“Infiltrado na Klan”, o impactante longa de Spike Lee, leva a estatueta de roteiro pela adaptação do livro de Ron Stallworth, no qual ele conta seus percalços reais como o primeiro detetive negro da história do Departamento de Polícia de Colorado Springs, nos EUA, em plenos anos 1970. Lee recebeu um Oscar honorário em 2016, e com essa vitória confirma que está longe de desacelerar a carreira, marcada pela discussão sobre as vivências dos afro-americanos.

É justamente essa temática o elemento central que pode ter contado pontos a mais dentre os votantes da Academia em 2019. O debate sobre o racismo nos EUA retomou com força nos últimos anos dado os casos de violência policial contra negros no país, e a proeminência dessas questões na mídia se uniram com a gradual expansão do perfil dos votantes do Oscar – mais mulheres, negros e minorias foram inclusas desde a campanha #OscarSoWhite e o #MeToo nessa década.

O resultado: o reconhecimento de Lee como roteirista de histórias focadas nessa realidade. Mais justo seria premiar outros cults do diretor no passado, posto que “Infiltrado na Klan” utiliza alguns recursos por demais simplórios em seu roteiro, ou mesmo premiar Lee pela direção, muito mais pungente nesse trabalho. Porém, a oportunidade se mostrou adequada para reconhecer a importância do diretor e roteirista em tempos de mudança na Academia.

Se pensarmos em um Top 10 dos vencedores de Melhor Roteiro Adaptado na década de 2010, pode-se aloca-lo na sétima posição, atrás de “Me chame pelo seu nome” (2018), “Moonlight” (2017), “A rede social” (2011), “Os descendentes” (2012), “Preciosa” (2010) e “12 anos de escravidão” (2014). Após ele, fecham a listagem “A grande aposta” (2016), “O jogo da imitação” (2015) e “Argo” (2013).