A década de 2010 apresentou novos caminhos para as séries com a chegada do streaming. A partir de “House of Cards” e “Orange is the new Black”, a Netflix iniciou esta jornada apresentando novas formas de consumo – o lançamento de todos os episódios de uma só vez, por exemplo – abrindo caminho para Apple, Amazon, Disney e tantas outras.

Isso, entretanto, não impediu que a televisão tradicional lançasse novos e importantes projetos. A HBO, claro, liderou esta trajetória com os sucessos de “Chernobyl”, “Big Little Lies” e, claro,  o fenômeno “Game of Thrones”.

A equipe do Cine Set apresenta a lista das melhores séries para cada um dos integrantes do site. O critério utilizado para que uma obra esteja inserida aqui é que maior parte das temporadas tenha sido feita nesta década. Confira abaixo os nossos favoritos:

ANA SENA

Suits: a série é uma das melhores do gênero por retratar tão bem não somente a rotina de advogados, seus casos, mas principalmente por explorar as relações humanas, questões como lealdade, ética e comprometimento. A maneira como os personagens são desenvolvidos de forma humana, é impossível não se comover ou criar paralelos comparativos em seus dramas e experiências de vida. Suits é uma série que convence por seu roteiro coeso e seus personagens tão carismáticos quanto complexos.

CAIO PIMENTA

“Mad Men”: “Os Sopranos” reinava como a maior série da televisão americana até a chegada de duas obras-primas: “Breaking Bad” e Mad Men. No palitinho, fico com a obra criada por Matthew Weiner (também do sucesso da HBO dos mafiosos de New Jersey), uma ode aos anos 1960, a década que definiu os rumos dos EUA e do mundo. Seguindo o vaidoso e genial publicitário Don Draper, acompanhamos o machismo da sociedade e do mundo corporativo sendo balançado pelos movimentos civis, as transformações sociais, os fatos históricos através de dezenas de  personagens multifacetados e um brilhantismo técnico de figurino, direção de arte raro. Um tesouro disponível na Netflix.

CAMILA HENRIQUES

American Crime Story: OJ Simpson: não sou da turma que parava todos os domingos pra ver Game of Thrones, e ainda tô devendo uma maratona de Breaking Bad, então já peço perdão por não escolher nenhuma das duas séries. Fico com a primeira temporada de ACS e seu pungente relato sobre um dos crimes mais midiáticos da história recente norte-americana. A produção de Ryan Murphy foi cirúrgica ao retratar tudo o que rondava o caso OJ Simpson, com o circo formado pelos advogados, o impacto da fama (e sobra até pras Kardashian!), o racismo e a violência policial, além do machismo enfrentado pela promotora Marcia Clark (brilhantemente interpretada por Sarah Paulson).

DANILO AREOSA

“Atlanta”: ainda que não tenha o hype de Mad Men, Breaking Bad, Twin Peaks – The Return e The Leftlovers, Atlanta foi pra mim, a grande série da década de 2010. Os motivos pra isso não são poucos. Donald Glover é um artista criativo, de múltiplos talentos. Foi o roteirista de ótimos episódios de 30 Rock e participou da divertida Community. Em Atlanta, Glover conseguiu a proeza de fazer duas temporadas que beiram à perfeição: une o humor e a crítica ácida para criar momentos absurdos, desconcertantes e assustadores, sempre por meio de diálogos e situações que valorizam um escopo intimista, trazendo um olhar relevante em relação aos questionamentos de identidade e compreensão social da sociedade americana, como um todo. A segunda temporada de Atlanta é repleta de episódios geniais, como o magistral Teddy Perkins.

DIEGO ALEXANDRE

“Merlí” (2015-2018): a série catalã sobre um professor de filosofia que utiliza métodos pouco ortodoxos para incentivar seus alunos a pensarem livremente, se tornou um sucesso internacional após a compra de seus direitos pela Netflix. São 3 temporadas, em que cada episódio leva o nome de um determinado filósofo e se baseia em suas ideias. Assim como o professor Merlí, o espectador se envolve com os dramas dos alunos e se torna um pouco órfão após concluir a série, que termina de forma perfeita sem deixar brecha para infinitas temporadas. Obs: Qualquer semelhança com o filme “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989) não é mera coincidência.

