A certa altura de Missão Impossível – Nação Secreta, o diretor da CIA vivido por Alec Baldwin, em meio a um discurso eloquente, afirma que “Ethan Hunt é a manifestação viva do destino”. Claro que, fazendo jus ao discurso, Hunt dá um jeitinho de aparecer logo em seguida em mais um daqueles momentos absurdos que só a franquia oferece, deixando o pobre Baldwin de queixo caído ao constatar a prova de sua afirmação.

As doses de absurdo não são novidade nenhuma na franquia: já vimos em filmes anteriores que Hunt é capaz de tudo. Escalar o prédio mais alto do mundo? Feito. Invadir um cofre pendurado por fios? Feito. Se equilibrar em cima de um trem em alta velocidade dentro de um túnel perseguido por um helicóptero? De boas. Tudo isso vivido com competência e vigor por Tom Cruise, com mais fôlego do que todos nós juntos, correndo como um verdadeiro maratonista, se pendurando em aviões, respirando debaixo d’água por mais de três minutos e fazendo altas acrobacias em cena – e o fato de o ator dispensar dublês na maioria das vezes apenas torna seu trabalho mais crível ainda.

Se Ethan Hunt/Tom Cruise sempre foi a alma de Missão Impossível, o novo capítulo que chega aos cinemas se esforça ao alçá-lo cada vez mais ao posto de ícone, do calibre de um James Bond, mas sem esquecer de humanizá-lo ao mesmo tempo. E, com eficiência, consegue. Continuamos sem saber quase nada sobre a vida pregressa de Hunt, e o agente continua sendo definido apenas por beirar a obsessão em cumprir suas missões, mas o retorno de personagens já vistos antes, como Benji (Simon Pegg), Luther (Ving Rhames) e Brandt (Jeremy Renner), amigos fiéis dispostos a ajudar mais uma vez o agente renegado (eles nunca aprendem), ajuda a criar uma unidade na série como um todo e uma identidade familiar no filme, tirando Hunt do seu papel de “lobo solitário”, o que potencializa certas situações dramáticas.

Esse é um dos principais trunfos do novo Missão Impossível, comandado desta vez pelo diretor e roteirista Christopher McQuarrie (No Limite do Amanhã), continuando com a tradição de trazer sempre novos pontos de vista à franquia. Assim como Brad Bird no capítulo anterior, McQuarrie aposta na mistura entre espionagem e ação que remete ao longa original de Brian De Palma, aumentando a escala das sequências de ação e dosando-as com humor e uma boa dinâmica entre os personagens em cena. Sua direção nunca soa confusa nas cenas de ação, e a montagem ágil de Eddie Hamilton (Kingsman) ajuda a dar vida a sequências grandiosas como a da ópera, do tanque e uma perseguição de motos que deixaria Vin Diesel e a turma de Velozes e Furiosos chorando.

Como se não bastasse, a seu favor, Nação Secreta também conta com uma personagem feminina forte e badass, muito além de uma simples femme fatale. Ilsa Hunt (com um nome desses, claro que há uma sequência em Casablanca) é vivida com uma tremenda segurança pela sueca quase desconhecida Rebecca Ferguson. Num ano em que tivemos a Furiosa de Mad Max: Estrada da Fúria, Ilsa é uma concorrente quase à altura. O roteiro também lhe atribui certa complexidade, jogando-a naquele esquema de jogo de aparências, e ela chega a até salvar o protagonista algumas vezes. Será ela uma agente dupla – ou tripla?

No fim das contas, Missão Impossível – Nação Secreta continua sendo, assim como foi o primeiro longa, um filme-veículo para mostrar o quanto Tom Cruise está cada vez melhor em ser Tom Cruise: o ator pode participar de uma dezena de filmes de ação mequetrefes, mas é como Ethan Hunt que ele encontra seu papel definitivo nessa seara. Não há nada que Hunt não possa fazer – até desenhar. Por isso, não à toa que o próprio amigo Benji se mostre incrédulo quando dois personagens afirmam que é “impossível” invadir determinado cofre. Claro que não é. Não para Ethan Hunt. E, assim, pode haver uma dúzia de absurdos no roteiro, mas, com muito estilo, Missão Impossível se mostra uma experiência cada vez melhor e mais divertida de se acompanhar.