De “Confidências à Meia-Noite” a Julie Christie, Caio Pimenta traz os 10 resultados mais injustos do Oscar nos anos 1960.
10. MELHOR ROTEIRO ORIGINAL – “CONFIDÊNCIAS À MEIA-NOITE”
A simpática comédia “Confidências à Meia-Noite”, estrelada pela Doris Day e o Rock Hudson, conquistou o Oscar de Melhor Roteiro Original na cerimônia de 1960. Seria uma vitória normal se não fosse a presença de três clássicos na categoria.
Um dos melhores filmes da carreira do Alfred Hitchcock com uma história beirando a aventura, o delicioso suspense “Intriga Internacional”, era um dos indicados. Assim como “Os Incompreendidos”, um drama baseado nas vivências de François Truffaut e um dos mais belos filmes sobre a adolescência. Por fim, ainda tinha “Morangos Silvestres”, obra profundamente reflexiva do genial Ingmar Bergman.
Por trás de uma vitória aparentemente banal, um resultado para lá de injusto.
9. MELHOR FILME EM LÍNGUA NÃO-INGLESA: “SEMPRE AOS DOMINGOS”
O nono lugar traz um pouquinho de patriotismo. Só um pouquinho.
Em 1963, o Brasil bateu na trave para conquistar o Oscar de Melhor Filme em Língua Não-Inglesa. Dirigido por Anselmo Duarte, “O Pagador de Promessas” chegava credenciado por ter vencido a Palma de Ouro do Festival de Cannes no ano anterior. Porém, no meio do caminho, havia “Sempre aos Domingos”. O drama francês do Serge Bourguignon superou o filme brasileiro e levou a estatueta para casa.
“Sempre aos Domingos” ainda apareceu no Oscar de 1964 indicado em Melhor Roteiro Adaptado e Trilha Sonora.
8. MELHOR ATOR: REX HARRISON
Em 1965, o Rex Harrison conquistou o Oscar de Melhor Ator pelo bom desempenho em “Minha Bela Dama”. Porém, o vencedor deveria ser outro.
Afinal, como não premiar o Peter Sellers pelo desempenho hilário dele em “Dr. Fantástico”? Fazendo três personagens – um completamente diferente do outro – o ator rouba a cena ao encarnar a ironia do texto e a loucura da Guerra Fria, sendo a síntese perfeita do que Stanley Kubrick queria passar neste filmaço.
Além do Sellers, uma vitória do Peter O´Toole, por “Becket” também não seria nada injusto.
7. MELHOR ATRIZ – KATHARINE HEPBURN
Como eu cheguei a falar no vídeo das atrizes nos anos 1960, é sempre difícil criticar a Katharine Hepburn, porém, a vitória dela em 1968 é absurda.
Em “Adivinhe quem Vem Para Jantar?”, ela até está bem como a mãe disposta a apoiar a filha em casar com o Sidney Poitier exalando tolerância e preocupação. Porém, no mesmo ano, disputavam a Anne Bancroft e a inesquecível Mrs. Robinson de “A Primeira Noite de um Homem” e a Faye Dunaway também perfeita em “Bonnie & Clyde”.
Qualquer uma das duas seria perfeito para vencer o Oscar, mas, a Hepburn conseguiu a vitória muito mais pelo peso do nome e da carreira do que outra coisa.
6. MELHOR DIREÇÃO – TONY RICHARDSON
Essa aqui parece até zoeira se a gente diz em voz alta, mas, vamos lá: o Tony Richardson, de “As Aventuras de Tom Jones”, venceu o Federico Fellini, de “A Doce Vida”, no Oscar de Melhor Direção em 1964.
O Richardson até se esforça em emular um ritmo e estilo mais moderno de condução com influências claras da Nouvelle Vague na narrativa. É um dos poucos destaques de “Tom Jones”. Porém, ele não chega aos pés do que faz o Fellini em “A Doce Vida” com um registro potente da cultura pop aliada um tom pessoal, filosófico e existencial sobre aquele universal.
O italiano está anos luz à frente do inglês. Só o Oscar que não viu.
