A despeito das referências a “Crepúsculo” e ao rap contemporâneo, tem algo de essencialmente vintage em “Magic Mike XXL” (2015), a começar pelo logo da Warner usado no início do longa – o mesmo usado por Kubrick em “Laranja Mecânica” (1971), para você ter noção do tempo.

Aproveitando a referência temporal, vale lembrar que “Laranja” precede a série “O Poderoso Chefão” (iniciada em 1972) e a primeira trilogia “Guerra nas Estrelas” (1977) que estabeleceram sequências de qualidade e começaram a ditar as características das franquias cinematográficas como as conhecemos.

Ainda que sequências já existissem, elas obedeciam um axioma que, mesmo com o mercado tendo evoluído, não foi esquecido: repita alguns charmes do original, só com que mais orçamento, efeitos e atores famosos. Essa premissa simplória é a tomada pelo filme do diretor Gregory Jacobs e acaba servindo, ainda que inadvertidamente, como um ato de desafio em um mundo propenso a “universos cinematográficos”, com vários filmes servindo especificamente a um papel dentro de um grande quebra-cabeça.

Artifícios narrativos clichês e óbvios, como personagens que só cumprem um papel e conflitos cuja resolução aparece clara e imediatamente, lotam o filme. O grande trunfo que faz o fio de trama funcionar, no entanto, é um tom acertado que não nega sua essência e nem se perde no (literal) lusco-fusco da jornada dos protagonistas.

Enquanto o filme de 2012 mergulhava de cabeça nos traumas emocionais dos strippers da Flórida, a sequência abre mão disso em prol de uma pegada cômica que faz pleno uso do ridículo a que Mike (Channing Tatum) e seus companheiros se submetem na busca de satisfazer o olhar feminino.

Essa pegada gera não um, mas vários momentos hilários (foi o filme que mais me fez rir em 2015 até agora): a dança de Richie (Joe Manganiello) ao som de Backstreet Boys, a sequência dos strippers dançando no estilo “vogue” (super-respeitosa com a cultura gay) e o acidente que o grupo sofre em seu trailer. Entre uma piada e outra, o filme consegue estabelecer seus temas de vaidade e companheirismo masculino, bem como tocar na necessidade de afirmação que leva esses homens a se transformarem no objeto de desejo das mulheres.

Essa necessidade não é explorada na mesma dimensão que no primeiro filme, mas tampouco passa à revelia do roteiro deste: a maioria deles está perdida na vida, envelhecendo a olho nu, e o que parecia mais encaminhado, Mike, vê sua vida doméstica ir pro buraco. A viagem para a convenção de strippers (não ria) acaba virando uma forma de redenção para todos, ainda mais diante da deserção do antigo líder do grupo, Dallas (Matthew McCounaghey, ausente de “XXL”).

Se isso parece uma versão com mais nudez de “Pequena Miss Sunshine” (2006), não tema: os cenários que respiram luxúria explicitam que este filme tem um público mais velho em vista. O Sul estadunidense, onde a história se passa, é usado com grande efeito pela fotografia, que fica a cargo do diretor do primeiro filme, Steven Soderbergh.

Steven costuma ser diretor de fotografia e editor de seus próprios filmes e sua mão experiente faz toda a diferença aqui, onde ele exerce essas duas funções: tomadas longas e cuidadosamente iluminadas mantêm um senso dramático nas cenas de performance, o que as tornam pequenos esquetes de fantasia, com uma mistura perfeita de câmera na mão e nos trilhos. Em nenhum momento isso fica mais claro do que nas performances finais de Ken (Matt Bomer), filmada em uma contraluz magnífica, e de Richie, editada à perfeição ao som do hino sexual “Closer”, da banda Nine Inch Nails.

Além disso, as longas sequências no clube dominado pela hostess Rome (Jada Pinkett-Smith, tão sexy quanto uma música da Sade) são filmadas em tons fortes de cores quentes, gerando um turbilhão de imagens frenéticas que permanecem na mente do espectador por um bom tempo. Fora dos clubes, a mansão da Era Antebellum da personagem de Andie McDowell (atriz que teve um ápice de carreira nos anos 90 e hoje faz falta na telona) também dá o clima “proibidão” do Sul imaginado pelo filme.

Apesar de ser, em essência, um filme sobre masculinidade, “Magic Mike XXL” coloca o poder na mão das mulheres várias vezes, desde a escalação de competentes atrizes de meia-idade para papeis importantes (McDowell e Pinkett-Smith estão fantásticas, em especial esta última) e a busca de seus protagonistas por validação através delas. Ademais, apesar de suas limitações de roteiro, o longa é muito satisfatório pela honestidade e pelo primor técnico exibidos durante todo o tempo de projeção. Se você gostar dessas coisas, bem como de ver um monte de homens bombados e seminus dançando sensualmente, aí você tem seu filme do ano.