MELHOR SÉRIE – “SHARP OBJECTS” – 2 VOTOS


Caio Pimenta – “SHARP OBJECTS”

Jean-Marc Vallée nunca tinha me convencido com os grandes filmes da carreira – “Clube de Compras Dallas“, “A Jovem Rainha”, “Livre” – nem com “Big Little Lies”. “Sharp Objects”, porém, mudou as minhas impressões sobre ele: toda a concepção visual sufocante da cidade e da casa das protagonistas aliada à montagem fragmentada ampliam o escopo inicial da minissérie da HBO para além de uma perseguição ao assassino. Amy Adams faz o melhor trabalho de uma carreira cada vez mais consistente, Patricia Clarkson ganha o destaque que merecia fazia tempo e ainda fomos brindados pelo talento da revelação Eliza Scalen. Mesmo sem a necessidade daquele final Marvel feito para ‘causar’ nas redes sociais, “Sharp Objects” foi, sem dúvida, a série do ano.


Camila Henriques – “ASSÉDIO”

Em um ano marcado pelas denúncias de vítimas do médium João Teixeira de Faria e pelas manifestações de atrizes em eventos grandes como o Globo de Ouro e o Festival de Cannes, o meu destaque é uma produção forte que conta a história real e assustadora que culminou na prisão do ex-médico Roger Abdelmassih. Atuações carregadas de emoção, uma equipe técnica afiada (e liderada por mulheres) e uma história que não pode cair no esquecimento marcaram esta produção, que apontou um novo caminho para as produções da Globo na internet.

Episódio de destaque: “Stela” – o primeiro episódio já começou um soco no estômago e uma atuação contundente da sempre maravilhosa Adriana Esteves, e a prova de que aquela não seria uma produção apaziguadora.


Danilo Areosa – “A MALDIÇÃO DA RESIDÊNCIA HILL”

Já alguns anos que Mike Flanagan vem se consolidando como um dos principais nomes da nova safra de terror do cinema americano. Jogo Perigoso, O Espelho e Ouija 2 são provas cabais disso. Ainda que os filmes citados apresentem qualidades acima da média para o gênero cinematográfico, eles deixavam claro que eram pequenos para um diretor talentoso. E na TV com a série A Maldição da Residência Hill, Flanagan tem um roteiro ambicioso para comprovar o tamanho do seu talento. A grande sacada da série é unir o drama familiar com histórias de fantasmas, partindo do romance de Shirley Jackson – adaptado para o cinema por Robert Wise no ótimo Desafio do Além – para reimaginá-lo.  Na série, Flanangan fala sobre o nosso medo mais primal de se confrontar com o sobrenatural como também da nossa incapacidade de se comunicar. Como série, Maldição transcende o gênero televisivo para criar um dos trabalhos audiovisuais mais bem elaborados do ano – o que dizer do brilhante sexto episódio, filmado em um grande plano-sequência? – em que o cineasta domina o espaço com uma excelência absoluta. Que venha sua adaptação cinematográfica de Doutor Sono, de Stephen King.


Gabriel Oliveira – “BLACK MIRROR: BANDERSNATCH”

Longe de ser a melhor criação de Charlie Brooker no universo de Black Mirror, ainda assim Bandersnatch funciona como brincadeira narrativa e metalinguística. De escolher o melhor cereal a esquartejar ou enterrar um corpo, é justamente do leque de opções “interativas” e da falsa sensação de livre-arbítrio que nasce o dilema de uma história que, sem isso, seria simplesmente um roteiro mediano.



Henrique Filho – “BOJACK HORSEMAN”

Bojack Horseman só havia assistido a primeira temporada. Então, no ano passado, resolvo retomar e maratonar todas, inclusive a mais recente (a quinta). E por que diabos eu estava enrolando tanto? Para mim, é uma das melhores séries já feitas – e a melhor produzida pela Netflix: texto afiado, personagens humanos (apesar de animais) com tramas interessantes. Essa última temporada foi certeira em trabalhar temas atuais e relevantes como abuso e assédio, além de mostrar o crescimento do personagem-título e de todos que o rodeiam. No fim, a temporada se revela a mais madura e sombria, e com conflitos interessantes. Mal posso esperar pela sexta.

Melhor Episódio: Churros Grátis – é de uma ousadia e coragem absurda depois de mostrar uma cena terrível entre pai e filho, pôr o protagonista sozinho em um púlpito pra falar por quase vinte minutos e, no fim, não ser nada enfadonho.



Ivanildo Pereira – “THE DEUCE”

Poucos têm falado dessa série, mas a qualidade que já era alta na primeira temporada em 2017 cresceu mais ainda em 2018. Recriando a era da pornografia dos anos 1970, a criação de David Simon e George Pelencanos, os mesmos responsáveis por The Wire: A Escuta, pinta um retrato amplo da indústria do sexo nova-iorquina da época. O elenco é sensacional, mas se tivermos que escolher um nome tem que ser o de Maggie Gyllenhaal, que parece estar no auge da carreira como a ex-prostituta Eileen, Nesta temporada ela tenta tomar as rédeas do próprio destino ao dirigir um filme pornô inspirado em Chapeuzinho Vermelho. Como um avatar de todos os personagens de The Deuce, ela quer mudar de vida, mas na visão de Simon e Pelencanos, o lugar é maior que o indivíduo. Ainda assim, eles tentam, e sem ganchos típicos de TV ou clichês, é esse esforço que me mantém assistindo.


