Conheci Agnès Varda aos 15 anos de idade.

No momento da vida que eu desvendava o cinema, suas possibilidades e me apaixonava. Foi assistindo “Reposta das Mulheres”, um pequeno manifesto feminista sobre a mulher e seu corpo, que eu descobri que o cinema também pode, e deve, ser político e que nós, mulheres, também fazemos parte dele. Varda me mostrou isso e além.

Uma apaixonada pelas pessoas e pela beleza residente no comum, muito mais que pioneira da Nouvelle Vague, Varda foi, como a Hollywood Reporter perfeitamente definiu, “uma obra viva de arte”.

Na última sexta-feira, Agnès Varda saiu de cena definitivamente, mas nos deixou o privilégio de testemunhar uma carreira extraordinária e uma produção artística que seguiu até os seus últimos dias. Ao lado dos grandes, exatamente onde ela pertence, Varda vive em cada uma de suas obras.

Nessa lista um tanto pessoal, dez produções para conhecer ou rever um pouco mais do legado de uma das mestres do cinema.

Obrigada, Agnès.

A Ópera Mouffe (1958)

Primeiro curta da carreira, feito durante sua primeira gravidez. Varda documenta os transeuntes da rua Mouffetard, pelos olhos de uma mulher grávida. Simples, mas já sincero a essência da cineasta.


 

Os Panteras Negras (1968)

Agnès registra a mobilização dos Panteras Negras pela liberdade de um de seus líderes, Huey Newton, e o debate criado em torno da sua prisão. Como uma observadora, a voz do grupo é colocada no centro para falar da própria história.


Resposta das Mulheres (1975)

Curta-metragem feito para um programa de televisão, mulheres respondem o que significa ser mulher. Em alguns minutos, Varda evidencia a exploração feminina em razão do seu corpo, seja pela maternidade ou como objeto erótico para vender ou servir.


Daguerreótipos (1976)

Documentário sobre o cotidiano da sua vizinhança, na rua Daguerre, região que viveu boa parte da sua vida. Varda captura a beleza que reside na vida comum e homenageia os moradores e comerciantes que dão vida ao lugar.


Documentira (1981)

Ficção em formato de falso-documentário, o filme acompanha uma mulher recém-divorciada e seu filho tentando reconstruir a vida. Com alguns elementos pessoais, Varda faz um retrato da maternidade, solidão e da condição de mulher.



Os Renegados (1985)

Um dos clássicos de Agnès Varda. E o tem motivo para ser. A partir do corpo congelado de uma jovem, Varda tenta desvendar sua história por meio do olhar daqueles que cruzaram seu caminho. Uma bela representação da subjetividade da mulher que não pertence.


Você tem belas escadarias, sabia? (1986)

Curta-metragem encomendado pela Cinemateca Francesa em comemoração aos seus 50 anos. Intercalando a escadaria do lugar e as escadas das histórias que suas salas mostram, Varda presta uma homenagem ao cinema e a mágica que acontece lá dentro. Pequeno, mas grandioso.


Jane B. por Agnès V. (1988)

Retrato da atriz e cantora Jane Birkin. O trabalho é um deslumbre da força criativa de Varda, que captura de forma bem particular e como poucos, a individualidade e as diversas dimensões de Birkin. Um olhar livre e belo.


Jacquot de Nantes (1991)

Varda retrata de forma muito pessoal e característica a jornada do marido Jacques Demy. Os cineastas viveram juntos por mais de trinta anos até a morte de Demy um ano antes do lançamento do filme. Biográfico e documental, o filme é verdadeiro tributo de Varda ao companheiro de vida e arte. Uma declaração de amor das mais belas já feitas no cinema.


As Praias de Agnès (2008)

Documentário autobiográfico feito em razão dos seus 80 anos, Varda resgata suas memórias na missão de revisitar e recriar a própria jornada. Fiel ao seu espírito, Agnès partilha sua história do mesmo modo que ela fez arte. Pulsando reflexões e sentimentos variados, somos testemunhas de uma vida extraordinária. Varda fez exatamente como disse, “recordou enquanto viveu”.