre espectador. Acredito que o intuito delas seria para articular tensão e suspense, mas, desculpe o trocadilho, naufragam bonito já que a previsibilidade é constante.

A resposta deste problema pode estar nas mãos dos dois roteiristas, Jamie Moss e Arne Schmidt, que utilizaram como base um livro escrito por Don Keith. Apesar das boas intenções, não foi a melhor das ideias pôr o roteirista de “Vigilante do Amanhã” para trabalhar com o de “Reação em Cadeia” – que, aliás, tinha sido seu único trabalho na função. Melhor parar de vez agora.

Apesar do filme apresentar belas sequências de ação com o submarino em alguns momentos, a grande verdade é que “Fúria em Alto Mar” é absolutamente esquecível. A direção de Donovan Marsh (“Cotoco” alguém?) não apresenta uma solução criativa ou alguma cena empolgante.

É um testemunho de um naufrágio do início ao fim. Vou até rever “Caçada ao Outubro Vermelho” para afastar o trauma, ali sim um grande exemplo com a temática. Já a Gerard Butler resta conversar ou trocar de agente para sua carreira não naufragar também, o alerta já está dado.

Obs: Michael Nyqvist, ator sueco falecido no ano passado está no filme, e ganhou uma dedicatória no final.