Nova produção da Netflix, “Sex Education” aborda como os jovens lidam com o sexo por meio do romance, da identidade e do prazer. A habilidade de contar de forma eficiente uma história com personagens tão diferentes e complexos, em torno de um tema considerado por boa parte da sociedade um grande tabu, coloca o projeto em uma posição privilegiada em comparação a outras séries para o público jovem.

Criada por Laurie Nunn (“Gone to Earth”), a trama principal apresenta Otis (Asa Butterfield), rapaz de 16 anos, filho de uma terapeuta sexual Jean (Gillian Anderson) e com dificuldade de lidar com a sua sexualidade. A garota mais mal falada da escola, Maeve (Emma Mackey) descobre nele a capacidade de oferecer conselhos sexuais para outros colegas. A partir disso, os dois abrem uma clínica clandestina de terapia sexual dentro da instituição.

“Sex Education” é uma série feita no texto da Laurie Nunn: a narrativa cria várias possibilidades de entender como os jovens vivem e/ou descobrem a sua sexualidade. Todos os conflitos giram em torno do sexo, mas, desenvolvem-se de maneiras particulares.

Otis, por exemplo, não consegue se apropriar do prazer sexual, apelando para a masturbação. Já Maeve vende a imagem de promiscua e garota má, entretanto, apenas oculta a realidade para não expor suas fragilidades e vida problemática. Melhor amigo do protagonista, Eric (Ncuti Gatwa) é um rapaz gay afeminado lidando com a sua identidade sexual e em como externá-la para o mundo. Tem mais: Aimee (Aimee Lou Wood) adora fazer sexo, mas ainda não aprendeu a encontrar o que realmente lhe dá prazer ao realizar o ato; Lily (Tanya Reynolds) escreve quadrinhos eróticos, mas nunca conseguiu perder a virgindade.

As chances de perder a mão no meio do caminho eram imensas, mas, “Sex Education” consegue ir de momentos hilários para outros muito dramáticos de maneira bastante orgânica. O humor existe nessa concepção desconstruída de adolescentes que vivem sexo e seus dilemas com muita intensidade.

Além disso, “Sex Education” vai na contramão do conservadorismo com que o sexo é tratado atualmente por uma parcela cada vez maior da sociedade. A produção apresenta o assunto como algo natural da vida do ser humano chegando em alguns momentos a ser didática na abordagem, principalmente, nas cenas onde Otis está dando conselhos nas sessões de terapia sexual para pessoas da mesma idade que ele. Laurie Nunn faz questão de colocar o espectador nessa posição de desconforto junto aos personagens e consegue ser bem-sucedida porque tudo é bem escrito, engajando o espectador a sentir empatia por esses personagens.

A história se encerra redonda e, mesmo assim, o espectador fica no desejo de mais. As ações e reações da narrativa são proporcionais à realidade de cada um. Uma história para jovens, mas que os adultos podem se entregar sem medo, afinal sexo é universal e aqui você se entretém vendo como as pessoas lidam com ele.