Ah, janeiro…  

Caro leitor, você não sente uma preguiça no comecinho de janeiro, como se o ano demorasse um pouco para engrenar depois das celebrações de dezembro? Eu sinto. E Hollywood também sente, pelo visto. O que vemos estrear no começo do ano, geralmente? Ora, filmes do Oscar, para a temporada de premiações, e alguns lançamentos nos quais os estúdios quase sempre não botam muita fé, para ver se eles arrecadam algum dinheiro numa época do ano menos tumultuada para estreias. É uma prática comum da indústria, que dá certo às vezes, do ponto de vista comercial, às vezes não. Por via das dúvidas, um senso comum que aprendemos depois de acompanhar a produção de Hollywood por algum tempo, é “cuidado com os idos de janeiro/fevereiro”. 

É o caso deste Ameaça Profunda. Segundo relatos, esta produção da 20th Century Fox foi filmada lá atrás, em 2017, ficou presa por um tempo na fusão Fox-Disney e só agora está sendo lançada nos multiplexes do mundo. Em janeiro. Ou seja, chega cercado de expectativas não muito boas. 

De fato, não é um filme bom. Mas não chega a ser realmente ruim: tem bons valores de produção – um ótimo trabalho de direção de arte e efeitos visuais – e uma ou outra cena com um suspense eficaz. É mais um clone de Alien (1979), o clássico de terror e ficção-científica de Ridley Scott, ambientado debaixo d’água. Se você já viu Alien, leitor, e consegue imaginar uma versão dele no fundo do mar, é provável que consiga conceber uma história bem semelhante ao deste Ameaça Profunda. Também lembra um pouco O Segredo do Abismo (1989), de James Cameron, que, aliás, dirigiu a continuação de Alien. O problema deste filme é a preguiça: ele é mais esquecível do que ruim. Alien realmente é um dos mais influentes filmes já feitos mas precisa seguir a cartilha dele tão à risca, sem apresentar quase nada de novo? 

Ameaça Profunda se inicia com um desastre numa estação mineradora no fundo do oceano. A heroína, Ripley – opa, não, Norah (vivida por Kristen Stewart) – assume o comando da situação e começa a reunir uns sobreviventes. Todos os personagens são definidos apenas por suas funções, assim como em Alien. Claro, tem o alívio cômico, feito por T. J. Miller, que desde a época das filmagens acabou virando pária em Hollywood por diversas polêmicas. Enfim… Para escapar, eles são forçados a percorrer uma distância até outra estação. No caminho, encontram uns aliens, opa, criaturas no escuro do fundo do mar que os vão pegando um a um. Em certo momento, os heróis encontram uma versão menor de um deles, parecido com aquele que saiu do peito do John Hurt, completo com muco e tudo. Em outra cena, um monstro maior tenta comer o rosto da heroína. No final, Norah fica de calcinha, igual à Ripley no desfecho do seu filme. Ainda bem que Ameaça e Alien pertencem ao mesmo estúdio… 

KRISTEN SE SALVA 

Se o roteiro de Brian Duffield e Adam Cozad não ganha pontos por originalidade ou mesmo esforço – São muito bobocas as cenas em que os personagens tentam “conversar sobre suas emoções” durante a correria para sobreviver – a direção de William Eubank, do razoável suspense de ficção-científica O Sinal (2014), ao menos trabalha para criar um pouco de tensão em alguns minutos. As cenas iniciais da destruição da estação realmente prendem a atenção e Eubank capta o caos de maneira impactante, mesclando computação gráfica com elementos rodados na set. Mas… É pouco. Acaba que o filme, por ser ambientado no escuro e debaixo d’água, não oferece tantas possibilidades visuais e a montagem, junto com a encenação, cria momentos de confusão visual. Em certas cenas fica difícil de saber qual personagem está de fato em perigo, ou como alguns escapam dele. 

O que resta é o elenco, fazendo o que pode para justificar seus pagamentos. O filme tem bons atores – Vincent Cassell, Jessica Henwick de Punho de Ferro e John Gallagher Jr., que passa quase o tempo todo deitado. Gallagher inclusive participou de um terror/sci-fi bem melhor que este aqui, Rua Cloverfield, 10 (2016), há alguns anos, e é até divertido imaginar Ameaça como parte do “universo cinematográfico Cloverfield”. Será que o J. J. Abrams leu este roteiro? 

No centro de tudo está Kristen Stewart, cada vez mais uma presença interessante. Ela já admitiu que anda fazendo papeis em grandes produções para viabilizar uns pequenos dramas independentes que parecem ser a sua real paixão desde o fim da sua fase Crepúsculo. Até agora isso não vem dando muito certo para ela, mas seu jeito meio alienígena torna este Ameaça Profunda um pouco mais interessante do que seria sem ela como protagonista. Stewart tem uma atuação intensa e focada; ela corre, pula, prende a respiração e leva o filme nas costas. 

Mas no fim das contas, é um esforço meio inútil. Pelo menos Ameaça Profunda é um filme B curto – cerca de uma hora e meia – e que, por ser despretensioso, acaba até quase entretendo. Existem outros filmes, maiores e mais inchados, que poderiam se beneficiar desse tipo de abordagem. Dez minutos depois de sair da sessão, você já o esqueceu. Este parece ser o destino de muitos lançamentos hollywoodianos do começo do ano nos multiplexes. Dá uma preguiça de sair pro cinema nessa época… É melhor ficar na cama, no ar condicionado, com uma boa companhia, revendo Alien. 

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