Cinebiografias são complicadas: esse tipo de filme que se propõe a contar a história de alguma figura ilustre geralmente acaba por sofrer algum revés. O principal deles com certeza é a falta de coragem.

Roteiros genéricos que se acovardam e não aprofundam em assuntos tabus ou que gerem grande polêmica ou repercussão. E claro: o temor em macular a imagem do protagonista, com a preocupação de acabar não agradando ao público ou até mesmo a pessoa retratada (se ela estiver viva). O sucesso comercial pode até vir, mas, a crítica sempre vai sentar a mão pela falta de humanidade muitas vezes dos personagens representados.

Se as produções americanas já sofrem com cinebiografias covardes, as nacionais então nem se fala. O assunto retorna por conta da chegada da cinebiografia de Erasmo Carlos. Intitulada Minha Fama de Mau, o filme conta com Chay Suede defendendo o papel do Tremendão e ainda tem Gabriel Leone fazendo as vezes de Roberto Carlos e Malu Rodrigues como Wanderléia completando a Trindade que encabeçou a Jovem Guarda.

Outra, em breve, que vai estar chegar nos cinemas (espero que sim) é o polêmica Marighella (que fez sua estreia agora no Festival de Berlim) Seu Jorge está no papel principal da estreia de Wagner Moura na direção.

Por conta da qualidade dos filmes na lista de hoje não vou me concentrar em falar deles, mas das atuações e composições dos atores.

As Melhores


Andréia Horta, em “Elis”

O filme sofre com graves problemas de roteiro e na montagem, entretanto, a composição da atriz revelou-se competente e fidedigna. Tanto é que a Elis Regina de Andréia acabou vencendo o prêmio de melhor atriz no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2017, desbancando até mesmo Sônia Braga, por Aquarius (que, para mim, foi a melhor interpretação do cinema nacional daquele ano).


Nelson Xavier, em “Chico Xavier”

Nelson Xavier é um ator excepcional e a semelhança com o Chico não é apena no sobrenome. Com a peruca e o óculos, o ator fica um sósia impressionante do maior representante do Espiritismo do país. Vide o momento da entrevista do pinga fogo. O ator foi tão bem que voltou a interpretar Chico em outro filme, em As mães de Chico Xavier.


Daniel de Oliveira, em “Cazuza – O Tempo não para”

Atenção para polêmica, quem não gosta de uma?

Mas, para mim, Daniel de Oliveira faz um trabalho mais interessante como Cazuza do que Rami Malek e seu Freddie Mercury em “Bohemian Rhapsody”. O trabalho do ator é interessante e imersivo. Infelizmente, o filme sofre principalmente com a falta de esmero na recriação dos shows do Barão Vermelho e o roteiro maltrata o compositor em alguns momentos, mas Daniel faz muito bem seu trabalho.


Júlio Andrade, como Gonzaguinha em “Gonzaga – De pai pra filho”

Breno Silveira já é veterano em direção de cinebiografias, tendo anteriormente feito o comovente “2 Filhos de Francisco”. Nesta cinebiografia, até poderia colocar Adélio Lima fazendo as vezes de Gonzaga, mas quem chama atenção mesmo é Júlio Andrade ao reencarnar Gonzaguinha. O ator não apenas capta as características físicas do cantor/compositor como também atua bem demais.


Lázaro Ramos, em “Madame Satã”

João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã – apelido que veio de um filme homônimo de Cecil B. DeMille – foi uma figura absolutamente polêmica da noite carioca. Negro, homossexual, transformista em uma época de preconceitos ainda tão ou mais fortes que os atuais. Lázaro Ramos, nem era tão conhecido na época de realização do filme, e se despiu de qualquer vaidade, fez um trabalho digno de nota e levou os holofotes para si.


Rodrigo Santoro, em “Heleno”

Rodrigo Santoro é, sem dúvida, dono de diversas boas interpretações no cinema nacional. “Bicho de Sete Cabeças” e “Abril Despedaçado”, por exemplo, provam tal afirmação. E sua composição como o jogador do Botafogo, Heleno de Freitas, pode se juntar a elas. Um atleta excepcional nos campos, mas com um comportamento reprovável fora deles. O filme ainda é corajoso em deixar o futebol em segundo plano e exibir a autodestruição do personagem e explorar sua queda.

A pior


Ary Fontoura, como Lula em “Polícia Federal: A Lei é para todos”

Não importa o seu posicionamento político, a interpretação que Ary Fontoura faz do ex-presidente da República é bizarra. Sempre aborrecido, atarracado e com cara de quem vai matar alguém, Ary – que jura que não inventou o biotômico – não atua, mas faz uma caricatura de quem ele imagina ser Lula (e, convenhamos, ele nunca escondeu seu ódio pelo petista). Aqui, ele transforma Lula em uma versão sem os poderes e o senso de humor de Palpatine.

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