O Cine Set homenageia, neste Dia Internacional das Mulheres, figuras femininas importantes do cinema/audiovisual amazonense. Em uma época em que se pede por maior diversidade e oportunidades na sétima arte, relembramos as mulheres que trilham o desafio de fazer cinema na região.

Convidamos importantes nomes do audiovisual local para que falassem sobre o que representam essas mulheres para a produção amazonense, seja na produção, formação de público, distribuição, crítica e difusão de conhecimento.

Como toda lista, sempre há um nome ou outro de fora. Isso não as torna mais ou menos importantes que as citadas abaixo e merecem ser valorizadas por todo o esforço no aprimoramento do cinema/audiovisual amazonense.

Veja os depoimentos:

Prof.ª Selda Vale da Costa

A prof.ª Selda Vale tem papel importantíssimo na pesquisa de cinema no Brasil. Há décadas ela é uma participante atuante do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, integrando hoje seu Conselho Consultivo. Seu trabalho sobre o cineasta Silvino Santos é uma referência pioneira e incontornável quando se trata de estudar o cinema silencioso no Brasil e, além de livros e artigos, rendeu a repatriação de filmes do cineasta que estavam em acervos no exterior, dentro do projeto Filho Pródigo, conduzido pela Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Além disso, a prof.ª Selda tem sido uma incansável promotora do cinema no Amazonas, organizando eventos, exibições  e acervos fílmicos não apenas do estado do Amazonas, mas relativos a Amazônia. Estando a frente do Núcleo de Antropologia Visual da Ufam (que este ano completa 10 anos), ajudou a criar uma rede sinérgica de intercâmbio de informações e de colaboração entre profissionais dos estados do Norte do país, iniciativa importantíssima e que ainda rende frutos que tem resultado em ações fundamentais para se pensar e produzir cinema nessa região do Brasil.

por Gustavo Soranz

Saleyna Borges

A Saleyna enfrentou bem o desafio de administrar o suporte à produção audiovisual no Amazonas (estrangeiros e outros Estados que vem produzir aqui) e por realizadores locais. Isso com os recursos que foram disponibilizados para ela. Seja na antiga Casa do Cinema, seja agora na Amazonas Film Commission, vejo uma vontade genuína da Saleyna em cooperar, independente do tamanho da produção.

por Emerson Medina

Cristiane Garcia

Cristiane Garcia

Acredito que as mulheres conseguiram, com suas obras audiovisuais, de forma sensível, senso crítico, muito suor e domínio da técnica, nos presentear com seus diferentes olhares sobre o mundo. Elas abriram uma janela para imaginário humano que muitos homens não conseguiram durante estes mais de 120 anos do cinema. Cristiane Garcia, amazonense de Maués, revigorou o cinema local quando lançou, em 2007, seu filme “Nas Asas do Condor”, literatura infantil adaptada para o cinema, e conseguiu mostrar que era possível fazer audiovisual com arte, profissionalismo e grandes parcerias. Extremamente sensível às historias de vida das pessoas que ela vai conhecendo no dia a dia, e também às histórias que encontra narradas em livros, ela apresenta, a cada ano, uma obra nova, uma ideia diferente, amadurece cada vez mais o seu olhar cinematográfico e segue construindo seus próprios caminhos que vão levá-la mais e mais longe.

por Paulo Cezar Freire


Keila Serruya

A realizadora audiovisual Keila Serruya busca demonstrar suas inquietações em sua arte, ousada e dinâmica, a cada trabalho um contexto e muitos subtextos. Não a classificaria como uma cineasta, mas uma múltipla artista audiovisual, pois seus trabalhos trazem sua assinatura, a cada obra um crescimento que narra a sua trajetória pelo audiovisual amazonense. Produtora, realizadora, critica e política, ativa nos mais diversos debates políticos para o crescimento das mais diversas vertentes artísticas da cidade de Manaus, Keila Serruya mostra seu vigor e visão a cada ano, uma artista necessária para a cidade de Manaus.

por Zeudi Souza

Izis Negreiros

A Izis contribuiu juntamente com muitos outros no audiovisual local, mas eu vejo que foi com o projeto ‘Cinema e Vídeo na Educação’, em 2004, onde revelou talentos como a Dheik Praia, e com a criação da ACVA (Associação de Cinema e Vídeo do Amazonas), da qual ela foi uma das fundadoras, que eu vejo como uma de suas principais contribuições. Hoje, muitos criticam a ACVA, que praticamente está inativa, mas, naqueles anos, a associação teve seu papel importante nas politicas do audiovisual aqui no Estado. Infelizmente, poucos reconhecem isso.