5. MELHOR ATRIZ COADJUVANTE – SHIRLEY JONES
Das derrotas de “Psicose” no Oscar de 1961, poderia ter elegido o Hitchcock não vencer Melhor Direção, porém, cá entre nós, as chances dele ganhar eram praticamente nulas. Por isso, escolhi uma outra perda igualmente sem sentido.
Na categoria de Atriz Coadjuvante, a bela Shirley Jones venceu pelo desempenho em “Entre Deus e o Pecado”. Um bom trabalho, sem dúvida, mas, muito longe de chegar aos pés do que Janet Leigh faz em “Psicose” ao criar um mocinha de moral duvidosa, mas, que nos conduz à perfeição até a saída dela de cena em um momento inesquecível.
Curiosamente essa foi a única vez que tanto a Janet Leigh como a Shirley Jones foram indicadas ao Oscar.
4. MELHOR ATOR – CLIFF ROBERTSON
O Peter O´Toole é a Glenn Close dos atores no Oscar: concorreu diversas vezes e nunca venceu. A derrota em 1969, talvez, tenha sido a mais doída.
Afinal, o ator domina as ações em “Um Leão no Inverno”. Contando com a parceria luxuosa de Katharine Hepburn, aqui, sim, em grande performance, o Peter O´Toole cria uma figura inteligente, impulsiva, ardilosa e sedenta pelo poder ao interpretar um rei cercado por uma família disposta a tudo pelo trono.
Infelizmente, ele foi derrotado pelo Cliff Robertson no drama “Os Dois Mundos de Charly”, um bom desempenho do futuro avô do “Homem-Aranha”, mas, uns três patamares abaixo, pelo menos, do Peter O´Toole.
3. MELHOR ATRIZ – JULIE CHRISTIE
Chegamos ao pódio dos resultados mais injustos do Oscar nos anos 1960 com a vitória da Julie Christie em “Darling” na cerimônia de 1966.
É até compreensível o prêmio para Julie Christie por ter sido o primeiro trabalho da carreira e segurar uma história difícil que depende totalmente dela para funcionar, fora a ousadia de certas cenas para a época. Por outro lado, como não dar o Oscar para a Julie Andrews em “A Noviça Rebelde”? Não bastasse o carisma natural, ela cria uma figura adorável, exalando felicidade para os personagens na tela e para nós do lado de cá. Para completar, ela canta divinamente bem.
Sem dúvida, pesou o fato da Julie Andrews ter vencido o Oscar de Melhor Atriz no ano anterior por “Mary Poppins”. Dar dois prêmios para uma atriz iniciando a carreira nos cinemas tão cedo pode ter feito muitos votantes preferirem a Julie Christie.
2. MELHOR FILME – NO CALOR DA NOITE
1968 foi um Oscar histórico pela força da Nova Hollywood chegando para mudar o cinema americano.
A violência de “Bonnie & Clyde” com seus heróis amorais e divertidos estava ao lado da sensualidade transgressora de “A Primeira Noite de um Homem” e da contestação social contra o racismo feito de forma leve por “Adivinhe quem vem para Jantar?”.
O Oscar, entretanto, foi para “No Calor da Noite”, filme que também abordava o racismo nos EUA, porém, de forma muito menos contestadora e pouco inspirado do que os demais.
1. MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO – “OLIVER!”
O resultado mais injusto do Oscar nos anos 1960 vem da última cerimônia da década. Em 1969, “Oliver” venceu a categoria de Melhor Direção de Arte. Estranha essa escolha? Não quando você vê quem era o maior rival.
“2001 – Uma Odisseia no Espaço” estava entre os indicados na categoria. O design de produção do filme cria uma espetacular concepção espacial extremamente realista mesmo antes do homem chegar à Lua e termos uma foto da Terra. Das naves à estação lunar passando por objetos a serem desenvolvidos anos depois graças aos avanços da tecnologia, o longa de Kubrick traz uma ambientação e que serve de inspiração para filmes espaciais até hoje.
Porém, a Academia, mais uma vez, resolveu ficar com o tradicionalismo dos filmes de época em vez de premiar um dos designs de produção mais visionários já vistos.