Depois da era de Silvino Santos e do cineclubismo dos anos 1960, o cinema do Amazonas vive seu terceiro grande momento desde 2001, quando foi aberta a Film Comission, entidade do governo estadual de apoio para projetos audiovisuais locais e de outras regiões do Brasil e mundo afora. Mesmo que perdas tenham ocorrido pelo meio do caminho (Amazonas Film Festival, editais estaduais), também vimos uma geração de produtores se consolidar e traçar novos rumos para o cinema local.
As universidades do Amazonas, porém, não acompanharam este processo. A UEA, por exemplo, chegou a ter duas turmas de um curso técnico em audiovisual, o que seria, segundo Robério Braga, secretário de cultura por quase duas décadas, fruto do trabalho feito durante o AFF. Infelizmente, o curso ficou pelo caminho. Ufam e as instituições de ensino superior privadas tentam preencher a falta de um curso próprio na área com módulos, disciplinas de televisão, rádio e, eventualmente, cinema (ou algo próximo disso) em cursos de jornalismo, muitas vezes.
Mesmo assim, o interesse no audiovisual, possibilitado pela portabilidade das câmeras digitais e facilidade no acesso a softwares de edição, leva cada vez mais estudantes a produzirem seus próprios vídeos em curtas-metragens, superando todas as adversidades técnicas e da própria falta de experiência.
Dirigido por Graziela Praia (no meio), “Gawa – Amor Sintético” venceu quatro categorias do Pirarucurta
Dentro deste cenário, a existência do ‘Pirarucurta – Festival de Cinema Universitário‘, promovido pela Faculdade Martha Falcão Wydem entre os dias 15 e 16 de novembro, mostrou-se uma esperança para quem acredita no audiovisual local. Do terror mais simples a documentário sobre imigrantes em Manaus até o premiado curta de Thiago Morais, “A Estranha Velha que Enforcava Cachorros”, dezenas de projetos feitos por universitários entre curtas de ficção, documentários, videoclipes e projetos publicitários concorreram na mostra competitiva do evento.
A organização impecável com alunos muito bem preparados nas mais diversas áreas (desde a dupla de apresentadores até a equipe de assessoria de imprensa), a escolha do local (como é bom ver a Usina Chaminé movimentada), a competente escolha do júri formado por Rafael Ramos (“Aquela Estrada“), Walter Fernandes (do curso de cinema do Casarão de Ideias) e Camila Henriques (do Cine Set), o debate que tive o prazer de mediar ao lado de Bernardo Abinader (“A Goteira“) e Carlos Barbosa (do ‘Matapi‘) sobre o mercado local e o cuidado na elaboração de uma programação enxuta e dinâmica deixaram uma ótima impressão em quem foi ao evento. O público, aliás, lotou os dois dias.
Por tudo isso, o Pirarucurta deixa claro como há mercado para se investir também no setor educacional do audiovisual. Sim, o investimento é caríssimo devido ao custo dos equipamentos e, talvez, ainda não tenhamos uma quantidade tão grande de pessoas com a formação necessária para ministrá-lo. Porém, o festival universitário cria um cenário favorável para que UEA, Ufam, Martha Falcão, Fametro, Uninorte, Nilton Lins observem mais atentamente o setor e, quem sabe, em breve, um novo curso de cinema em uma instituição de ensino superior do Estado seja possível.
CONFIRA ABAIXO OS PRINCIPAIS TRABALHOS PREMIADOS NO PIRARUCURTA 2019: