O quarto episódio de “Game of Thrones”, intitulado “The spoils of war“, tem em sua estrutura algo que remonta aos melhores e aos piores momentos da série em temporadas passadas. Aos melhores, pois trouxe uma empolgante batalha que enriquece a queda de braço entre Cersei (Lena Headey) e Daenerys (Emilia Clarke) na disputa direta pela tomada (ou manutenção) do Trono de Ferro; e dos piores, o desenvolvimento deficiente de subplots igualmente importantes que deveriam ser muito melhor trabalhados em termos de carga dramática e ritmo – o que dá uma cara de episódio filler à “The spoils of war” em alguns momentos, embora um filler bem mais divertido que a quinta temporada inteira.

Com a tomada do castelo dos Tyrell, Jaime (Nikolaj Coster Waldau) e companhia conseguem dois itens preciosos aos Lannisters nesse ponto da guerra: grãos e ouro. A família parece prestes a cair nas boas graças dos banqueiros de Braavos e fazer com que a balança continue pendendo para o lado dos Leões. Longe dali, outra família também se fortalece, com a chegada de Arya (Maissie Williams) em Winterfell e o reencontro desta com a “rival” dos tempos de infância, Sansa (Sophie Turner).

Um bonde é um bonde.

É interessante notar nesse seguimento o amadurecimento das personagens, que flutuam entre o senso de empatia ao passo que nos conecta às personalidades tão discordantes e pueris de um mundo pré-morte de Ned Stark. Agora como jovens mulheres, cada uma tendo passado por transformações que as moldaram como adultas, elas conversam como iguais. Dentre os (re)encontros vistos até agora em Game of Thrones, esse foi sem dúvida o mais orgânico – muito diferente do de Sansa e Bran (Isaac Hempstead-Wright), por exemplo. Talvez por ter tido sua dose de desventuras com elementos fantásticos, o momento em que Arya recebe a adaga Catspaw do indiferente irmão acaba não soando tão estranho quanto ele comentar à Sansa sobre o dia de seu estupro casamento.

Às vezes, a pessoa está bem louca das ideias.

Catspaw, aliás, ganha cada vez mais destaque. Foi das mãos do Mindinho (Aidan Gillen) para as de Bran e, logo em seguida, para as de Arya. Embora ela tenha sido usada para uma desnecessária (porém divertida) cena de fan service, com a pequena lutando contra Brienne (Gwendoline Christie) de igual para igual, não podemos esquecer que o aço valiriano que compõe a arma é justamente o que moveu Jon Snow (Kit Harrington) ao Sul. Além disso, talvez a adaga ainda se volte contra o antigo dono, o Mindinho, pois nessa altura do campeonato, Bran já deve saber quem a teria utilizado para tentar matá-lo quando criança.

Um fan service que ninguém pediu, mas foi legal.

Dentre os pontos mais baixos de “The spoils of war” está a interação entre Jon e Daenerys. Ainda que essa seja a dupla que definirá tanto a batalha dos Sete Reinos quanto a batalha contra os White Walkers (e o ship mais esperado da série), os momentos que eles dividem pareceram forçados nesse episódio; contrastam, justamente, com o que vimos em “The Queen’s justice“, no qual os problemas básicos de comunicação de Jon e a altivez que por vezes flerta com a loucura de Daenerys geraram um primeiro encontro um tanto frustrante, mas perfeitamente verossímil, dadas as características dos dois personagens. Agora, a tensão sexual/romântica parece meio deslocada dentro do contexto mais amplo de desafios que eles enfrentam, talvez pela capacidade limitada de atuação de ambos os atores. Resultado: shippamos tanto quanto Sir Davos (Liam Cunningham), mas fica difícil não ignorar que esse duo precisaria de um tempo a mais de entrosamento.

Se não for problemático, eu nem shippo.

Junta-se a isso a irritante necessidade dos criadores da série de amarrar explicitamente elementos das temporadas passadas ao espectador. Quando Jon mostra à Targaryen os desenhos rupestres dos Filhos da Floresta lutando junto com os humanos contra os White Walkers para tentar convencê-la a apoiá-lo, o roteiro simplesmente repete algo que já sabemos faz tempo, e que os personagens nem precisariam saber para serem movidos a essa aliança. Pior: o roteiro duvida claramente da inteligência coletiva do fandom que transformou Game of Thrones no fenômeno que é hoje, ou seja, duvida que sejamos empolgados o suficiente para cascavilhar livros, fóruns, episódios passados etc. para relembrarmos quem diabos são os tais Filhos da Floresta.

Ao perder tempo explicando o que não precisa ser explicado, “The spoils of war” perde força a olhos vistos, o que torna obrigatório voltar a um velho recurso da série: trazer um final de episódio bombástico para nos fazer esquecer o quão “apenas ok” foram os outros 40 minutos anteriores. Por sorte, isso é algo que Game of Thrones faz bem, como pudemos conferir com o ataque de Drogon e os Dothrakis ao exército dos Tarlly e Lannister na saída de Castelo Alto.

Domingo é dia de churrasco.

Dentre os pontos altos dessa sequência, tem-se a belíssima fotografia, que outrora destacou os tons vermelhos do fardamento dos soldados dos Lannisters, e agora cede espaço aos laranjas do fogo de dragão e das vestes dos Dothrakis. Apesar do chamativo e letal “Dracarys!” ter bastante espaço de tela, é o plano-sequência da fuga de Bronn que coroa o apuro técnico do episódio, que acaba dialogando um pouco com as cenas d’a Batalha dos Bastardos da temporada passada. O resultado disso tudo é que (1) descobrimos que a arma criada por Qyburn (Anton Lesser) contra dragões não é de ser ignorada e (2) ainda bem que Jaime Lannister não estava fazendo nada muito interessante nessa sétima temporada, pois não sabemos se ele vai conseguir sair daquele lago um dia.

Com tanta informação a ser processada, “The spoils of war” vira aquele episódio safado que nos engana pelo final apoteótico e pelo fan service espirrado aqui e acolá ao longo de sua duração. Não fosse isso, ele seria um perigoso filler numa série de temporada já reduzida, isso depois de um terceiro episódio aquém dos bons dois primeiros, que preparavam terreno com certo cuidado para algo que tem, cada vez mais, obrigação de ser impecável. Ainda estamos cheios de expectativa desde o “Shall we begin?” de Daenerys no final da sexta temporada, e agora, passando da metade da sétima, não começamos tanta coisa assim.

Confira as críticas dos episódios anteriores:

Sétima Temporada, Episódio 1

Sétima Temporada, Episódio 2

Sétima Temporada, Episódio 3