Lucas Jardim – “MANIAC”

2018 continuou marcando a ascensão do perfil das produções do serviço de streaming Netflix e, com “Maniac”, a gigante do entretenimento conseguiu chamar dois dos astros mais quentes do cinema atual (Jonah Hill e Emma Stone) para uma série-evento pra lá de aloprada que joga várias convenções do formato pela janela. Dirigida com vigor por Cary Fukunaga (True Detective), a série leva o espectador por um labirinto de simulações psicológicas ao mesmo tempo em que lida fielmente com temas como depressão e desconexão no mundo contemporâneo. É uma comédia, sem dúvidas, mas uma com tantas camadas como seus personagens. Um triunfo.


Natasha Moura – “KILLING EVE”

Como fã de “Grey’s Anatomy” e depois de ficar órfã de Cristina Yang, é claro que mal podia esperar em ver Sandra Oh em algo novo. Para minha surpresa, “Killing Eve” saiu melhor que a encomenda. Além de fazer história com Sandra na primeira indicação de uma descende asiática no Emmy, a série é disparado uma das melhores coisas que vi nos últimos anos. Desenvolvida pela britânica Phoebe Waller-Bridge, responsável por outros ótimos trabalhos como “Fleabag” e “Crashing”, o texto afiado no melhor do humor inglês conquista qualquer um, somado a ótimas atuações e uma fotografia como poucos seriados por aí. Mas a explosão só acontece graças ao talento que é Jodie Comer, praticamente feita para o papel. Temos aí umas das produções mais frescas da televisão.

Melhor momento: para não dar spoilers, episódio 5. Sem mais.



Pâmela Eurídice – “SHARP OBJECTS”

A produção inspirada na obra de Gillian Flynn não foi uma das mais fáceis de digerir e nem acompanhar durante a exibição, mas demonstrou com êxito a potência contida nas produções da HBO (em um ano sem “Game of Thrones“) e da equipe de peso da minissérie. Valée, Noxon  e Adams apresentam suas melhores versões. O diretor cria uma atmosfera na qual é preciso estar atento aos detalhes e se deixar imergir por aquilo que acreditamos, no primeiro momento, serem informações lentas e repetitivas. Mas é isso que tornou acompanhar Sharp Objects um aprendizado de composição visual e construção de personagem. Amy Adams se despe de tudo aquilo que já vimos dela e traz sua interpretação mais impactante e visceral. Seu corpo é Camille. Suas emoções são Camille. Ela é Camille. Mas a dupla que a acompanha não fica atrás. Patricia Clarkson e Eliza Scanlen também encarnam com vigor os outros membros do clã Crellin e plantam a ambigüidade tão especial e apreciada nos suspenses familiares de Flynn.  A cena em que a mãe fala a Camille que jamais a amou, sem dúvida é um dos momentos mais desconfortáveis e impactantes de 2018.


Rebeca Almeida – “THE HANDMAID’S TALE”

Pelo segundo ano, meu voto vai para “The Handmaid’s Tale” por acreditar que mesmo entre várias fortes candidatas, a série do Hulu consegue aliar seu roteiro e estética de forma harmoniosa e impactante. Após toda a euforia advinda da primeira temporada, neste segundo a produção foi capaz de consolidar sua narrativa, entregar novidades estrondosas para o público e ao mesmo tempo prometer grandes acontecimentos futuros. Além das atuações já conhecidas, este ano a novata Eden (Sydney Sweeney) foi uma grata surpresa, mesmo com uma trama paralela à protagonista June (Elisabeth Moss), ela foi responsável por uma das cenas mais marcantes da produção e a melhor desta segunda temporada.

Menções honrosas: Anne With An E, A Maldição da Residência Hill e Demolidor – Terceira Temporada.


Renildo Rodrigues – “WILD, WILD COUNTRY”

A melhor coisa a chegar à TV em 2018 é tão louca, desvairada e fascinante quanto a ficção mais imaginativa. Talvez mais. “Wild Wild Country”, o documentário em seis partes de Chapman e Maclain Way, exibido pela Netflix, está simplesmente além de rótulos. Nessa brilhante dissecação de uma história real – no caso, a compra de uma cidade do interior dos Estados Unidos por uma seita utópica indiana, para espanto e depois horror dos nativos –, os cineastas conseguem algo como o ideal de seu gênero: a apresentação de uma realidade complexa em todas as suas nuances, sem heróis e vilões óbvios, mas com uma narrativa clara, objetiva e estupendamente imersiva. Durante dois dias, eu vivi em função de seus seis episódios. Caso você tenha o mesmo tempo livre, aproveite para também se deixar enfeitiçar pela saga bizarra de Rajneeshpuram.


Susy Freitas – “BETTER CALL SAUL”

2018 foi um ano interessante para séries: tivemos do remake cafona e irresistível de “Sabrina”, passando pelo spin-off tiozão e obrigatório de “Narcos – México”, chegando ao modernoso “Black Mirror – Bandersnatch”. Porém, sem alardes o drama “Better Call Saul” uniu as características hoje tidas como ideais para uma série: personagens em constante desenvolvimento, roteiro sem pontas, aspectos técnicos cuidadosos ganchos que instigam o espectador quanto ao universo já tão bem explorado em “Breaking Bad”.