Em determinado momento, o personagem de Will Smith explica que o elemento mais importante na hora de aplicar um golpe está em tirar o foco da vítima, distraindo para um ponto sem notar a outra parte em que será roubado. “Golpe Duplo” busca fazer o mesmo: tenta passar ser um projeto sofisticado, enquanto o intuito principal está em mostrar como o astro do filme é um cara incrível.

Como é de praxe em filmes sobre golpistas, “Golpe Duplo” soa como um filme ágil em que todos falam muito assuntos que parecem ser importantes. Descobrimos o cotidiano daquelas pessoas, os diversos tipos de crimes, quanto ganham, quem são as principais vítimas. Tudo isso regado a muitas imagens com montagem rápida, uma trilha sonora de blues e jazz dando elegância ao que vemos em cena, paisagens deslumbrantes e figurinos belos.

Seria muito bom todos esses elementos integrados a uma história interessante e capaz de prender o espectador. “Golpe Duplo”, entretanto, deixa a desejar por tudo soar artificial, especialmente no relacionado aos personagens. Margot Robbie, por exemplo, parece mais uma Barbie com o objetivo de chamar atenção pela beleza e curvas do que necessariamente em ser uma mulher com complexidades e desejos de vida. Rodrigo Santoro nada mais é do que um latin lover malévolo da vez, enquanto Adrian Martinez é o gordinho alívio cômico da parada quase sem utilidade. Já B.D Wong escancara isso na aparição até divertida.

Isso claro não interessa, pois, há Will Smith. E quem tem Will Smith, tem tudo.

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Pelo menos, é o que aparenta “Golpe Duplo”. Cada sequência serve para realçar como o astro é demais. Os melhores ternos e carros são dele, 60% das falas do filme também e o personagem nunca está por baixo. Apesar de ladrão, é um sujeito amoroso e de bom coração, tendo entrado na vida de golpista por causa do vovô e do papai – até o apelido, Mellow, é pela fofura dele. Gatão, está sempre disposto a mostrar o físico dele em cenas sem blusa e conquista a gata do projeto (não é fraco não o rapaz!). Quando o roteiro busca dar uma complexidade maior em um série de apostas de valores cada vez mais altos, a solução absurda somente realça essa superioridade de Will Smi… ops, Nicky.

Responsáveis pelos ótimos “O Golpista do Ano” e “Amor à Toda Prova”, a dupla de roteiristas/diretores Glenn Ficarra e John Requa pouco pode fazer com essa aura de Deus de Nicky. Com um protagonista tão onisciente, nada sobra para ser explorado, já que o espectador sabe de antemão que nada vai acontecer. Por isso, o capricho na parte estética para distrair os nossos olhos, enquanto Will Smith vai se firmando no inconsciente como um cara espetacular mesmo quando levemente amoral.

O golpe, porém, não deu certo.