DIEGO BAUER

“Breaking Bad”: é muito interessante notar a maneira como Breaking Bad era vendido na sua primeira temporada: Um professor de química falido, ao descobrir que está com câncer terminal, se dá conta de que vender metanfetamina poderia ser uma maneira de deixar alguma herança para mulher e filhos. Dispositivo não muito inovador, que indicaria uma série esperta, colocando um homem médio em situações de risco. Só que o que Vince Gilligam, Michelle MacLaren, Rian Johnson, Bryan Craston, Aaron Paul e cia. (dá pra citar muita gente, do roteiro a direção de arte) conseguiram foi uma série de acontecimentos espetaculares, mas que tudo surge de maneira sóbria, coerente, inevitável. Criou situações que se incluíram na cultura pop, e personagens memoráveis (não apenas os principais, mas os coadjuvantes também), que levamos com a gente, mesmo quando o seu fim chegou. Monumento.

Menção honrosa: Bojack Horseman.

HENRIQUE FILHO

“Bojack Horseman”: Poderia citar Game of Thrones como a série mais importante da década (ela é), mas colocar como a melhor, com essa última temporada, não seria uma decisão correta. Não sou uma pessoa fissurada em séries, é de contar nos dedos as que acompanho, então também não seria justo eu indicar a melhor, mas a minha favorita: “Bojack Horseman”.  Produzida pela Netflix, comecei assistindo despretensiosamente, achava que seria mais uma animação de comédia qualquer, e quando vi a série era bem mais ambiciosa, e que grata surpresa. O Cara de Cavalo com um trabalho de dublagem excepcional, trata de temas complexos como depressão, aborto e dependência química com uma surpreendente sensibilidade e um nonsense surreal que só uma animação poderia transmitir. Um trabalho notável que se encerra no próximo ano.

IVANILDO PEREIRA

“The Leftlovers”: entre 2014 e 2017, a HBO levou ao ar aquela que considero a melhor série da década: The Leftovers. Baseada no livro de Tom Perrotta e conduzida por maestria por Damon Lindelof após um período de depressão – influenciado, com certeza, pelo final de Lost, hehe – The Leftovers é provavelmente o seriado mais deprê dos últimos anos, abordando o que aconteceria na Terra se um evento inexplicável de fato acontecesse. No caso, o desaparecimento súbito de 2% da humanidade. É triste, mas também estranhamente engraçado às vezes, e sempre imprevisível e profundamente tocante, e com atores como Justin Theroux, Regina King e Carrie Coon fazendo os melhores trabalhos de suas carreiras. Pouca gente viu e só teve três temporadas, mas quem experimentar com a mente aberta pode achar The Leftovers uma experiência inesquecível.

LUCAS PISTILLI

Twin Peaks: O Retorno”: Twin Peaks é uma série ou um filme? Não importa. A terceira parte do projeto é a maior realização audiovisual da década. David Lynch retomou sua maior criação para mostrar, dentre outras coisas, a origem do mal nos Estados Unidos e a maneira insidiosa como sucumbimos a forças que não entendemos. Desafiadora, frustrante e encantadora – como a vida.

NATASHA MOURA

Black Mirror”: eleger o melhor-alguma-coisa é sempre uma tarefa difícil, mas essa categoria foi especialmente complicada. Meu acervo de ‘séries assistidas’ é bem limitado, e provavelmente não passei nem perto das eleitas nessa lista. Mas vamos à escolhida. Apesar de reciclar o formato e o clima obscuro da sua maior inspiração, o clássico The Twilight Zone, é inegável o marco de Black Mirror tanto pela temática pungente, como no modo de fazer e assistir séries. Por essas e outras, é quem leva essa.