por Carlos Garcia

Flávia Abtibol

No contexto do audiovisual nos estados amazônicos no geral, penso que as mulheres apresentam papéis muito significativos. É possível elencarmos diversos nomes destacados, conforme a pesquisa que o NAVI está empreendendo (intitulada “Amazônia Audiovisual: representatividades contemporâneas”) para levantar a filmografia da região nos últimos anos, os modos de produção, formação e circulação, e também analisar alguns casos. Inclusive um interesse particular no aprofundamento futuro da coordenadora da pesquisa, Selda Vale, é justamente trabalhar com a produção destas diretoras.

Qual seria a particularidade da produção destas diretoras? Como está se dando a inserção delas neste segmento? No Amazonas, mesmo que não identifiquemos algum nome ou filme militante da causa feminista de forma mais explícita (a necessidade dependeria do entendimento de cada uma delas, e não me parece uma ausência a indicar precariedade), mas podemos observar as diferentes nuances que as artistas empregam aos seus temas e aos seus projetos no geral. Posso lembrar aqui de Michelle Andrews, Michelle Moraes, Izis Negreiros, Cristiane Garcia, Keila Serruya, Saleyna Borges, Dheik Praia, Flávia Abtibol, dentre outras.

Como solicitado pelo Cine Set, irei comentar a trajetória da Flávia: ela me parece um caso muito particular, bastante ativa, diversificada e que soma sua experiência no circuito amazonense vindo de um contexto bastante rico culturalmente que é Belém. Tem atenção voltada à experimentação, ao documentário e à pesquisa acadêmica no âmbito do cinema. Pouco conhecemos em Manaus algumas facetas dela, mas no Pará esteve envolvida com a experimentação audiovisual (a partir de uma bolsa do Instituto de Artes do Pará, resultando no “Cinema aleatório”, de 2009) e também se ligou ao meio musical, tendo já dirigido saborosos videoclipes de Gabi Amarantos, entre outros músicos. Em Manaus, ganhou um dos prêmios de roteiro do Amazonas Film Festival, e produziu o “Strip Solidão” (2013), em diálogo com o professor, pesquisador e diretor Luiz Carlos Martins.

Junto ao programa de pós-graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM), elaborou uma dissertação de mestrado sobre o importante cineasta paraense Líbero Luxardo (passando pela orientação de Selda e Renan Freitas Pinto). Além disso, a partir da sua mudança para Manaus, se envolve de maneira aprofundada e oportuna não apenas com os temas que elege, mas sensivelmente com as dinâmicas de Manaus no geral: seu “Strip Solidão”, por exemplo, explora um local emblemático do Centro e inédito no audiovisual (se não me engano), me refiro a uns enormes bares próximos à zona portuária da Manaus Moderna e ao próprio porto (não o privatizado) – uma área que está sendo reconfigurada atualmente e provavelmente ficará em nossas lembranças pela narrativa da Flávia.

Também seu projeto sobre o poeta Luiz Bacellar promoveu o que acredito ser o último registro dele em vida, no contexto de uma proposta muito sensível baseada em um de seus poemas, “13 casas” (mesmo nome do filme, de 2013), sobre as lembranças da infância dele passada no bairro dos Tocos.

Não é pouca coisa.

por Sávio Stoco

Michelle Andrews

O trabalho da Michelle Andrews no audiovisual do Estado resume um pouco da batalha que temos que enfrentar, sobretudo ao longo desses 10 anos em que ela tem atuado. Michelle começou focada nos curtas populares, de 1 e de 4 minutos, passou para um trabalho de foco experimental, e hoje dedica-se mais ao fomento de outros aspectos que não a produção propriamente dita. Muita gente não reconhece esse trabalho justamente por não estar ligado à construção de uma carreira autoral, ou por se dividir também em áreas como distribuição, pesquisa e fomento à festivais. Fora o reconhecimento de todas as nossas realizadoras, que estamos deixando bastante a desejar, é importante para o crescimento da nossa cena audiovisual o reconhecimento de outros aspectos que não apenas os da produção.

por Allan Gomes

Dheik Praia

Dheik é uma artista em formação, em processo. Carreiras no cinema se fazem com o que o público vê e contempla ou tece críticas desfavoráveis. O cinema criou a sua diversidade pelas diferentes estéticas propostas dos seus mestres. Dheik está em busca da sua praia. É uma vidraça em que se pode atirar pedras e quebrar ou uma transparência que podemos ver um novo mundo, ou somente o seu mundo.

