ATENÇÃO: TRÊS MIL SPOILERS À FRENTE!

Iniciar uma franquia e mantê-la lucrativa durante dez anos é, com certeza, um trabalho árduo. Entretanto, encerrá-la de forma coerente e satisfatória para seu público definitivamente é uma tarefa mais complicada. Com todo esse peso, “Vingadores: Ultimato” estreou em grande estilo com grandes surpresas positivas e iguais falhas no roteiro. Por isso, listamos os principais erros e acertos do filme:


Acerto 1: Encerramento de sagas

Acompanhamos os heróis sendo super e indestrutíveis durante tanto tempo que, muitas vezes, esquecemos o fato de alguns deles serem somente seres humanos, suscetíveis a morte como qualquer um de nós. Apesar de “Guerra Infinita” dar este recado previamente, o último filme dos Vingadores abandona definitivamente personagens icônicos de forma satisfatória.

Tony Stark e Steve Rogers, com certeza tiveram as melhores despedidas, ambas coerentes com suas histórias. Já Hulk e Thor, mesmo sem um final definitivo, passaram o bastão para outros heróis, encerrando um importante ciclo.


Acerto 2: Referências

As referências e easter eggs sempre são um acerto nos filmes da Marvel e, neste caso, não poderia ser diferente. Seja em diálogos ou cenas visualmente parecidas, as referências nunca foram tão importantes para estes heróis como em “Vingadores: Ultimato”. Afinal, em maior ou menor grau, os personagens evoluíram com o passar dos anos, então vê-los repetir alguma fala pode ser tão incrível quanto assisti-los negando suas características ou o próprio passado.

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Acerto 3: Viagem no Tempo e Reencontros

Optar por uma viagem no tempo em um filme como “Ultimato” é basicamente pedir para a nostalgia tomar conta do público, um golpe baixo estabelecido com sucesso. Primeiramente, rever cenas de outros filmes da franquia por diferentes ângulos foi um ótimo fan service, que não apenas fez o público relembrar grandes momentos como também provou ser uma ótima forma de inserir humor na história.

A escolha pela viagem temporal também permitiu aos três membros principais dos Vingadores revisitarem pessoas importantes em suas vidas. Steve e Peggy, Tony e Howard, Thor e Frigga. Todos esses reencontros foram extremamente importantes para seus personagens e totalmente simbólicos de assistir, uma ótima escolha do filme.


Erro 1: Justificativas forçadas do roteiro

Mesmo com três horas de duração, o filme não conseguiu apresentar justificativas plausíveis para muitos acontecimentos importantes. Desde o resgate de Tony Star e Nebula até o surgimento nos últimos minutos da batalha final, a Capitã Marvel foi simplesmente relegada a desculpas do roteiro. Suas interações são extremamente importantes, porém, acabam parecendo improvisos com o objetivo de resolver pontas soltas.

Além disso, outra grande desculpa foi o fato de viagens temporais não alterarem o futuro. A explicação corrida a realidade do universo ser alterada ou não com a mudança no passado também deixa vários questionamentos para o futuro da Marvel nos cinemas, alcançando proporções bem maiores que apenas um filme.

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Erro 2: Ritmo e Humor

Assim como “Guerra Infinita”, este é um filme com grande carga dramática em seu plano de fundo. O início, por exemplo, tem um ótimo clima de luto, o qual é deixado de lado para o humor cômico sobressair. É claro que um filme da Marvel irá apresentar suas conhecidas piadas, mas, neste caso, a sensação é que simplesmente o longa se esforçou demais para não ser levado a sério.

Muito disto pode ter ocorrido devido aos acontecimentos dramáticos do último ato, numa tentativa de equilibrar melhor o tom do filme. Entretanto, o roteiro se esforça tanto para soar engraçado que simplesmente perde o ponto de quando parar.

A nova personalidade de Thor é um exemplo claro disto, apesar de arrancar risadas com um dos recursos mais banais do humor (aparência física/gordofobia), existe um ponto onde as piadas simplesmente não funcionam mais. O personagem também demonstra uma vontade de embarcar na tristeza de quem esteve tão perto de matar Thanos e impedir o massacre global, oportunidades não aproveitadas.


Erro 3: Repetições de Guerra Infinita

Mesmo mostrando os heróis de uma forma nunca vista, “Vingadores: Ultimato” ainda reproduz cenas muito parecidas com seu sucessor “Guerra Infinita”. Não apenas visualmente, mas o objetivo desses momentos também é o mesmo e, aparentemente, não apresenta algo de novo para a trama que não tenha sido visto antes.

Como exemplo crasso disto podemos citar a relação entre Tony Stark e Peter Parker e suas cenas dramáticas com o objetivo de arrancar lágrimas dos fãs. Outro momento repetido é o plot twist da batalha final ser os poderes de Thor, em “Guerra Infinita” o próprio asgardiano o utilizou e em “Ultimato” vemos o Capitão América repetindo este feito.

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BÔNUS: O acerto e erros no tratamento de personagens femininas

Sim, precisamos admitir que a presença de personagens femininas no MCU se expandiu bastante, porém a forma como a Marvel está aproveitando isto em seus filmes é bem questionável.

Voltando para a problemática de cenas repetidas em “Guerra Infinita” e “Ultimato”, no segundo filme vemos mais uma cena “empoderada”: A reunião de todas personagens femininas no mesmo frame e uma frase de efeito. Só.  Basicamente, a Marvel utilizou a mesma construção nos dois filmes, substituindo o “Ela não está sozinha” por “Ela tem ajuda”. Infelizmente, uma cena que dura segundos unida à uma fala não é suficiente, principalmente quando o sacrifício de duas heroínas ainda está bem fresco na memória.

Após Gamora ser sacrificada para Thanos obter a joia da alma vemos a Viúva Negra seguir o mesmo caminho em “Vingadores: Ultimato”. Tudo bem, não tinha outro jeito para conseguir a joia, mas tinham outros personagens. A Viúva Negra é uma figura com histórico problemático no MCU, neste filme parece que finalmente sua construção evolui quando ela assume o trabalho feito pelos Vingadores na Terra. Entretanto, esta presença volta a ser negligenciada rapidamente.

Apesar de ser uma cena muito bonita e coerente com o que o longa pede, vemos novamente uma das poucas mulheres no MCU ser excluída da narrativa. Além disso, a construção para que Natasha chegue a este ponto também é um tanto quanto covarde: a sua única opção é deixar o Gavião se entregar como sacrifício, seu melhor amigo e a pessoa quem a salvou, o qual ainda tem uma família para voltar. Assim, todas essas escolhas põem em descrédito um encerramento digno para a Viúva Negra.

Estas duas situações presentes em dois filmes seguidos da mesma franquia me fazem questionar como será o futuro das personagens femininas na Marvel. Mesmo construindo uma cena que mostra o Girl Power das heroínas, o estúdio negligencia o protagonismo de suas personagens; para comprovar isso basta procurar o tempo de tela de cada herói no filme e confirmar que a presença feminina no MCU ainda precisa melhorar muito.