David Bowie não foi apenas um roqueiro, foi um dos maiores artistas do século XX, tendo deixado sua marca não somente na música, mas também no cinema. Na música, seu trabalho transcendia e elevava o bom e velho rock’n’roll e, com o tempo, aprendemos a vê-lo como um artista imprevisível, capaz de fazer qualquer coisa. Foi assim também nas telas, onde ele manteve por várias décadas uma carreira de ator e trabalhou com cineastas que souberam explorar a sua presença sempre interessante e o fizeram encarnar figuras tão diversas quanto um alienígena, um vampiro, um imperador romano, ou pelo menos uma vez, até ele mesmo, como na comédia Zoolander (2001).

Vários filmes usaram canções de Bowie nas suas trilhas sonoras, e ele chegou a compor para alguns dos filmes dos quais participou como ator. Essa lista é sobre as canções de Bowie no cinema, momentos fílmicos tornados especiais pela junção entre a imagem na tela e a música inesquecível desse artista que, realmente, parecia ser de outro mundo.

Vamos agora relembrar algumas grandes cenas de cinema ao som de David Bowie:

Música – Cat People (Putting Out the Fire)
Filmes – A Marca da Pantera (1982) / Bastardos Inglórios (2009)

Em A Marca da Pantera, Bowie trabalhou com o produtor Giorgio Moroder, compositor da trilha do filme, e a canção Cat People (Putting Out the Fire) foi usada como base da trilha sonora e pode ser ouvida na abertura do longa. Essa mesma canção saiu no disco de Bowie Let’s Dance, de 1983. E essa mesma canção foi ouvida, décadas depois, no filme de Quentin Tarantino Bastardos Inglórios (2009). Apropriadamente, era ao som dela que a personagem Shoshanna (Mélanie Laurent) colocava sua pintura de guerra e se preparava para “botar fogo” no cinema.


Música: I’m Deranged
Filme: Estrada Perdida (1996)

O que acontece quando dois Davids loucos e geniais se juntam – no caso, o Bowie e o Lynch? Bowie já tinha feito uma participação como ator num filme de Lynch, uma bizarra ponta em Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992). Em Estrada Perdida, Lynch usa Bowie para jogar o espectador de cara num clima de estranheza, ao iniciar o filme com os créditos sobre uma estrada escura, ao som de I’m Deranged, canção do disco Outsider, de 1995. A mesma canção retorna nos créditos finais, assim como a mesma estrada escura, dando ao filme o efeito desejado de ciclo, de uma eterna prisão para o personagem de Bill Pullman. Uma prisão móvel, de alguém que tem apenas a canção como companhia. Nunca uma canção de Bowie soou tão assustadora.


Música: Modern Love
Filme: Frances Ha (2012)

Quem se esquece da inesquecível cena de Frances (Greta Gerwig), correndo pelas ruas de Nova York numa tomada contínua, ao som de Modern Love de Bowie? É um momento de pura empolgação cinematográfica, e o espectador sente vontade de fazer o mesmo…


Música: Heroes
Filme: Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída (1981) / Moulin Rouge (2000) / As Vantagens de Ser Invisível (2012)

Os dois filmes sobre jovens usam a mesma canção de Bowie, Heroes, e embora ambos sejam bastante diferentes um do outro, nos dois filmes vemos um momento de diversão e esperança jovem ao som da música. Em Christiane, drama pesado para o qual Bowie contribuiu com várias músicas na trilha sonora, ela é ouvida quando os jovens viciados correm pelo shopping, roubam um pouco de dinheiro e fogem dos tiras. Já em As Vantagens de Ser Invisível, ela vem na conhecida cena do túnel, quando os personagens de Logan Lerman, Emma Watson e Ezra Miller estão indo em direção a um futuro desconhecido, mas esperançoso – ela até abre os braços para fora do teto solar do carro. Em ambos os casos, a canção os faz sentir invencíveis, assim como ocorre com qualquer um que a ouça. A canção ainda aparece no medley de Nicole Kidman e Ewan McGregor no indicado ao Oscar “Moulin Rouge – Amor em Vermelho“.


A Vida Aquática de Steve Zissou (2004)

O filme todo é um prazer para fãs de David Bowie… O cineasta Wes Anderson colocou o nosso querido Seu Jorge na tripulação do navio de Steve Zissou e em várias cenas ele toca Bowie no violão, mas o músico aportuguesou as letras e fez novos arranjos para clássicos como Starman, Space Oddity, Changes e Rock’n’Roll Suicide, entre outras… Veja como ficou esta última.


Música: Young Americans
Filme: Dogville (2003)/ Manderlay (2005)

Os créditos finais dos dois filmes de Lars von Trier são parte integrante dos filmes, pois comentam sobre as histórias que acabamos de ver e mostram imagens da história americana – aquelas que eles preferiam que ninguém visse – ao som da deliciosa Young Americans de Bowie. Duvido alguém não ver esses créditos até o final…


Música: Space Oddity
Filme: A Vida Secreta de Walter Mitty (2012)

O personagem principal deste filme, interpretado por Ben Stiller, é um sujeito sonhador que se deixa levar pela imaginação. Na melhor cena do longa, ele vê a mulher que ama, vivida por Kristen Wiig, cantar Space Oddity de Bowie. Ao som dela, ele subitamente corre até um helicóptero e enfim decide embarcar na sua grande aventura. E como o Major Tom da música, sua vida nunca mais será a mesma.


Música: Starman
Filme: Perdido em Marte (2015)


No meio de Perdido em Marte de Ridley Scott há uma sequência ao som de Starman de Bowie, que mostra os preparativos de Mark Watney, o astronauta isolado no planeta vermelho, para a sua viagem de volta. Ao mesmo tempo vemos os esforços do pessoal aqui na Terra para ajudá-lo, um esforço que une vários países e põe de lado as diferenças entre eles em prol da humanidade. É uma sequência mágica e que traz um pouco de esperança para o espectador: com um objetivo em comum, as pessoas conseguem fazer qualquer coisa. E nunca uma canção sobre um Homem das Estrelas pareceu mais apropriada do que aqui.