Wim Wenders é um dos grandes expoentes do Cinema Novo Alemão, movimento que lançou sua carreira cinematográfica, o artista também transita em outras artes como dramaturgia e fotografia, mas é no cinema que seu nome tem peso. Sua filmografia conta com longas premiados “Paris, Texas” e “Asas do Desejo” são alguns deles, além de documentários como “O Sal da Terra”, sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Apesar da sólida carreira construída pelo diretor, seus trabalhos oscilam entre altos e baixos, infelizmente, “Submersão”, a mais nova produção do cineasta, segue essa lógica e acaba como um trabalho não tão marcante.

Adaptação do romance de mesmo nome, do escocês J.M. Ledgard, o longa concentra-se na história de dois protagonistas que tem seus destinos cruzados pelo acaso, de um lado o escocês James More (James McAvoy), espião do governo britânico, disfarçado de engenheiro ele está a ponto de iniciar uma operação perigosa para impedir ataques organizado por terroristas na Somália. Do outro, a professora Danielle Flinders, biomatemática focada em pesquisar sobre as zonas abissais, se prepara para viver o maior momento da carreira, mergulhar em um submersível até a parte mais profunda do oceano. As duas histórias são ligadas pelo encontro casual entre eles, em uma praia francesa durante as férias, ponto de partida para o breve e ardente romance vivido pelos dois.

O espectador inicia o filme “submerso” com a personagem de Vikander em uma simulação de mergulho, a imensidão do azul contrasta com a sensação claustrofóbica causada, mas logo cede lugar para o encanto de Danielle diante da possibilidade de desvendar aquele mundo. Ela é questionada porque tão insatisfeita mesmo à um passo de dar o grande salto na sua pesquisa, descobrimos a falta de alguém que não responde suas tentativas de contato. A próxima cena mostra James More mantido em cativeiro por jihadistas no nordeste africano. Por flashbacks entendemos quem é James e a situação que ele está envolvido, bem como o momento em que os dois personagens se relacionam.

A ideia de Wenders era abordar temas de impacto e impaciente de compressão, de maneira que fosse possível para o diretor. Os conflitos tão pungentes da jihad, a necessidade de não ignorar a situação, e ainda, nas palavras do cineasta “o estranho desejo humano de chegar até as estrelas, mas não saber o que há lá embaixo, nos oceanos” são levados a tela pela paixão de dois estranhos. As duas escolhas são convenientes, tem-se a atração de dois opostos: religião e ciência. O enfoque na profundidade desconhecida daquilo que é tratado, a necessidade metafórica de submersão nesses temas.

Infelizmente, nem religião, nem ciência ganham peso no decorrer da narrativa. Diálogos e monólogos expositivos apresentam a ideia, garantindo até certa importância, mas parece que elas nunca ganham corpo ou tem sua real dimensão mostrada, há inclusive uma tentativa equivocada de retratar o islamismo na África.

A história de amor entre Danielle e James, interrompida pelos diferentes caminhos trilhados: o mergulho no mar da Groelândia ou espionar a zona de conflito na Somália. O que parecia unir e encantar ambos no período de conquista, os separa e os confrontam com a solidão do isolamento de cada um. Na tríade proposta por Wenders, a paixão de Vikander e McAvoy é o que menos convence. As cenas entre os protagonistas durante o surgimento do sentimento, o forte envolvimento, seduz quem assiste, mas à medida que vemos suas reações pela separação repentina, principalmente de Danielle, a construção passa a incomodar.

A ideia da paixão avassaladora que nasce do encontro casual dos personagens perde a força no decorrer do tempo. Uma cientista, completamente devota ao trabalho que exerce, preste a realizar o maior momento da carreira e daquilo que ela acredita, é facilmente desestabilizada pela ausência e silêncio da pessoa com quem viveu um romance nas férias. Tenta-se entender como tanta paixão em tão pouco tempo. É chato a insistência no sofrimento fruto de uma relação sem profundidade. Apesar da intensidade dos momentos vividos entres eles, as reações parecem desproporcionais. Isso fica mais evidente em Flinders pelo seu contexto, já que James está no limite do corpo e da mente enquanto prisioneiro.

O filme pretende ser muitas coisas, mas acaba perdido em tantos paralelos e simbolismos. A noção poética parece não fluir bem, não se entende realmente o que Wenders queria passar para audiência. O diretor falha em capturar o interesse pelo desenvolvimento tedioso e frio, nenhuma sensação permanece. Infelizmente, esquecível.