Road movie amazonense com passagens de sucesso por festivais nacionais e internacionais, “Aquela Estrada” vai ganhar novos rumos em 2018. Em conversa com o Cine Set, Rafael Ramos revelou que pretende fazer do curta o início de uma trilogia sobre a juventude. Os dois próximos filmes, inclusive, já tem títulos e são parte do cotidiano dos manauaras: “Ponta Negra” e “Manaus Moderna”.

“A trilogia surgiu após participar de vários festivais. Fiquei refletindo sobre o “Aquela Estrada” e pensei que dava para desdobrar mais. Acabei de entrar nos 30 anos, então, existe certo saudosismo do que acabamos de viver e tudo o que engloba esta fase da vida. Quero externalizar isso de alguma forma e fazer um filme é o caminho mais natural”, afirmou Rafael.

“Ponta Negra” já está com roteiro fechado e deve ser o primeiro a ser filmado. A produção terá como foco a temática LGBT e trará como protagonistas jovens da periferia de Manaus. Sem revelar nomes, Rafael afirmou que já entrou em contato com estudantes do curso de teatro da UEA para compor o elenco de “Ponta Negra”.

“Quero remeter à Ponta Negra de antigamente, mais povão, esse lado marginal. Hoje em dia, a região ficou mais higienizada. Pretendo lembrar deste passado com o paralelo do dia de hoje. Vai ser um grupo de jovens que estará lá para fritar jaraqui, ouvindo Beyoncé e Lady Gaga. Tudo dentro deste universo queer”, disse Rafael, acrescentando que a proposta do curta é adotar um lado mais performático trabalhando aspectos simbólicos.

Ainda em processo de desenvolvimento, “Manaus Moderna” irá abordar a situação da mulher em uma sociedade misógina e machista. A história acompanha uma garota que trabalha no Centro de dia e, à noite, perambula pelas ruas e bares da região.

Antes dos dois curtas, Rafael Ramos já tem dois compromissos marcados para este primeiro semestre: os clipes para as bandas locais Stone Ramos e Luneta Mágica. “A ideia era gravar o “Ponta Negra” em fevereiro, mas, vieram estas demandas. Agora, vou colocar os dois filmes no edital da Manauscult e gravá-los a partir do meio do ano”, afirmou.


Escala menor

Depois de encarar produções de menor escala como “A Segunda Balada” e “A Menina do Guarda-Chuva“, Rafael fez “Aquela Estrada” no formato de road movie com mais profissionais envolvidos. Em 2017, porém, veio o maior trabalho da carreira em tamanho de escala: a série “O Boto” prevista para estrear nas tvs públicas de todo o Brasil neste ano.

Para “Ponta Negra” e “Manaus Moderna”, Rafael deseja reduzir a escala da produção. “Eu vim de um processo grande e até traumático que foi o “Boto”. Era muita gente, muitas relações para administrar e senti que esta não é a minha praia de ter que lidar com vários aspectos que não é só fazer o filme. Para os curtas, vão ser equipes reduzidas em um processo quase com tom documental. Nada sofisticado. Acho que é uma maneira que me sinto melhor fazendo”, afirmou.


Responsabilidade e morte

Rafael está em um constante vai e vem entre Manaus e São Paulo, onde realiza cursos de especialização na área do cinema. Estes períodos em terras paulistanas geram um conflito interno e reflexões sobre a relação dele com a capital amazonense. A exibição de “Aquela Estrada” no Festival Mix Brasil no Cine Sesc, na rua Augusta, foi sintomático disso.

“Durante a exibição do filme, veio aquela pergunta: será que estou representando bem o que é Manaus? Para além da ficção e da história que criamos, é inevitável o filme refletir um pouco sobre o que é a cidade e esta preocupação de trazer isto para o projeto. Acho que tenho esta responsabilidade por ser a imagem que o público de fora está vendo”.

A ideia é que “Ponta Negra” e “Manaus Moderna” terão um cuidado maior relacionado ao linguajar e aos aspectos físicos locais.

Perguntado sobre o que seria o ponto de convergência entre as obras desta trilogia, o diretor de “Aquela Estrada” acredita que a temática da morte ronda todos os projetos desde o início da carreira na ficção com “A Segunda Balada”.

“Sim, possivelmente este é um assunto que me angustia. Minha vida, talvez, tenha seguido neste fio da navalha. Perdi meu avô quando era pequeno, um tio, vi muitos acidentes, inclusive, sofri um durante a realização do “Aquela Estrada”. Acho que a minha vida está nesta encruzilhada de morte. Por isso, os meus personagens também estão deste meio do caminho entre juventude e morte”, completou.