De Sydney Pollack a Robert Benton e “Kramer Vs Kramer”, Caio Pimenta traz os dez resultados injustos do Oscar nos anos 1980.
10. MELHOR DIREÇÃO – SYDNEY POLLACK, POR “ENTRE DOIS AMORES”
A décima posição vem da cerimônia de 1986 quando o Sydney Pollack, de “Entre Dois Amores”, venceu o prêmio de Melhor Direção.
Dono de uma filmografia bastante correta, o Pollack levou o Oscar por um trabalho que passa longe do ousado e entrega o básico, apoiando-se, principalmente, no carisma e talento da dupla de protagonistas vivido pelo Robert Redford e Meryl Streep. Mesmo que “O Beijo da Mulher-Aranha” não seja o melhor filme da carreira, o Hector Babenco faz um trabalho bem melhor no lirismo e na poesia de um cárcere e de um país reprimido aliviado pela arte.
No documentário dirigido pela Bárbara Paz e premiado no Festival de Veneza, há um trecho que mostra que o Babenco não ficou satisfeito com o resultado. Ele acreditava que poderia vencer.
9. MELHOR ATRIZ – KATHERINE HEPBURN, POR “NUM LAGO DOURADO”
É até cruel dizer que a Katherine Hepburn não merecia vencer o Oscar, mas, foi o que aconteceu em 1982.
Não dá para negar que a Hepburn faz uma dupla deliciosa com o Henry Fonda e, com sua energia típica, contagia “Num Lago Dourado”. Mesmo assim, a Diane Keaton merecia mais por comandar as ações em “Reds” e até roubar o protagonismo da história das mãos do Warren Beatty.
Acho que teria sido a coroação da grande fase da carreira da Diane Keaton que, atualmente, só está se dedicando às comédias.
8. MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: A TESTEMUNHA
Um tipo de resultado injusto no Oscar que mais me irrita é aquele em que, dos cinco indicados, vence o que menos deveria ganhar. A categoria de Melhor Roteiro Original em 1986 foi um bom exemplo disso.
O vencedor foi “A Testemunha”, um bom policial estrelado pelo Harrison Ford, mas, que a gente viu aos montes nos anos 1980. Porém, não dá para acreditar que ele superou “A Rosa Púrpura do Cairo”, um dos filmes mais criativos do Woody Allen, o intrigante “Brazil – O Filme”, a aventura perfeita de “De Volta Para o Futuro” e o argentino “A História Oficial”.
7. MELHOR DIREÇÃO – RICHARD ATTENBOUROUGH, POR “GANDHI”
Em 1983, “Gandhi” dominou o Oscar e venceu 8 categorias. Uma destas vitórias mais injustas aconteceu em Melhor Direção.
O Richard Attenbourough faz à la Ron Howard e Tom Hopper sem grande criatividade ou inspiração em “Gandhi”. Seguindo a receita de bolo das cinebiografias, o máximo que dá para destacar é ter feito um trabalho em escala épica com centenas de figurantes em grandes locações. Quem deveria era o Steven Spielberg com um trabalho encantador e genial em “E.T – O Extraterrestre”.
Seria até uma forma de reconhecer esta fase mais ligada à fantasia que o Spielberg era mestre, reconhecendo um lado do diretor que rendeu obras-primas como “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, “Indiana Jones” e “Jurassic Park”.
6. MELHOR FILME EM LÍNGUA NÃO INGLESA – “MOSCOU NÃO ACREDITA EM LÁGRIMAS”
O sexto lugar do TOP 10 vai para categoria de Melhor Filme em Língua Não-Inglesa no Oscar de 1981.
O vencedor foi o “Moscou Não Acredita em Lágrimas”. O filme dirigido pelo Vladimir Menshov pode até ter suas qualidades, mas, não chega aos pés de “Kagemusha – A Sombra do Samurai”, do mestre Akira Kurosawa. Sem dúvida, a produção japonesa segue sendo muito mais relevante do que o ganhador soviético.hoje em dia
5. MELHOR ROTEIRO ORIGINAL – A FORÇA DO CARINHO
A partir de agora, se prepara que o negócio vai ficando cada vez mais revoltante.
