Após fechar um período de 10 anos no cinema, a Marvel prepara a nova leva de super-heróis que irão ficar no imaginário das próximas gerações. Ao finalizar “Vingadores: Ultimato”, já era óbvio que o estúdio comandado por Kevin Feige já tinha em mente o que fazer com todos aqueles personagens que haviam surgido nestes dois últimos anos como “Pantera Negra” e “Capitã Marvel”, por exemplo.
No entanto, faltava uma figura que conseguisse unir novamente, aos olhos do público, o grupo de heróis mais forte do universo. E é neste ponto que reside boa parte do arco dramático do jovem Peter Parker (Tom Holland) neste “Homem Aranha: Longe de Casa”. A produção, porém, é apenas mais um “filme de herói”, com seus já delimitados arcos e preocupações, como salvar o mundo, mas chama a atenção pelos diálogos e temáticas de “coming of age” e de fake news que tenta trabalhar.
Começando um pouco depois dos eventos que ocorreram em “Ultimato”, “Longe de Casa” insere Peter Parker em um mundo ainda lidando com as consequências deixadas pelo estalar de dedos de Thanos. Ao mesmo tempo, mostra também as preocupações de um adolescente: se divertir e conquistar a garota de seus sonhos, nesse caso, Mary Jane (Zendaya). Evidente, é claro, que uma força além da compreensão do Homem Aranha e de Nick Fury (Samuel L. Jackson) irá surgir. Entra em cena Quentin Beck, o Mysterio (Jake Gyllenhaal), para tentar ajudar os dois contra a força dos “Elementais”, seres de outro mundo que usam os quatro elementos para causar destruição.
Novo Líder, Novas Responsabilidades
O que mais chama atenção em “Homem-Aranha: Longe de Casa” são as conversas entre os personagens, algo incomum em um gênero que investe em grandes sequências de ação para dar força aos seus filmes. As angústias de Peter Parker são bem apresentadas no roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers. Parker tem apenas 16 anos e “do nada” deve agir como uma das pessoas mais responsáveis e cheias de responsabilidades do mundo.
A relação que Peter e Tony Stark tinham, e a falta que ela traz, é apresentada a todo momento no filme, seja através de falas, seja em murais expostos em diferentes cidades no mundo. O Amigo da Vizinhança não se vê como algo além disso mesmo: uma espécie de herói preso ao seu universo particular em Nova York. As ambições de Peter estão no limite do que alguém de 16 anos busca e é inevitável que ele queira dar um tempo em querer salvar o mundo para poder salvar a juventude que define uma pessoa da idade dele.
Nesse conflito entre o que Peter quer e o que Nick Fury deseja, e por tabela o que o mundo espera, que define boa parte do peso de “Longe de Casa”. Logo, quando surge Mysterio, e Peter vê ali uma espécie de “próximo Tony Stark”, ele começa a querer passar suas responsabilidades para aquela nova figura paterna e acolhedora que surge.
O elenco de “Homem-Aranha: Longe de Casa” expressa esse duelo muito bem a começar por Tom Holland em um misto de insegurança e ingenuidade bem construídos para Peter Parker. No momento em que ele passa a assumir as obrigações que tanto lhe são impostas por todos ao seu redor, uma primeira comparação é com os trejeitos de Robert Downey Jr. para Stark, mas aqui Holland traz características próprias para Parker.
Já Jake Gyllenhaal prova aqui ser um dos atores mais versáteis na história recente do cinema. Se o ator consegue trazer carisma e peso emocional para um dos vilões mais genéricos dos últimos anos, fica difícil dizer o que ele não consegue fazer. Indo do drama à paródia em um piscar de olhos, ele não desperdiça seu talento neste projeto.
O elenco secundário também consegue segurar as pontas dando destaque para Zendaya como Mary Jane e sua personalidade alternativa e misteriosa, e, claro, Jacob Batalon como o sempre divertido Ned.
Fake News e a necessidade de se acreditar em algo
Mesmo que o foco do filme seja criar um novo líder para os Vingadores, “Longe de Casa” também constrói sua narrativa em cima do universo das fake news. A forma de olhar para um episódio e as diferentes narrativas que surgem, dependendo do ponto de vista, são um ponto chave da discussão do filme para o mundo em que vivemos.
“O mundo precisa acreditar em algo” é uma fala recorrente nas falas do vilão, situando aí o momento atual onde forças extremistas utilizam as mídias sociais para trazer seu lado da história e distorcendo a noção da realidade para boa parte do público.
Neste sentido, “Homem-Aranha: Longe de Casa” é bastante positivo por aliar este discurso com um filme de sequência, não deixando para o espectador apenas uma história sobre “ser o novo Homem de Ferro”, mas também sobre os perigos do mundo em que estamos vivendo.