Você cinéfilo e amante da sétima arte, ao longo de sua experiência cinematográfica, já deve ter se deparado com diversas obras que prometem muito e não cumprem quase nada no final? Já ficou preso em um filme, sentiu raiva do antagonista, prendeu a respiração pela protagonista e, no final, ficou chateado ou riu de nervoso com o desfecho da trama? É exatamente esse o sentimento ao conferir “Obsessão”, filme de Neil Jordan (“Entrevista com o Vampiro”), estrelado pela brilhante Isabelle Huppert (“Elle”) e por Chloe Grace Moretz (“A Quinta Onda”). A trama é mais uma comprovação que bons atores não salvam tramas ruins, mas, pelo menos, divertem o espectador.

“Obsessão” conta a história da jovem garçonete Frances McCullen (Grace Moretz), que no seu caminho para casa, encontra uma bolsa dentro do metrô pertencente à viúva Greta Hideg (Huppert). Ao fazer a devolução, as duas acabam virando amigas. No entanto, mais tarde, Frances descobre que sua mais nova amiga tem atitudes estranhas, fazendo com que a relação chegue a um ponto extremo.

O roteiro, assinado por Jordan e Ray Wright (“Caso 39”), possui todos os clichês de um drama com a pretensão de ser um thriller de terror psicológico, mas sem conseguir alcançar com maestria nenhum dos dois ótimos gêneros. É preciso dar crédito para a ideia inicial, pois, “Obsessão” se torna melhor quando tenta retratar as relações humanas e as nossas lutas individuais contra a solidão, a dor e a perda. Frances é uma jovem que acaba de perder a mãe e tem uma péssima relação com o pai, pois, não aceita que ele tenha outra mulher. É claro que para completar a onda de clichês e conveniências de roteiro, Frances tem uma amiga descolada, com quem divide um apartamento.

BEM LONGE DO QUASE

Com bons diálogos iniciais e uma fotografia sombria ajudando a criar a atmosfera de mistério, o filme se torna atrativo quando Isabelle aparece em cena na pele de uma senhora de voz doce, atitudes delicadas e estranhas. Aqui, Isabelle Huppert deixa claro, durante sua atuação meticulosa, que aquela viúva tem segredos obscuros.

Pena que a direção de Neil e o roteiro não fazem a mínima questão de construir uma personagem que poderia ser comparada com grandes nomes como Hannibal Lecter, do aclamado “O Silêncio dos Inocentes” ou, por que não Patrick Bateman, de “Psicopata Americano”. Greta tinha potencial para se tornar uma grande vilã, com direito a cenas de delírio e mortes que poderiam se tornar memoráveis. Apesar de tudo, Isabelle sabe aproveitar o material pobre que tem nas mãos e estrela as melhores cenas do filme. É ela a responsável por nos manter imersos na trama até os créditos finais. Gosto de Chloe Grace, é uma atriz dedicada que tenta de todas as maneiras ter expressões boas o suficiente para construir um drama linear. Em “Obsessão”, ela ganha tempo na tela, mas, no final, o espectador acaba gostando muito mais da vilã e a mocinha cai no rol das esquecíveis do cinema.

No terceiro ato, percebe-se que Neil Jordan tenta entregar um desfecho esquisito, na tentativa de ser um ‘Nós’ (Jordan Peele), mas ele mira alto demais. Após muito se falar em finais agridoce, o desfecho de “Obsessão” não chega a nem isso: é só ruim mesmo.