A quinta posição é a vitória de “A Força do Carinho” na categoria de Melhor Roteiro Original. Por si só, a conquista já seria estranha por se tratar de um filme com personagens pouco interessantes e uma trama batida e quase sonolenta. Mas, superar o roteiro de “Fanny e Alexander”, um dos melhores roteiros do Ingmar Bergman, é para enlouquecer qualquer cinéfilo.
4. MELHOR FILME – GENTE COMO A GENTE
Essa aqui é clássica: a vitória de “Gente como a Gente” na disputa de Melhor Filme do Oscar 1981. Como eu já malhei muito o longa do Robert Redford, deixa eu falar aqui as qualidades de “Touro Indomável”, o vencedor moral daquele ano.
É o maior filme esportivo da história do cinema. É o melhor trabalho de direção da carreira do Scorsese. Traz a melhor atuação da carreira do Robert De Niro. Tem um elenco coadjuvante impressionante com destaque para Joe Pesci e Cathy Moriarti. É um espetáculo audiovisual com uma das mais belas fotografias em preto e branco já vistas no cinema feita pelo Michael Chapman, uma montagem precisa da Thelma Schoonmaker e o que dizer do trabalho de som?
Depois dessa, a Academia deveria ter jogado a tolha, revisto a decisão e entregado o Oscar para “Touro Indomável”.
3. MELHOR DIREÇÃO DE ARTE – GANDHI
Coitado do “Gandhi” que está de volta na lista, mas, não dá para entender como o filme venceu o Oscar de Melhor Direção de Arte em 1983.
Afinal de contas, como não premiar o design de produção de “Blade Runner”? Grande parte da ambientação sufocante do filme do Ridley Scott se deve a concepção de todos os cenários e da forma como aquela Los Angeles de 2019 é construída. É um trabalho tão marcante que influenciou todo o gênero dali em diante.
Mas, a Academia não resiste a trabalhos de dramas de época, bem tradicionalistas e optou pelo caminho mais cômodo.
2. MELHOR ATRIZ – CHER, por “FEITIÇO DA LUA”
A injustiça cometida no Oscar de Melhor Atriz em 1988 tem reflexos até hoje.
Com o aparato de popstar e linda que só ela, a Cher venceu o prêmio pelo desempenho apenas razoável em “Feitiço da Lua”. Com isso, a Glenn Close acabou acumulando a quarta derrota no Oscar, sendo que, desta vez, por um trabalho em que ela realmente tinha chances de vencer. Por mais que “Atração Fatal” seja um filme sob um ponto de vista estereotipado hoje em dia, a atuação da Glenn Close à beira da perfeição.
Muita gente deve estar falando agora: ‘poxa, mas, ela deveria estar aqui pela derrota em “Ligações Perigosas” Eu também considero este o grande papel da Glenn Close nos cinemas, porém, a Jodie Foster, em “Acusados”, está anos-luz na frente da Cher. Por isso, optei por “Atração Fatal”.
1. MELHOR DIREÇÃO – ROBERT BENTON, por “KRAMER VS KRAMER”
O resultado mais injusto da história do Oscar nos anos 1980 foi justamente no início da década em Melhor Direção.
O Robert Benton atingiu o auge da carreira dele com seus dramas de ótimos personagens e muitos bem desenvolvidos em “Kramer Vs Kramer”. Auxiliado pela dupla Dustin Hoffman e Meryl Streep, ele cria um dos mais comoventes filmes sobre término de relacionamento. Por outro lado, não dava para ele vencer o Francis Ford Coppola pelo épico “Apocalypse Now”. A produção não é apenas o melhor filme sobre a Guerra do Vietnã, mas, também acabou sendo o maior desafio de um cineasta dentro do cinema americano com uma muita dose de loucura e megalomania.
“Apocalypse Now” perder Melhor Filme já é um absurdo, mas, o Coppola não levar direção é um pecado crasso da história do Oscar.