“Wasp Network” não é o inferno, mas está cheio de boas intenções. A trama real dos Cinco Cubanos, que espionaram em prol da terra natal em pleno solo americano, rende um thriller implacável. Infelizmente, ele continua na promessa. O novo longa de Olivier Assayas, baseado na história, é um irregular amálgama de fatos e exposições que falha em transmitir a dimensão emocional das decisões do grupo.  

O filme, que estreou em Veneza e teve passagens sem muito alarde em Toronto e Nova York, foi exibido no Festival de Londres. Wasp Network” abre com o piloto René (Edgar Ramírez) fugindo de Cuba e deixando a esposa Olga (Penélope Cruz) e a filha para trás. Ao chegar nos Estados Unidos, ele não tarda a ser chamado por José (Leonardo Sbaraglia) para fazer parte de uma organização aérea anticastrista que se dedica a resgatar cubanos perdidos em alto-mar. 
 
O único problema é que, no fundo, René não é contra o regime de Fidel. Sua lealdade à pátria acaba levando-o a ser recrutado para a “Rede Vespa”, um braço da inteligência cubana encarregado de desmantelar ações terroristas organizadas por agentes estrangeiros, e sua vida muda para sempre. 

SOBRA VAZIO ENTRE DRAMA PESSOAL E HISTÓRICO 

Escrito por Assayas, o roteiro da co-produção França-Brasil-Espanha-Bélgica usa o livro “Os Últimos Soldados da Guerra Fria”, do brasileiro Fernando Morais, como ponto de partida para uma história cujo tom segue incerto do início ao fim. Ao claramente escolher o personagem de Ramírez como protagonista, o filme pesa a mão ao dramatizar o conflito interno de René como agente duplo em detrimento a contar a história do grupo como um todo. 
 
A carga emocional desse conflito, no entanto, é diluída pelas incessantes inserções de fatos históricos, como se o cineasta se lembrasse de coisas importantes do nada e as colocasse em cena. Um exemplo gritante disso é Gerardo (Gael García Bernal), um agente importantíssimo para o desenvolvimento da Rede Vespa que é apresentado quase na metade do filme para a surpresa da plateia. 
 
Nesse ínterim, aspectos menores da vida de personagens se apresentam como ótimos assuntos para serem abordados no longa, mas nunca parecem devidamente explorados. Um deles é a diferença de crenças dentro do grupo. O contraste entre a convicção ideológica de René e o oportunismo do piloto Juan Pablo (Wagner Moura), que colabora até com o FBI quando lhe convém, daria sozinho um filme. A forma como, na clandestinidade, os atos de salvar refugiados, fazer terrorismo e traficar drogas se misturam, daria outro. 
 
Em última instância, por mais bem-feito que seja, a impressão que fica é a de que a complexidade dos fatos caberia melhor numa série. Em sua atual forma, “Wasp Network” voa a mesmo ao redor do seu alvo mas não o atinge, como uma oportunidade perdida. 

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