Menção honrosa: Killing Eve. Seria impossível não mencionar minha favorita. Depois de uma primeira temporada que eu diria perfeita, a série impacta não apenas ao subverter um gênero estereotipado e sexualizado, mas ao renovar a participação feminina na TV.

PÂMELA EURÍDICE

Crítica: Game of Thrones - Quinta Temporada

Game of Thrones”: tudo bem, eu admito que o final de GoT não foi aquele que se esperava. Muito mais do que agridoce, o final da série foi indigesto. Isso, no entanto, não tira os méritos que a produção conquistou durante a década. Além de entrar para o cânone da Cultura Pop, GoT quebrou recordes, fez muitas crianças terem títulos de realeza como nome e mudou a forma como assistimos batalhas e torcemos por personagens. Diante de tudo isso, Lannisters, Starks, Targaryens e Cia merecem o trono de série da década.

REBECA ALMEIDA

“Game of Thrones”: para muitas pessoas o fatídico fim de “Game of Thrones” anulou toda sua presença como série, felizmente, eu consigo realizar a síntese de deixar a última temporada em esquecimento e relembrar os momentos que fizeram eu me apaixonar pelo universo de gelo e fogo. Apesar de ter começado as maratonas do seriado muito atrasada e com um olhar cheio de desconfiança me rendi totalmente a trama na terceira temporada e, mesmo que inúmeras decisões não me agradem no decorrer de oito temporadas, são episódios como ‘Batalha dos Bastardos’, ‘Os Ventos do Inverno’, ‘O Leão e a Rosa’ e ‘Hardhome’ que me lembram a genialidade da série juntamente com sua grande direção de fotografia, elenco e trilha sonora.

Menções honrosas: Vikings, Merlí, The Crown, Brooklyn 99 e The Handmaid’s Tale.

SUSY FREITAS

“Bojack Horseman”: minha escolha de melhor filme da década foi para uma obra que figura nesta categoria em outras listas, e seguindo o clima “do contra”, minha escolhida é a animação adulta Bojack Horseman (2014-atual). A saga do cavalo ator fracassado contra seus próprios demônios tem diversos méritos, dentre eles, não romantizar o debate sobre depressão ao mesmo tempo em que é absurdamente engraçada, mérito de Raphael Bob-Waksberg, criador da série. O roteiro é o ponto alto de Bojack, com uma narrativa coerente para seu protagonista e a dose certa de atenção aos coadjuvantes. Assim, entrelaça-a às peripécias de Diane, Tood, Princess Carolyn e Mr. Beanutbutter para cultura de celebridades, alcoolismo, preconceito e amadurecimento emocional. Mesmo os momentos mais nonsense (indico o episódio lisérgico “Tudo acaba zen”, já na primeira temporada) criam a liga que torna Bojack Horseman o sucesso de público e crítica que a série é.

Menções honrosas: Better Call Saul (2015-atual); The good place (2016); The Crown (2016-atual); Game of Thrones (2011-2019).

WALTER FRANCO

“Atlanta”: Donald Glover é com certeza um dos destaques no mundo artístico desta década. E para uma boa parte de seus fãs, esta série funcionou como porta de entrada para que isto ocorresse. Unindo a mente criativa de Hiro Murai na direção e o texto de Glover, Atlanta conseguiu como poucos criar uma obra surreal com pés bastante firmes na dura realidade estadunidense do preconceito e das lutas de classe. Sendo uma comédia, é difícil perceber quando os risos perdem espaço para momentos mais reflexivo sobre o que o roteiro busca discutir. E a qualidade da série não reside somente nos aspectos técnicos, mas também no ótimo elenco principal. Brian Tyree Henry como “Paper Boi” e Lakeith Stanfield como Darius são duas ótimas pérolas da série quase sempre roubando a cena e até mesmo a relevância do personagem de Glover.

Menções honrosas: Twin Peaks (Mark Frost e David Lynch), Fargo (Noah Hawley), Mad Men (Matthew Weiner), Glow (Liz Flahive e Carly Mensch) e Master of None (Aziz Ansari e Alan Yang).