No ano em que Sharon Tate renasceu e uma cidade pernambucana desapareceu do mapa, por que não os Beatles nunca terem existido? “Yesterday” parte desta interessante premissa para unir dois gigantes do cinema mundial: o diretor Danny Boyle, do cult/clássico “Trainspotting” e do oscarizado/supervalorizado “Quem Quer Ser um Milionário?”, com o roteirista Richard Curtis, das adoráveis comédias românticas “Quatro Casamentos e um Funeral”, “Um Lugar Chamado Notting Hill” e “Simplesmente Amor”.
Tinha tudo para dar MUITO certo, né?
Mas, infelizmente, não deu.
“Yesterday” acompanha a história de Jack Malik (Himesh Patel), um músico sem muito talento, fazendo show em qualquer lugar graças a empresária informal e amiga, Ellie (Lily James). Tudo muda quando em uma noite o mundo sofre um apagão de 12 segundos no mesmo momento em que ele acaba atropelado. Recuperando-se, Malik descobre que os Beatles nunca existiram, levando-o a ter a ideia de alcançar o sucesso com as canções do quarteto de Liverpool.
Durante os 116 minutos de filme, a sensação deixada por “Yesterday” é a que o brilho ficou no argumento e não se transformou em um roteiro bem-acabado. Sempre tão capaz de tirar comédias românticas da mesmice, Richard Curtis faz, sem dúvida, o pior trabalho da carreira no gênero. Desencontrado, o roteiro não consegue fazer engatar o romance entre os protagonistas por simplesmente não estarem na mesma sintonia.
Enquanto Ellie realmente parece de fato apaixonada e disposta a tudo, Malik encara aquilo como algo menor para a própria vida, sendo a música dele ou dos Beatles o real interesse. Isso chega ao ponto dele se calar ao vê-la lendo post-it de “Michelle” e outros títulos de músicas românticas dos Beatles sem esboçar uma mísera reação ou lamento. A preocupação é revelar ou não a verdade em vez da possibilidade do fim de qualquer chance de romance.
Os obstáculos do amor impossível enfrentados por Jack e Ellie também soam, muitas vezes, como contornáveis, bastando um pouco de boa vontade de ambos para resolver. Não à toa a cena dele correndo para encontrar Ellie na plataforma do trem soa totalmente deslocada. A situação só não é pior pela entrega e o carisma absoluto de Himesh Patel e, principalmente, Lily James, uma daquelas atrizes raras capazes de iluminar a tela do cinema com uma simples aparição.
PODIA SER GRANDE…
Criando trocadilhos péssimos com os títulos das músicas sempre que possível para fazer um diálogo engraçadinho, Curtis ainda parece preguiçoso ao recriar personagens e até mesmo situações semelhantes a filmes anteriores da carreira. Chega a ser embaraçoso, por exemplo, ver o amigo loucão de Jack, interpretado por Joel Fry, sem recordar Spike (Rhys Ifans), o colega de casa chapado de Hugh Grant em “Notting Hill”. Em determinado momento, repete-se até uma cena em que Jack pede ao colega calar a boca após um momento importante ter dado errado.
Já Danny Boyle soa deslocado dentro da comédia romântica. Em um gênero pouco afeito à agilidade e ao sarcasmo tão característicos de sua filmografia, o diretor britânico soa travado e não consegue imprimir muita personalidade em “Yesterday”. Vez ou outra, aparece um plano mais ousado do diretor de fotografia Christopher Ross e a decupagem precisa do cineasta, mas, bem pouco para o padrão Boyle.
Dizer que “Yesterday” é um desastre seria um exagero: ver Ed Sheeran levar a zoeira na boa, o delicioso trecho sobre “Eleanor Rigby”, a ótima Kate McKimmon roubando a cena e, claro, o singelo momento na praia com uma homenagem para fazer qualquer fã dos Beatles suar pelos olhos compensam os problemas – mesmo que não faça o menor sentido dentro da (i)lógica da trama.
Fora que não é todo dia que se pode escutar obras-primas como “Hey Jude”, “The Long and Winding Road” e “Let it Be” em alto e bom som nos cinemas. Por tudo isso, dói o resultado ser tão aquém do que poderia ser.
Evidente que o mundo seria muito mais sem graça se não existisse “While My Guitar Gently Weeps” ou “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band”. Agora, se um apagão sumisse com “Yesterday”, sem dúvida, pouca gente notaria.
Ótimo texto, foi isso mesmo o que senti qdo terminei de ver o filme. E a parte final da crítica?Dei uma risada hahaha
Yesterday é uma das músicas mais regravadas do mundo, é uma das mais ouvidas dos Beatles no Spotify! Acho que a grande maioria notaria sim! Garanto se cantar as outras duas músicas na rua, a maioria n sabe de quem é, agora Yesterday…
Acho que ele se refere ao filme, e não à música.
Penso que o filme poderia ter um enfoque temporal em conexão com suas músicas e sua influência na vidas das pessoas através dos tempos e do que representaram a todos que viveram através de suas canções. A crítica a este filme não e prefeita como o filme não é. É um bom filme e uma homenagem inusitada. Pensando sobre a mensagem, realmente o mundo seria mais pobre sem as músicas dos Beatles. Agora dizer que se um apagão sumisse com “Yesterday”, sem dúvida, pouca gente notaria, meu deus é uma constatação totalmente idiota. Afinal se um apagão acontecesse em relação a está música, todas as pessoas não teriam ciência que uma obra prima desta, fez parte do mundo e sim, se isso acontecesse como é dito por este crítico, muitas e muitas e muitas pessoas notaria. Ela é umas das músicas mais antes escutadas e hoje mais baixadas.
Ainda bem que opinião é que nem… umbigo… Cada um tem o seu!
Um filme que assisti empolgado e terminei extremamente frustrado, uma porcaria
Filme péssimo, o romance é totalmente desnecessário no enredo, chega a encher o saco, a personagem da empresária do Ed Sheeran é forçadamente insuportável, roteiro cheio de ponta solta, não tem explicação pra coca-cola e o cigarro terem sumido por causa dos Beatles, pqp, eu fico com raiva só de lembrar desse filme. Nota 2, 2 pontos só pela cena do John que quase foi emocionante mas ainda poderia ser melhor explorada. Não assistam, só o trailer q vale a pena.
Queria eu ter esta moral de dizer o que os outros devem ou não assistir.
Ainda bem que seu comentário foi meramente opinativo. Aí merece a atenção de qualquer outra opinião de desconhecido
Não sou conhecedor de cinema, identifiquei o que foi apontado nos comentários como pertinente…os aspectos falhos na construção do filme. Nasci quando os Beatles estavam no auge. São gênios incomparáveis na música. Não perdia o “Além da Imaginação”. Tudo isto me afasta ainda mais de qualquer análise do filme. Acabam os pontos favoráveis atropelando as falhas. Fico mesmo pensando se não foram falhas uma vez que o filme está calcado num argumento com um pouco de nonsense (muito divertido). A boa ideia, os atores, a cena do Jonh Lennon e a memória afetiva da humanidade (nem que seja por osmose) o fazem um filme arrebatador.