No sábado, 18 de julho, foi realizada a terceira mesa-redonda do Cine Set no espaço Thiago de Mello da Livraria Saraiva, no Manauara Shopping. Intitulada “Mulheres no Cinema”, a mesa-redonda teve por objetivo debater diversos tópicos relacionados a um dos assuntos do momento: a luta cada vez mais presente das mulheres por respeito e melhores oportunidades dentro do mundo do cinema, tanto à frente quanto atrás das câmeras. O evento teve como participantes Susy Freitas, Isabel Wittmann, Nathane Dovale, Keila Serruya e Bernardo Abinader.

Os debates foram abertos por Susy Freitas, jornalista, professora e crítica do Cine Set. Ela falou sobre o princípio da atividade cinematográfica e do papel que algumas mulheres tiveram nesse início do cinema. Susy destacou sobretudo o trabalho de Alice Guy-Blaché, considerada a primeira mulher cineasta da história e um nome ainda pouco conhecido. Guy-Blaché escrevia, produzia e dirigia seus próprios filmes e, segundo consta, teria dirigido centenas de filmes em 24 anos de carreira, muitos dos quais não sobreviveram ao tempo. Mesmo assim, ainda há muito a evoluir, pois Susy relembrou também o fato de que a primeira mulher a ser indicada como Melhor Diretora no Oscar foi Sofia Copolla por Encontros e Desencontros, e isso só ocorreu em 2004. O número de mulheres nas posições de roteiristas e diretoras no cinema, de modo geral, ainda é pequeno.

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Em seguida foi a vez de Isabel Wittmann, crítica de cinema, autora do blog Estante da Sala e colaboradora do site Cinema em Cena. Ela examinou a questão pelo viés antropológico, falando sobre as diferentes representações de masculinidade e feminilidade no cinema desde os seus primórdios, e como essas representações estão vivas ainda hoje. Ela citou também os casos específicos dos filmes Rainha Cristina (1933), estrelado por Greta Garbo, Núpcias de Escândalo (1940), com Katherine Hepburn, e Mary Poppins (1964), e suas diferentes visões sobre o papel da mulher em suas respectivas épocas.

O terceiro participante da mesa foi o pesquisador e diretor de curta-metragem Bernardo Abinader, que forneceu um panorama histórico ao abordar a forma como as mulheres foram representadas, de modo geral, na história do cinema comercial americano. Abinader não deixou de relacionar o fato de que a época do cinema mudo foi o período no qual houve mais mulheres diretoras nos Estados Unidos. Esse tópico gerou debate e vários filmes renderam “pano para discussão”, como o clássico E o Vento Levou (1939), o ousado Uma Rua Chamada Pecado (1951) e o sucesso da Sessão da Tarde, Clube dos Cinco (1985).

Depois, foi a vez da jornalista cultural Nathane Dovale abordar as diferentes representações da mulheres envolvidas com a indústria cinematográfica na mídia. As entrevistas das cerimônias de premiação foram especialmente destacadas pela jornalista: enquanto os atores respondem questões sobre a sua carreira e os desafios que enfrentam para desempenhar seus papeis, as atrizes frequentemente ficam limitadas a responder sobre sua aparência ou suas roupas.

Por fim, a produtora cultural e diretora de curtas-metragens Keila Serruya falou sobre suas experiências pessoais ao trabalhar com travestis e transgêneros em seus curtas-metragens, e ainda sobre seu trabalho em produções cinematográficas com equipes predominantemente compostas por mulheres. Sua fala ressaltou como a situação é ainda pior quando se trata da representação das mulheres negras na mídia, especialmente na TV e no cinema. Ela também discorreu sobre como a mulher é representada na atual produção do cinema nacional, e sua opinião foi predominantemente negativa.

De todas as mesas-redondas que o Cine Set já realizou, esta foi a que teve maior sucesso de público. Toda a lotação do espaço Thiago de Mello foi ocupada, com pouco mais de 50 pessoas na plateia, e vários membros do público interagiram, propondo questionamentos e apresentando outros pontos de vista aos participantes da mesa. Eventos como esse servem para movimentar a cena cinéfila de Manaus e estimular a capacidade de discussão e visão crítica sobre o cinema. A julgar pela capacidade da plateia em se engajar no debate estimulado pelos participantes, pode-se concluir que a mesa-redonda “Mulheres no Cinema” atingiu seu objetivo.