por Zê Leão

Eliana Andrade

Eliana Andrade foi a primeira mulher contemplada no edital do DocTV e, antes disso, já desenvolvia um trabalho com direção de arte em grandes produções. Ela é uma produtora empenhada em tudo que faz. Está sempre realizando trabalhos no audiovisual amazonense e essa continuidade na produção local é muito importante.

por Thiago Morais

Jéssica Amorim

Jéssica Amorim

O meu primeiro filme como diretor, “O Que Não Te Disse”, teve a Jéssica como roteirista e protagonista. Quando digo que o filme é mais dela do que meu, não se trata de falsa humildade: quem se jogou de fato, colocou tudo de si, toda a sua sensibilidade no projeto, foi ela. A Jéssica vai de cabeça nos projetos como atriz, chega a ser comovente ver como aquilo parece completar um certo sentido que ela sempre busca, e só encontra quando atua. No novo filme do Rafael Ramos, “Aquela Estrada”, Jéssica mais uma vez se doa completamente. Sua generosidade como atriz reflete o que a Jéssica é na vida fora das câmeras. Não há uma divisão muito clara, talvez apenas o fato de que, no set, ela parece estar completa, como em nenhuma outra situação da sua vida.

por Diego Bauer

Valentina Oliveira

Valentina é uma pessoa maravilhosa de se trabalhar. Ela é paciente, sensível, inteligente. Tem um olhar cinematográfico bastante crítico e fantástico.

por Bernardo Ale Abinader

Isabel Wittmann

Conheci a Isabel Wittman quando fui entrevistá-la para o Cine Set em meados de 2014. Até então, não havia me tocado que a autora da coluna Vestindo o Filme do Cinema em Cena, que eu já conhecia, era escrita por alguém residente em Manaus. Ao ler seus textos no site e no seu blog Estante da Sala, o leitor imediatamente percebe a inteligência e a abrangência da visão da autora, e isso só se amplificou quando conversei com ela. Isabel não apenas gosta e entende de cinema, como também possui grande conhecimento sobre moda, arte e história, e tudo isso é necessário para o tipo de análise e de escrita que ela produz. E ainda é uma pessoa com iniciativa e bom humor, como bem demonstra a história da sua entrada no Cinema em Cena. Em resumo, trata-se de uma ótima profissional que escreve uma das melhores seções de um site que teve, e ainda tem, grande importância para a comunidade cinéfila brasileira. Mais sucesso para ela e para o CeC.

por Ivanildo Pereira

Camila Henriques e Susy Freitas

Não que a gente queira puxar a sardinha para o nosso lado, mas a ala feminina do Cine Set também está bem representada: Camila Henriques e Susy Freitas são as responsáveis por frequentemente nos oferecer novos pontos de vista e análises instigantes, seja em críticas, artigos ou listas engraçadinhas com gifs. Camila traz consigo um conhecimento cinematográfico quase enciclopédico, além de ser nossa já tradicional pauteira de temas “fora da caixa”. Ela está sempre preocupada em buscar novas referências, com uma boa dose de leitura, e se mantendo bem atualizada, tanto das novidades hollywoodianas e do cinema indie e festivais afora quanto das fofocas que realmente nos interessam. E sim: ela já conheceu o Tarantino (trá!).

Já Susy é nossa diva acadêmica e “diferentona”: professora, com uma produção que trata principalmente da crítica cinematográfica na web, e com uma rica bagagem intelectual que se reflete também na sua produção textual para o site. É ela que conhece aqueles filmes japoneses cults que ninguém mais assistiu, e mantém atualmente a seção “O Segundo Sexo”, voltada especialmente a produções de mulheres no cinema. Considerando esse background, o rico embasamento e o olhar crítico e interessado das duas em pensar o cinema e o fazer fílmico, ainda há muito que podemos esperar de Camila e Susy pela frente, como profissionais competentes e importantes para a comunidade cinéfila.

por Gabriel Oliveira

Mais Mulheres do Cinema Amazonense:

Abelly Christine
Carolina Fernandes
Danielle Nazareno
Dona Yayá
Elen Linth
Erismar Fernandes
Fátima Santágata
Liliane Maia
Michelle Marques de Moraes
Rafaella Figueiredo
Regina Lúcia Azevedo de Melo
Sâmia Litaif

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