Experiente produtor audiovisual no Amazonas, Marcos Tupinambá estreia na direção de curtas-metragens de ficção neste ano com “O Bagre, a Menina e o Rio”. Filme vai trazer elementos da mitologia amazônica dentro de um conflito de identidade de gênero envolvendo duas crianças nas palafitas do bairro Educandos, na Zona Sul de Manaus.

“O Bagre, a Menina e o Rio” traz a história de um menino chamado Pirarara e da garota Jennyffer. Ele vive com uma cabeça de um peixe, enquanto ela é uma menina que nasceu no corpo de um menino. Com mais semelhanças do que aparentam, juntos vão descobrir que, no rio sob suas casas, pode estar a esperança de uma vida melhor. “Acho que o grande desafio nesse roteiro foi trabalhar a história desses dois personagens de uma maneira que se complementassem em seus conflitos sem cair na armadilha de estilizá-los ou estereotipá-los”, afirma Marcos Tupinambá.

o labirinto do faunoA ideia para o curta veio de um dos contos escritos por Marcos Tupinambá. “O menino com cabeça de bagre veio de um desses textos em que escrevi sobre um homem com a cabeça de peixe e como a Morte se apaixona por ele na hora de buscá-lo, mas ele a esnoba e, mesmo assim, ela o deixa viver. Não tem muita explicação sobre quem é esse cara, de onde ele veio, mas a partir desse personagem comecei a imaginar uma história sobre como seria a infância de um garoto que nasceu com uma cabeça de peixe e as coisas começaram a fluir. Nos últimos anos tenho me interessado bastante sobre essa mistura entre fantasia e realidade, ou como alguns chamam, realismo fantástico”, afirma. Para o filme, o realizador amazonense disse que se inspirou no trabalho do escritor britânico Neil Gaiman (“Stardust” e “Coraline”) e em longas como “Indomável Sonhadora” e “O Labirinto do Fauno”.

Marcos Tupinambá considera que o projeto será desafiante por se tratar de uma temática delicada para conseguir atores adolescentes com idades entre 12 e 14 anos, além da questão técnica para fazer a cabeça do personagem Pirarara. “Estou tentando uma forma de produzir sem que fique artificial. Pode ser o caso de uma maquiagem protética ou CGI ou ainda uma mistura das duas, pois teremos cenas subaquáticas. Tenho conversado com alguns profissionais que trabalham com isso no cinema nacional em busca de uma solução e, claro, orçamento”, afirma.

Com trabalhos como a produção executiva e o roteiro de “Parente” e a produção de programas como “Costas do Brasil” e “Amazônia”, Marcos Tupinambá revela que a experiência de trabalhar em várias funções dentro do setor ao longo da carreira favorece a estreia como diretor em curtas-metragens. “Não chega a me assustar (a estreia) porque é algo planejado e estou conduzindo minha carreira para isso. De qualquer maneira, dá um friozinho na barriga, mas é isso que deixa tudo mais interessante. Será um bom desafio”, afirma.

Além de “O Bagre, a Menina e o Rio”, Marcos Tupinambá está dirigindo e roteirizando videoaulas e mini-documentários para um projeto da SEC do curso de Arte em plataforma de Ensino à Distância e a montagem do novo curta de Dheik Praia, chamado “Pranto Lunar”. E parceria com Aldemar Matias está prestes a ser retomada. “Estou pesquisando com ele um tema para um documentário que surgiu durante as filmagens de ‘Parente’. Acho que 2015 será um bom ano para a produção audiovisual amazonense”, afirma o realizador.