Em algum momento de 2014, “O Amor é Estranho” ganhou certo “burburinho” como um dos filmes independentes do ano que poderiam chegar ao Oscar. Contudo, em meio a “Boyhood” e “Whiplash”, que monopolizaram todas as atenções, ficou difícil para este drama estrelado por John Lithgow e Alfred Molina. Uma pena para os dois atores, que conseguem driblar um roteiro pobre com maestria.

Molina e Lithgow interpretam o casal George e Ben. Após 39 anos juntos, os dois oficializam a união. O casamento deveria ser um momento feliz (e o é), mas as coisas mudam de forma drástica quando George é demitido da escola onde trabalha, justamente por ter se casado com uma pessoa do mesmo sexo. Sem dinheiro, os dois precisam improvisar com a ajuda de parentes e amigos até que as coisas melhorem.

o amor é estranho alfred molina john lithgowA ótica do casal homoafetivo de terceira idade não é exatamente inédita – olha aí o amor bem resolvido de Fernanda Montenegro e Nathália Thimberg como um dos protagonistas da nova novela da Globo. Em “O Amor é Estranho”, vemos uma dor diferente. O casal é aceito pela sociedade (claro, com a exclusão do padre que comanda a escola onde George trabalhava), mas precisa lidar com uma separação forçada e o constante sentimento de fardo que qualquer pessoa que esteja morando “de favor” tem.

Um dos aspectos mais interessantes de “O Amor…” é a trilha. À primeira ouvida, ela pode parecer mais uma daquelas que fazem de tudo para que o espectador chore. E ela até chega a distrair. No entanto, o piano cai como uma luva em uma das melhores cenas de Molina, quando ele lembra a saída da escola. É impossível não sentir a dor do personagem.

Nesse sentido, o mérito vai para o ator britânico, que nos entrega um de seus melhores trabalhos. A música volta a nos emocionar em outra cena, quando vemos os nossos protagonistas assistindo a um espetáculo. O plano-detalhe nas mãos dadas dos dois é de cortar o coração.

Se Molina nos emociona, Lithgow nos emociona e meio. O trabalho do veterano é impecável. Em meio a um turbilhão de sentimentos e tendo que lidar com um drama familiar que não é seu enquanto tenta se reerguer, Ben é o coração do filme. A sensibilidade de John Lithgow é certeira. Sem apelar para cenas de choro exageradas, o ator cria um homem que adoraríamos ter debaixo do nosso beliche (ok, a frase soou estranha, mas quem assistir ao filme vai entender).

O jovem Charlie Tahan também se destaca como o sobrinho do casal e entrega um trabalho promissor. Seu personagem, inclusive, acaba sendo uma das estrelas do filme. Infelizmente, o roteiro e a direção parecem não perceber isso e o resultado é uma produção cheia de ‘buracos’ e com tantos personagens/histórias desperdiçados – quer dizer, você tem a Marisa Tomei no elenco e a bota num papel tão esquecível? Em alguns momentos, parece que a montagem do filme foi feita por alguém que leva essa história de deus ex machina muito a sério.

“O Amor é Estranho” é um filme de atores. Merecidamente, John Lithgow e Alfred Molina ganham seus momentos ao sol. Pena que o filme não acompanhe a beleza que é ver os dois em cena.