É curioso ver o rumo que as franquias adolescentes mais bem-sucedidas vêm tomando. Longe do kitsch vampiresco-pueril de Crepúsculo, ou da aventura descomplicada de Percy Jackson, o padrão para as sagas que se pretendem relevantes é o dos últimos filmes da série Harry Potter, com seu tom amargurado e sombrio, ou a subversão política e social de Jogos Vorazes, que cada vez mais se firma como uma referência. Saem Os Instrumentos Mortais e Dezesseis Luas; a voga, nos últimos tempos, é Divergente e Maze Runner.

Este último chega à sua segunda parte com Prova de Fogo. Bem a propósito, o filme tem a missão de emplacar o universo apresentado no fraco primeiro capítulo, dispondo, para tanto, de um orçamento quase dobrado (34 para 61 milhões de dólares), novas caras razoavelmente conhecidas (Giancarlo Esposito, o Gus Fring da série Breaking Bad; Barry Pepper, de O Resgate do Soldado Ryan e Bravura Indômita) e um frenesi de corre-corre e destruição em massa comparável à saga Transformers.

Desta vez, Thomas (Dylan O’Brien), Teresa (Kaya Scodelario) e companhia se veem às voltas com novas conspirações da CRUEL, o complexo médico-militar que criou os sangrentos labirintos do primeiro filme. Após descobrirem que são imunes a um vírus que dizimou quase toda a humanidade, transformando-a em zumbis grotescos (as cenas deles surpreendem pela violência – era um filme para adolescentes mesmo?), os rapazes agora têm de se virar para não cair nas garras dos diversos grupos que querem usá-los para seus próprios interesses.

Prova de Fogo, sendo uma sequência, não precisa perder tempo apresentando os conflitos dos protagonistas. É a deixa para investir em cenas de ação, que são abundantes e opulentas, e a melhor coisa do filme: a fuga do grupo por um shopping abandonado, após despertar uma multidão de zumbis, e o confronto final com as forças da CRUEL estão entre as boas cenas de ação de 2015. Ainda assim, a falta de profundidade dos personagens, e a previsibilidade dos desfechos – pela frequência com que os protagonistas se veem novamente correndo e fugindo de alguma coisa, parece um grande videogame – depõem contra uma maior empatia para com Thomas e os clareanos. A evolução de Dylan e, principalmente, Kaya, bem mais segura que no primeiro filme, ajuda, mas não redime.

É Kaya/Teresa, porém, a figura que acaba se sobressaindo na trama, e criando o único momento onde Prova de Fogo transcende o mero filme de corridas e explosões. Se as tentativas anteriores da saga de estabelecer um futuro distópico como uma crítica à manipulação das grandes corporações pareciam genéricas e bobas, ante a profundidade de Jogos Vorazes, dessa vez a difícil decisão de Teresa, no terceiro ato, coloca um dilema moral sério contra a motivação sempre vaga e vacilante de Thomas. Apesar do final convencional e pouco promissor, é a oportunidade que Maze Runner tem para deixar sua marca no último filme da trilogia, e se colocar entre as sagas de ação de destaque da década.